O técnico de futebol Róger Machado foi condecorado, na sexta-feira, 20, com a Medalha do Mérito Farroupilha, maior honraria concedida pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. A iniciativa foi do deputado Valdeci Oliveira (PT) e contou com aprovação unânime da Mesa Diretora do Poder Legislativo estadual.
Natural de Porto Alegre, Róger foi por muitos anos lateral-esquerdo do Grêmio, clube pelo qual foi revelado e ganhou diversos títulos. Passou ainda por Fluminense e por clubes do Japão e dos Estados Unidos. A carreira de técnico também começou no Grêmio, em 2014. Desde lá, ele já comandou Atlético-MG, Palmeiras e, neste ano, o Bahia, no Campeonato Brasileiro.
Fora de campo, Róger tem se notabilizado na luta contra o racismo estrutural e por expor o preconceito em função da raça no futebol brasileiro.
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Ao justificar a homenagem, Valdeci disse que “não é só por causa do desempenho e das conquistas no meio esportivo, mas por fazer boa parte da sociedade brasileira refletir sobre o tamanho do racismo no Brasil e sobre o quanto estamos atrasados para nos livrar dessa mazela”.
O deputado afirmou ainda que a luta de Róger tem sido fundamental para desconstituir a “falácia de que não existe racismo no Brasil”. “Ele cutucou uma ferida que precisa ser cutucada todos os dias, mesmo que alguns não queiram ouvir”, ressaltou Valdeci.
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O técnico do Esporte Clube Bahia afirmou que sempre encarou o “futebol como um meio e nunca como um fim”. “Chutar a bola para dentro da rede é só uma parte. A outra, é a política como arte de dialogar”, resumiu.
Ele considera que, por nunca ter editado leis segregacionistas, como os Estados Unidos e a África do Sul, o Brasil dá a falsa impressão de que abriga uma democracia racial. “O Brasil fez pior: adotou um modelo que nos torna invisíveis. Um país construído com uma mão de obra escravizada, não pode ser considerada uma democracia. A democracia racial no Brasil é um mito. E o Brasil precisa parar de negar a existência do racismo se quiser, de fato, uma nação igualitária e democrática”, defendeu.
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O presidente da Assembleia, Luiz Augusto Lara (PT), encerrou a cerimônia, que aconteceu no Salão Júlio de Castilhos, lembrando que o evento propõe uma necessária reflexão para toda a sociedade. “Temos a satisfação de encerrar o ano legislativo, que foi duro e difícil, lançando essa reflexão que é urgente e necessária”, apontou. Lara enfatizou que a luta contra o racismo é antiga e que Róger, por sua trajetória, atualizou e conferiu uma nova abordagem à questão.
A homenagem foi prestigiada pelos familiares de Róger, representantes do Movimento Negro Unificado e do Movimento Democracia Gremista, políticos e pelo e ex-juiz de futebol Márcio Chagas.
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