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ContraPonto

A maçã mais doce

Uma menininha segurava em suas mãos duas maçãs. Sua mãe entrou na sala e lhe pediu, com uma voz suave e um belo sorriso: “Querida, você poderia dar uma de suas maçãs para mamãe?”

A menina levanta os olhos para sua mãe durante alguns segundos e, subitamente, morde uma das maçãs. E, logo em seguida, morde a outra maçã. A mãe sente o próprio rosto se esfriar e perde o natural sorriso. Ela tenta não demonstrar sua decepção com a atitude da filha.

Mas, neste exato momento, sua filha lhe dá uma de suas maçãs mordidas. A criança olha para sua mãe com um sorriso angelical e diz, estendendo-lhe a fruta: “Entre as duas, mamãe, é essa é a maçã mais doce!”

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Moral da estória: retarde sempre o seu julgamento. Dê aos outros a chance de poder se explicar. Mesmo se a ação parece errada, às vezes, o motivo pode ser bom.

Vivemos tempos de intensa interação social e proliferação das opiniões acerca de todos os assuntos possíveis, notadamente realizados e observados através das redes sociais, a exemplo de Facebook, Twitter e Youtube, entre outros.

A acelerada massificação de equipamentos e consequentes intercomunicações precipitou algo que já sabíamos, ou melhor, supúnhamos como provável em nossas práticas sociais e níveis de educação e cultura.

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Qual seja: a abundância do desconhecimento, da ignorância, da mistificação, do desrespeito e até da falsificação, entre outras constatações negativas e pejorativas.

E não se trata apenas das opiniões e troca de acusações em torno do atual e lastimável estado da política nacional. E do sempre apaixonante futebol e a rivalidade clubística. Mas também nas questões mais simples do cotidiano, de comportamento, de moda, de celebridades, notícias e escândalos sociais.

Em qualquer área de atuação humana, objeto de noticiários e comentários, o bombardeio e a desqualificação de pessoas são a tônica, são a marca indigesta. Claro, a dita coragem opinativa – quando grosseira e injusta – mais parece covardia, eis que, na maioria das vezes, produto do anonimato digital.

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Porém, mesmo quando não anônimo o comentário, a regra comum é o prejulgamento negativo. Então, o que poderia ser uma precipitação revela-se, entretanto, como uma característica, quase um retrato sociocultural.

Os pessimistas acreditam que é o típico reflexo da condição humana: rasteira, invejosa e cruel. Os otimistas, porém, acreditam que esse comportamento negativo é um subproduto dos modernos meios de comunicação e que, logo ali adiante, os ânimos entrarão em sereno estado de equilíbrio.

Confesso minha dúvida sobre essa expectativa otimista, mas a verdade é que ninguém aguenta mais tanto prejulgamento.

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