O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, começou a se reunir com políticos e líderes mundiais, com os quais pretende cooperar durante seu governo. No último sábado, 12, ele esteve reunido, em sua casa em Nova York, com o político de extrema-direita e líder do partido britânico UKIP, Nigel Farage.
Para a portuguesa Mônica Ferro, professora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, a vitória de Trump pode alimentar ainda mais um crescente movimento de extrema-direita na Europa.
“São vários os países com partidos populistas demagógicos de direita no poder ou próximos da captura do poder. As próximas eleições na Holanda e na França serão momentos importantes para consolidar ou deter esta vaga da direita xenófoba”, afirma.
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O posicionamento político de Farage causou polêmica ao longo da discussão sobre o Brexit (referendo que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia), em meados deste ano. O político, eurocético e contrário à imigração, mantém estreita relação com Trump e se ofereceu para colaborar no fortalecimento das relações entre Estados Unidos e o Reino Unido.
No sábado, 12, após visita a Trump, Farage escreveu em seu perfil no Twitter que “foi uma grande honra passar tempo com @realDonaldTrump. Ele estava relaxado e cheio de boas ideias. Estou confiante de que ele será um bom presidente”.
Outra liderança de quem Trump vem recebendo apoio abertamente é da francesa Marine Le Pen. A líder da Frente Nacional francesa afirmou neste domingo, 13, em programa da rede inglesa BBC, que a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas aumenta suas chances de vitória nas eleições francesas de 2017.
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Le Pen, assim como Trump e Farage, defende políticas contra a imigração. “Claramente a vitória de Donald Trump é uma pedra adicional na construção de um mundo novo, destinado a substituir o antigo. Eu não acho que é racista dizer que não podemos absorver toda a pobreza do mundo. Nós não vamos receber mais pessoas. Chega!”
Segundo Mônica Ferro, é preocupante o fato de movimentos chamados “nacionalistas” trazerem colada a suas agendas a redução dos direitos de grupos vulneráveis como as minorias étnicas, religiosas ou mesmo os grupos LGTB. “Veja o impacto que a crise dos refugiados e as migrações estão [causando] na Alemanha ou que terão na França e na Holanda. E o peso que a narrativa anti-imigração teve na campanha eleitoral norte-americana. Isso tem que colocar toda a sociedade em alerta. A nós, cidadãos, mas também a quem nos governa e a quem nos conta como o mundo vai – a comunicação social.”
EUA e Portugal: relações fortes
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Mônica Ferro afirma, ainda, que a relação entre portugueses e norte-americanos é antiga e forte, já que Portugal foi um dos primeiros países a reconhecer a independência dos Estados Unidos. “Nossa relação está pontuada por episódios simbólicos como o fato de a Declaração de Independência ter sido celebrada com vinho da [Ilha da] Madeira. Somos ambos estados fundadores da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] e a presença militar norte-americana na Base das Lajes foi sempre um fato de grande proximidade”, disse.
Para a pesquisadora, a eleição de Trump causará efeitos colaterais caso signifique o fim do Acordo de Livre Comércio entre os Estados Unidos e a União Europeia. “Em tudo o mais, a percepção é de que os nossos imigrantes não serão afetados, pois Trump nunca levantou problemas em relação aos migrantes europeus. E [espera-se] que as empresas portuguesas não sejam prejudicadas por uma deriva isolacionista que possa vir a surgir”, afirmou.
“Politicamente, sempre houve muita solidariedades entre os países em torno dos valores de direitos humanos, igualdade de gênero e não discriminação e de empenho no multilateralismo, entre outros”, disse Mônica. “Mas há, sim, algum receio de que um recuo americano na defesa intransigente destes valores possa ter consequências políticas mais profundas”, finalizou.
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