Os crimes de trânsito que abalaram a opinião pública no final de semana refletem o clima de beligerância observado em todos os segmentos do convívio humano. O assassinato de três pessoas da mesma família na Zona Sul de Porto Alegre é uma amostra da intolerância que transformou cada pessoa num robô pronto a reagir, muitas vezes de forma mortal, a tudo o que considera uma provocação.
As ruas estão cheias de maníacos que burlam exames psicotécnicos no momento de obter a carteira nacional de habilitação por meio do autocontrole. Eles sabem que precisam se conter para conquistar o documento que, a partir daí, se transforma em salvo-conduto para cometer todo o tipo de barbaridade.
Perseguir desafetos por quilômetros em busca de vingança é um comportamento que sequer pode ser comparado à postura de um animal, que é um ser irracional. Além de adotar uma atitude injustificável sob todos os aspectos, a violência no trânsito constitui péssimo exemplo para jovens e crianças, futuros condutores.
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Aulas de direção defensiva parecem inócuas ou inocentes para conter o grau de agressividade em cidades de todos os portes. Mesmo nas pequenas comunidades se constata a ocorrência de discussões que muitas vezes levam à agressão física. Chama a atenção que esta disposição por “vingança” é onipresente numa época onde a comunicação jamais operou tantos avanços.
Um contingente cada vez maior de seres humanos se mantém conectado nas 24 horas por dia, se apropriando de conteúdos alusivos a qualquer tema, em qualquer lugar do mundo. Ferramentas cada vez mais modernas e instantâneas surgem com a velocidade da luz, mas o mais importante – a capacidade de empregar tudo isso para comunicar – continua igual. Ou até piorou.
Neste contexto conturbado do mundo moderno é preciso ensinar nossas crianças a conversar, dialogar, trocar ideias, ouvir e ser tolerante, admitir erros, elogiar e ser humilde. O que se vê, em todos os ambientes públicos ou privados, é justamente o contrário. A cultura da ostentação, da arrogância e da imposição de ideias e de opiniões se sobrepuja ao bom senso. Os crimes de trânsito são reflexo da avalanche de impaciência. Pressa, egoísmo, arrogância e individualismo pontuam o cotidiano sem que nos demos conta disso.
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Fulminar três pessoas da mesma família por um raspão na lataria é a culminância da incapacidade de suportar contrariedades. Não faltarão argumentos para o defensor do infrator. A lei é branda, falha e repleta de recursos que premiam o criminoso. Exemplo maior deste absurdo é a tragédia da Boate Kiss. Pais, amigos e responsáveis das vítimas são torturados por chicanes jurídicas que entravam o curso normal da vida e as punições.