Semana passada, o IBGE divulgou pesquisas relacionadas ao mercado de trabalho. Chama atenção a informação de que 22,6 milhões de brasileiros em idade produtiva estariam desempregados.
Trata-se de uma pesquisa inédita eis que dá números à subocupação e à inatividade, ou seja, identifica o número de pessoas que gostariam de trabalhar. Mais precisamente, desempregados (11,6 milhões), subocupados (4,8 milhões) e não ativos (6,2 milhões com força potencial de trabalho).
Esses números contradizem completamente as recorrentes informações divulgadas nos últimos anos pela retórica governista. Ou alguém acredita que esses negativos e estratosféricos números surgiram da noite para o dia, em menos de dois ou três anos?
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Informar, divulgar e esclarecer, entre outras iniciativas oficiais, é essencial. Mas, infelizmente, governos mentem. Alguns mentem mais que outros. Nada de novo: é inerente a sua natureza.
Afinal, utilizam variados artifícios para propagar seus feitos. Em geral, meias verdades. Manipulação estatística. Propaganda. Turbinam “façanhas” governamentais e “colorem” o imaginário popular, sempre carente de rótulos e estratificações. Antes dos atuais números virem à tona – recessão econômica, desemprego massivo e deficit público –, lembra o discurso dominante e a euforia? Desemprego quase zero e ascensão social de milhões de pessoas à classe média, diziam. Ora, ora, por favor, classe média alta de mil reais de renda mensal (definição da então Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência)?
Classe média é uma designação e conceito que vai muito além de faixas específicas de renda e abrange relações sociais, grau de escolaridade, qualificação profissional, entre outros.
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A propaganda oficial mascara a verdade, que, porém, ressurge ainda que dolorosa. O desemprego atinge níveis recordes. A falta de trabalho, emprego e renda afeta a dignidade do sujeito e fragiliza sua cidadania.
Mais grave: esses números negativos têm conexão com os números relativos aos jovens. Aproximadamente 30 milhões têm entre 15 e 24 anos, e 17 milhões não estudam. Quatro milhões de jovens vivem em famílias com baixíssima renda per capita. Metade dos desempregados e desocupados brasileiros são esses jovens.
Na obra Édipo-Rei, de Sófocles (496-405 a.C.), desafiado a salvar Tebas e enfrentar a esfinge, Édipo pede ajuda ao adivinho Tirésias, que, apesar de cego, enxergava a verdade. Tirésias diz a Édipo: “Os dois olhos que tens pouco adiantam, pois não vês a miséria que te cerca; teus olhos, que pensas ver claro, contêm uma treva irreversível”.
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