Meu pai morreu com 52 anos e levou como frustração não ter visto seu filho mais velho ser advogado ou administrador de empresas. Desde cedo exibi pendores da minha facilidade em escrever. Isso me valeu a conquista de alguns “concursos de redação/composição”, como se dizia à época, com medalhas e diplomas.
A pressão para que os filhos sigam a profissão dos pais já não é mais a mesma de antigamente. Felizmente! Quando nasci, em 1960, era comum que a escolha da carreira fosse a extensão da vontade dos responsáveis. Hoje existe mais liberdade, até porque – é preciso reconhecer – o leque de opções é muito maior.
Entre os diversos papéis desempenhados pelos pais, um dos mais difíceis depois da infância e adolescência é mostrar aos filhos as agruras do mercado de trabalho. A experiência aponta alguns caminhos que, aliados à personalidade da gurizada, permitem uma antevisão da trajetória profissional.
Publicidade
Depois de alguns anos, meu pai conformou-se com a ideia de ver o filho jornalista. Antes disso, porém, travamos várias discussões. E confesso que até hoje nutro um sentimento de culpa de não levar adiante a empresa que ele ajudou a criar. Lembro com exatidão do dia em que o velho Giba soube da minha aprovação no vestibular de Jornalismo na Unisinos.
Estávamos na garagem da casa de praia, com uma mesa enorme cheia de pratos e talheres, vários familiares, clima de festa. Pouco antes de servir o churrasco, pedi silêncio. Bradando uma edição do listão de aprovados – única maneira de saber do resultado dos exames – mostrei meu nome devidamente sublinhado:
Meu pai não conteve o orgulho: – Um brinde ao primeiro advogado da família! – berrou.
Publicidade
Com resignação sussurrei que tinha sido aprovado para fazer Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, o que enfureceu o patriarca. – Se tu passar fome, não vem pedir comida aqui em casa! – completou.
O tempo passou, trabalhei em diversos veículos e me sinto realizado como jornalista. Anos depois da decepção de Tramandaí, o velho Giba continuou como empresário, até morrer. Curiosidade: paralelamente, ele era colunista do jornal O Alto Taquari, da nossa terra natal, Arroio do Meio, e fazia comentários políticos, principalmente em períodos eleitorais, na Rádio Independente, de Lajeado. Além disso, sempre me incentivou em minhas incursões de comunicador, dando palpites e elogios e criticando quando necessário.
Isso, de alguma maneira, aliviou minha consciência e serviu para que tivesse o cuidado de não interferir excessivamente na escolha dos meus filhos. Pelos desígnios do destino, um deles – o mais novo, com 21 anos – forma-se jornalista em dezembro. A outra, com 23 anos, enveredou pelo Direito. O desfecho desta história certamente deixará o avô paterno feliz no lugar onde ele estiver.
Publicidade