Nunca tivemos tanta liberdade de expressão e, ao mesmo tempo, nunca tivemos tantas “patrulhas” prontas – sempre! – a criticar, agredir, ofender e propagar interpretações distorcidas para acusar desafetos. Sou jornalista há mais de 40 anos. Passei por muitas mudanças e modismos que pautaram a maneira de julgar os outros. Confesso, todavia, meu desalento com os rumos da vida.
Diferenças de opinião aperfeiçoam a democracia, melhoram a vida, nos fazem crescer como seres humanos. Isso, no entanto, não é o que acontece. Pelo contrário. A judicialização do cotidiano permite reparar injustiças, mas transformou em rotina uma frase repetida à exaustão com imensos prejuízos morais:
– Não gostou? Ficou brabinho? Então entra na Justiça!
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Ofensas graves que comprometem a vida pregressa ou profissional de milhões de pessoas são jogadas nas redes sociais todos os dias. Os agredidos perdem tempo e dinheiro para repor a verdade. Quando isso acontece, passaram-se meses, anos, enquanto as vítimas sangram em público. A Justiça, abarrotada de processos e movida por legislações ultrapassadas, é incapaz de evitar as distorções típicas de uma sociedade doente, agressiva, que ignora a boa educação.
Diz-se que a internet não aumentou o número de idiotas, apenas os revelou ao mundo. O detalhe fundamental é que antes da onipresença da tecnologia as ofensas assacadas contras os inimigos se restringiam a fofocas disseminadas em encontros sociais ou, vez por outra, em entrevistas que serviam como prova para instruir os processos.
Hoje, em minutos, o mundo toma conhecimento de fake news sobre pretensos deslizes morais cometidos. São desmentidos anos depois. Escola de Base (São Paulo) e escândalos com o então ministro Alceni Guerra são exemplos notórios de uma época sem redes sociais. Mas programas como Fantástico ajudaram a turbinar graves acusações infundadas que sepultaram biografias e reputações. E o que aconteceu com os responsáveis? Indenizações financeiras compensam ser apontado na rua como corrupto, abusador de crianças ou ladrão do dinheiro público?
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O que vemos hoje em termos de comunicação é uma praxe que ignora a inteligência do público. Assistimos a notícias apuradas e que já vêm prontas, julgadas, quase sempre sem contraponto ou direito de defesa. São teses vendidas como informação para atender a interesses conhecidos. Alguns colegas de profissão investigam, julgam, dão o veredito e aplicam a pena que se constitui na execração pública nem sempre comprovada depois nos tribunais.
O entretenimento levou a notícia séria ao fundo do poço. Tudo vira piada, “meme” e manipulações tecnológicas que ofendem, machucam e jamais terão reparo. O excesso de tecnologia transformou o aspecto humano em mero detalhe retórico.
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