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História & Cotidiano

Não há inocentes

Ninguém gosta de traidores. Temer é um traidor. Traiu Dilma Rousseff. Traiu o PT e milhões de eleitores que votaram em Dilma. Temer aceitou fazer parte de um governo com determinado projeto, traiu esse projeto depois do golpe. Traição é o que se sobressai neste imbróglio. O PT traiu Dilma Rousseff. O isolamento e a inexistente capacidade de resistência ao golpe por parte de Dilma são o resultado do abandono político. Feitas as contas, já não vale a pena gastar energia com Dilma. O PT traiu suas bases ao colocar em movimento uma política pragmática irresponsável. Traiu seus militantes históricos ao se tornar igual aos partidos que sempre combateu. A maior traição foi, justamente, se igualar aos partidos que hoje orquestram o golpe. O PT sabia quem era Temer, todo mundo na esfera política conhecia Temer, assim como conhecia outro gângster querido dos golpistas, Eduardo Cunha. O PT conhecia bem a família Sarney, com quem se aliou. Conhecia bem Renan Calheiros, que apoiou para a presidência do Senado. Não há como abraçar Paulo Maluf e sair incólume. Não há inocentes neste jogo. 

A derrocada de Dilma já estava escrita nos “caóticos” movimentos de junho de 2013, era preciso ter melhor clareza sobre o que se desenhava nas ruas naquela época. Não é possível não ouvir as ruas numa democracia, não é possível para um partido de “esquerda” como o PT simplesmente ignorar as ruas, se afastar dos movimentos sociais, dar de ombros às outras vozes que são e devem ser necessárias numa democracia. Dilma paga o preço de certa soberba e incapacidade de comunicação. Para piorar, Dilma não pode nem contar com carisma pessoal, ela jamais foi uma candidata carismática, como Lula, seu antecessor. Carisma, já ensinava Max Weber, não se transfere. O “Lulismo” é intransferível. Já está na hora de o PT ssumir a sua responsabilidade neste processo golpista em que o País está imerso. Um partido que se constitui num discurso moral caminha sempre sobre ovos. Jamais o PT poderia ter imaginado que podia agir como os demais partidos. Para o moralista, basta surrupiar uma galinha para que a casa caia. 

Hoje o País vive o clima do fascismo, com uma classe média antidemocrática que não se incomoda com a corrupção da turma de Temer. Sobram manifestações extremo-direitistas de toda ordem. Homofobia, racismo, misoginia e anti-intelectualismo são propalados sem constrangimentos. Temos uma Justiça nada confiável, um Congresso desacreditado, um presidente interino citado em delações e acobertador de “investigados” por corrupção, um governo que vilipendia direitos e atenta contra trabalhadores, aposentados e estudantes. O País está entregue a uma plutocracia imoral. Uma plutocracia que conta com o afago da grande mídia e volta a assaltar o Estado que, vale dizer, deve ser mínimo para a população e obeso para a distribuição de privilégios. Temer é o fantoche do golpe. Também é descartável. Que o digam
Cunha e Gilmar Mendes. 

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