As medidas impostas pelos governos estadual e municipal na tentativa de retardar e diluir os casos de Covid-19 trouxeram uma nova realidade para pais e alunos de todos os níveis educacionais, da pré-escola à pós graduação. Nova realidade essa que não tem prazo para acabar. E que, mesmo que acabe, talvez tenha mudado para sempre as relações pedagógicas através das novas tecnologias à distância.
O ensino à distância (EAD) não é novo em vários cenários. Na pós e na graduação, o uso de ferramentas digitais é bastante consagrado. Há até faculdades que trabalham exclusivamente EAD, principalmente para cursos que não exigem atividades práticas em seus currículos. Entre vantagens e desvantagens, parece haver um ganho que justifica sua existência. Talvez em breve não haverá mais a necessidade de professores em sala de aula para cursos teóricos. E, consequentemente, continuará havendo muitas demissões em universidades presenciais, como acontece aqui.
Como professor do curso de medicina, as atividades EAD ficavam como um complemento importante do ensino presencial. Com o fechamento presencial da universidade, para minimizar o prejuízo dos alunos e da instituição, essa ferramenta tornou-se o alicerce que sustenta o funcionamento da graduação médica. Até mesmo no Internato, do qual sou coordenador da saúde mental, que tem seu funcionamento prático presencial nos Caps de Santa Cruz do Sul e de Vera Cruz, utilizamos o EAD para minimizar a exposição dos doutorandos sem necessidade.
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A grande novidade do uso do EAD tem sido sua utilização na escola. Até então, não se havia tido experiências práticas nesse sentido. E, pela imposição imediata e precoce do fechamento das escolas, não houve tempo para uma capacitação adequada por parte de escola, professores, alunos e pais, como eu. Fomos todos atropelados por decreto.
Percebemos que muitas escolas ainda estão testando práticas pedagógicas para encontrar a melhor fórmula. Porém, o EAD nas escolas ainda esbarra no pouco acesso a computadores e impressoras nas casas dos alunos, principalmente nos mais carentes, e na internet de qualidade ruim, uma das líderes em reclamações no Procon. Ou seja, EAD na escola ainda é coisa de um futuro distante no Brasil.
Aqui em casa nossa experiência tem sido insatisfatória, compensada por disciplina, organização e participação mais ativa na escolarização das crianças. Antes, nos encarregávamos da educação. Hoje, temos de educar e escolarizar. E isso demanda tempo e energia além do que temos que ter para dar conta do dia a dia. Árdua tarefa.
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Como pais, percebemos que nossas filhas estão aparentemente aprendendo. Porém, como todo mamífero da espécie humana, a privação social é uma dor lancinante que gera consequências cerebrais muito terríveis para o desenvolvimento. Espero que o isolamento compense isso no futuro de nossos filhos.