Muitos pacientes infectados pelo novo coronavírus, mesmo após se recuperarem da doença e estarem “saudáveis”, relatam uma série de sintomas de longa duração, como cansaço, dor de cabeça e queda de cabelo, por exemplo. Alguns sinais, como a perda dos fios em especial, podem se manifestar sem necessariamente ter atingido a pessoa nas primeiras semanas da doença.
Uma das formas mais frequentes de queda de cabelo acentuada é o eflúvio telógeno, que acomete todo o couro cabeludo. A tricologista Viviane Coutinho, membra-docente da Academia Brasileira de Tricologia (ABT), revela que cerca de 50% dos pacientes que recebe em seu consultório, situado no Rio de Janeiro (RJ), procuram tratamentos para queda capilar devido à Covid-19.
Ela explica como os eflúvios alteram o ciclo de vida dos fios. “Em geral, o ciclo de vida dos fios de cabelo é dividido em três fases. Na primeira, chamada de anágena, o fio cresce quase 1 cm por mês ao longo de três anos. Em seguida, passa de duas a três semanas na fase catágena, quando para de crescer. A terceira e última é a telógena, que dura de três a quatro meses. É nela que o cabelo cai ao ser expulso pelo novo fio que está sendo formado no mesmo folículo piloso – a raiz do fio.”
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O problema é que esse ciclo pode sofrer mudanças a partir de problemas de saúde, dando origem ao eflúvio telógeno. Ele antecipa o fim da vida do cabelo, pois uma proporção muito maior de fios muda da fase de crescimento para a fase de queda. ” A queda de fios varia a cada pessoa, mas geralmente ela perde de 30 a 150. Porém, em condições como o eflúvio telógeno, essa queda pode chegar a 300 fios. Essa perda mais volumosa causa uma diminuição no volume de cabelo na cabeça como um todo”, pontua.
“Em geral, pacientes com perda de cabelo relatam que os fios começam a cair em volume bem maior do que o normal em torno de 1 a 3 meses depois da infecção, justamente quando o eflúvio telógeno costuma ocorrer. Pode ser sim um processo traumático, mas a tendência, na maioria dos casos, é de que haja recuperação depois de alguns meses, especialmente com a melhora da saúde do paciente em outros quesitos”, indica Viviane.
“É comum ocorrer uma queda de cabelo acentuada depois de doenças infecciosas mais graves, como dengue, chikungunya e zika”, afirma. “O que as pesquisas científicas mais recentes apontam é que o coronavírus possivelmente faz parte desse grupo de doenças que estão ligadas à queda.”
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Um fator que essas doenças têm em comum é a febre que provocam no organismo, uma vez que as altas temperaturas podem levar à queda capilar. “Na Covid, a própria infecção e a redução do oxigênio nos pacientes que têm dificuldade respiratória reduz a oxigenação do folículo capilar e podem justificar essa alteração”, informa a tricologista.
Outro tipo de queda capilar relacionado ao coronavírus é a alopecia areata. Ela resulta em quedas localizadas, diferentemente dos eflúvios, que atingem o couro cabeludo por igual. Assim, podem ser observadas em placas redondas ou ovais na cabeça. “A alopecia areata é uma agressão de linfócitos que saem do sangue e vão para a pele. Há algumas publicações que abordam a ligação entre essa queda de cabelo e o coronavírus, mas as causas ainda não estão muito evidentes, já que existem pacientes com predisposição genética ou doenças autoimunes, por exemplo”, pontua.
Essa condição pode durar de dois a três anos, mesmo sem Covid-19. Portanto, ainda é cedo para determinar quanto tempo as pessoas serão afetadas por esse problema.
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Porém, já é possível pensar em tratamentos capilares, que ajudam muito o tempo desse quadro, além de acelerar o estímulo da reposição dos fios novos. Viviane descreve como funciona: “O tratamento consiste em cessar o processo inflamatório, estimular os fios perdidos e diminuir esse processo de queda. No processo, usamos recursos anti-inflamatórios não só no local da queda, como também de maneira sistêmica, aumentando a circulação e oxigenação”, acrescenta.
“Na terapia capilar, ainda desenvolvemos um tratamento específico para relaxamento, diminuindo processos de estresse, que também estão ligados aos fenômenos de eflúvio e alopecia”, completa.
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