Como já escrevi neste espaço, considero equivocado comparar-se épocas diferentes, embora os valores básicos de comportamento não se alterem com o tempo. Uma das mudanças mais significativas diz respeito à demora dos jovens em deixar a casa paterna para alçar voo solo rumo à idade adulta.
Saí da pequena Arroio do Meio – à época com cerca de 5 mil habitantes – para encarar os desafios de Porto Alegre aos 17 anos. No começo, a mudança foi traumática. Afinal, eu deixava as mordomias de casa para trás – onde tinha comida, roupa lavada, carro, carinho e proteção – para enfrentar uma “cidade violenta”, como rezava a lenda que circulava à época no interior do Estado.
A adaptação foi lenta. A saudade fazia botar lágrimas com uma incrível frequência, quase sempre no final da noite, quando o burburinho do apartamento – uma “república” com oito jovens, todos arroio-meenses – cessava, as luzes se apagavam e as reminiscências caseiras ficavam latentes. No silêncio, a memória exibia cenas do cotidiano de minha infância.
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Já nos fins de semana, as lembranças ficavam ainda mais doloridas. Os churrascos dominicais, a reunião com parentes nos aniversários e as reuniões em família para devorar enormes melancias na época de verão deixaram marcas.
Aos poucos, porém, a vida na Capital engrenou. Novas amizades foram forjadas na faculdade, na vizinhança e entre colegas de trabalho. A liberdade de fazer o que quisesse na hora em que bem entendia foi mais forte que o apelo para retornar à casa paterna.
Mesmo diante do aceno da plena independência, a gurizada de hoje não abre mão do conforto do lar. Quase sempre usufruem do seu próprio espaço equipado com computador, tevê e até frigobar. Também dispõe de horários independentes, embora muitas vezes dependam financeiramente dos pais, o que compromete o conceito de independência.
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Em minha casa, vejo meus filhos – um casal de 21 e 23 anos – na quinta-feira à noite e somente no domingo volto a encontrá-los para o tradicional churrasco. O que enfatizo, sempre, com eles é a necessidade de me manter informado sobre seus horários e programações. Tenho tido êxito, mas cá entre nós – e que eles não me leiam: seria difícil chegar em casa no início da noite e não vê-los para falar das atividades do dia. Ao mesmo, tempo penso que uma aventura fora do âmbito familiar seria muito importante para o seu amadurecimento. Como em tudo, sempre há os dois lados.