Já escrevi sobre as (poucas) vantagens de ficar velho. Aos 60 anos, me agarro vigorosamente às facilidades que a longa experiência proporciona. Confesso, porém, que tem sido fácil. Mas, afinal… enquanto houver vida há esperança.
Meus filhos costumam me chamar de chato, fama que rechaço com veemência:
– Por favor, me respeitem! Eu não sou chato. Eu sou muuuuito chato! – costumo dizer.
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Além de uma autocrítica é uma tentativa de conquistar a piedade dos meus herdeiros. Tarefa, confesso, na qual não tenho tido êxito. Mas… tenhamos paciência, esperança, perserverança!
Admito que sempre cultivei manias, reflexo – talvez sirva como desculpa! – pelo fato de morar muito tempo sozinho até casar. Nos últimos tempos, no entanto, reconheço que isso se agravou.
Há consequências positivas em alguns hábitos mais arraigados. Um deles é jamais deixar a cama desarrumada. Mesmo nas fugidias sestas que, mesmo na época de pandemia, nunca incorporei como hábito.
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Antes de dormir – sou o primeiro a acordar e o último a deitar – arrumo toda a sala. Eu disse toda mesmo, nos mínimos detalhes. Como acordo cedo, detesto ver bagunça no lugar de trabalho. Também lavo toda a louça que fica na pia.
Na sala ao lado do sofá, onde fico das 8 horas às 20 horas todos os dias, mantenho uma pequena mesa onde guardo o notebook, canetas, réguas, clipes, agenda, recortes de jornal, um livro de palavras cruzadas e um pequeno vaso com três botões de rosa. Também ficam organizados os controle remotos da TV, o radinho de pilha e duas bolachas de chope para não manchar a mesa. Afinal, depois da lida é saudável “bebemorar” à noite para relaxar.
O problema destas e de outras manias – como estender simetricamente as toalhas de banho no boxe do banheiro – é que com a idade isso vira obsessão. E se agrava porque não controla a exigência de esperar o mesmo comportamento e rigidez de hábitos dos familiares.
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Eles, obviamente, reclamam e esperneiam. Em represália, deixam tudo fora do lugar, muito bagunçado. Afinal, tem um “mala” que passa o dia reclamando, mas que organiza tudo, apesar das insistentes queixas. Isso, admito, tira a galera aqui de casa do sério. Por isso, muitas vezes, me ignoram. Nada pior para um chato do que ser ignorado, acreditem!
Conviver é um desafio desgastante, ainda mais em tempos de confinamento, convivência intensa e diária. Esta nova rotina exige generosidade para ouvir, sensibilidade para ponderar, grandeza de perdoar e paciência para rever conceitos.
A alquimia caseira inclui mudar vícios que incomodam nossos parceiros do dia a dia. Repito: não é fácil, mas é preciso fazer alguma coisa, sob pena de perdermos afetos. E paciência!
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