Há poucos dias, comemoramos o Dia das Crianças. Num crescendo, nos últimos anos, a data lembra comprar presentes para os pequenos e para os pouco mais crescidinhos, também. As marcas de produtos para o público infantil investem mais em publicidade, as lojas oferecem promoções, eventos são feitos para atrair a garotada e muitos pais ou responsáveis não conseguem recusar os pedidos dos filhos. Mas, o Dia das Crianças não se esgota com os presentes e os negócios das lojas que, neste ano, tiveram um crescimento de quase 10%: a data sugere que se façam outras considerações.
Muitas pessoas de mais idade ou jovens há mais tempo lembram que, já entrando na adolescência, ainda acreditavam em Papai Noel e cegonha. Hoje, as crianças cada vez mais cedo não acreditam mais nessas estórias; em contrapartida, elas acham que para ter dinheiro basta chegar num terminal eletrônico, inserir um cartão magnético, digitar alguns números e, pronto! A máquina joga várias cédulas, às vezes ainda com jeito e cheirinho de novas.
Quem acha que seus filhos são muito pequenos para conversar sobre dinheiro, provavelmente está enganado. É que crianças e dinheiro é uma combinação cada vez mais precoce. Um belo dia, sem que os pais ou responsáveis se deem conta, a criança que mal consegue articular algumas palavras ou frases, mas que, por natureza, é curiosa e presta atenção em conversas e situações, entende que existe dinheiro, sabe quem o tem e que com ele pode comprar coisas coloridas, divertidas e gostosas. Está chegando a hora, então, de acordo com a maturidade da criança, a começar a falar sobre dinheiro com elas.
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O sonho de todos os pais,principalmente quando não nasceram em berço de ouro e tiveram que batalhar, desde jovens, para ter uma vida equilibrada ou até próspera, é que seus filhos não precisem passar por dificuldades financeiras quando forem adultos. Ao mesmo tempo, por estarem inseridas numa sociedade que privilegia o ter, em detrimento do ser, a preocupação também é evitar que se tornem consumistas. Na avaliação de Reinaldo Domingos, criador da DSOP Educação Financeira e presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), “a falta de paciência e o constante desejo por coisas novas são indícios de que as crianças e jovens podem estar se tornando consumistas e devem ser educados financeiramente. O ideal é que aprendam o quanto antes, a poupar para conquistar seus sonhos”.
Para desenvolver uma relação saudável com o dinheiro, desde cedo, e, assim, formar adultos protagonistas de suas vidas financeiras, os pais ou responsáveis devem observar alguns pontos, extraídos de recomendações de Reinaldo Domingos, citado anteriormente, e do site Como Investir:
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1º) ser exemplo: mesmo muito pequenas, as crianças observam como os pais ou responsáveis lidam com o dinheiro; se os pais e família não tem uma relação saudável com o dinheiro, discutindo frequentemente por causa dele, só passarão exemplos negativos aos filhos;
2º) ensinar no dia a dia: aproveitar as situações práticas para ensinar alguma coisa sobre o dinheiro; se a criança ou jovem pedir um brinquedo ou algum produto de moda que custam mais caro, mostrar que aquele item requer mais dinheiro do que um simples chocolate; dizer, simplesmente, que é muito caro pode encerrar o assunto para o adulto, mas para a criança ou jovem talvez não, por não entender o motivo da negação, criando um tabu com o dinheiro;
3º) adotar o cofrinho: o bom e velho cofrinho é uma ferramenta simples para explicar o valor das moedas, no qual se guarda um pouquinho a cada dia para juntar o dinheiro suficiente para comprar algo no futuro; interessante seria instituir cofrinhos de tamanhos e cores diferentes para cada sonho: de curto prazo (para realizar em até um mês); de médio prazo (até seis meses) e longo prazo (até um ano);
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4º) dar mesada (ou semanada): se a criança ou jovem pede dinheiro com frequência, é recomendado instituir a mesada ou semanada, quando a criança for de pouca idade (por volta de 3 anos), não tendo ainda noção de tempo; conforme orientação de especialistas, levando em conta a renda e condições financeiras da família, o valor deve ser estipulado de acordo com a faixa etária da criança: de 3 aos 5 anos, poderia ser de R$ 2 por semana; dos 6 aos 10 anos, R$ 1 por idade, por semana; dos 10 aos 13 anos, a quantia já seria entregue mensalmente e deve ser suficiente para os gastos com lanches na escola, cinema, jogos, brinquedos; a partir dos 13 anos, a mesada deve cobrir todos os gastos que os filhos ou enteados tem fora de casa, inclusive viagens com amigos e as baladas; é importante, também, que a mesada seja entregue no dia combinado;
5º) conversar sobre sonhos: toda a criança e jovem tem sonhos que quer realizar, os quais podem ser materiais ou não materiais; para os sonhos não materiais, conversar com eles, trocando ideias sobre cada um deles; já para os materiais, ajudar a elaborar um plano – um pequeno orçamento -, prevendo os gastos e o valor que vai guardar para realizar esses sonhos.
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Dos mais de 63 milhões de inadimplentes, no Brasil, certamente um grande número deles são pessoas jovens, que estão iniciando sua vida profissional. A inexperiência no trato com o dinheiro, os impulsos consumistas e as facilidades de obter crédito fazem com que esse número não pare de crescer. Para não chegar a essa situação, é preciso aprender educação financeira, desde criança. Algumas escolas até já ensinam algumas técnicas como saber fazer alguns cálculos, pesquisar preços, mas que são esquecidas, igual a trigonometria. É que falta trabalhar o comportamento das crianças e jovens com relação ao dinheiro: aprender a planejar para realizar sonhos e objetivos, saber quanto eles custam, quanto tempo levará para realizá-los e, principalmente, quanto dinheiro precisa e vai reservar mensalmente para a finalidade. Isso tudo já pode ser aprendido na infância, desde que alguém o ensine.