Ainda no rastro do boom de filmes de super-heróis, a Netflix estreou nessa sexta uma nova série do gênero, Umbrella Academy, baseada nos quadrinhos escritos pelo músico americano Gerard Way, da banda My Chemical Romance, e com ilustrações do brasileiro Gabriel Bá. Na história, uma família de irmãos com superpoderes se reúne após a morte do pai adotivo.
Na verdade, o ponto de partida da história é 1989, quando, estranhamente, 43 crianças nascem simultaneamente em diferentes lugares do mundo, filhos de mulheres que, até o dia anterior, não estavam grávidas. Sabendo que as crianças têm superpoderes, um homem muito rico adota sete delas e começa a treiná-las para combater o crime. Já crescidos, cada irmão segue seu próprio caminho e eles só voltam a se reunir com a morte do pai.
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Durante a Comic Con Experience, em São Paulo, Umbrella Academy foi apresentada ao público brasileiro pela primeira vez. Além de Way e Bá, que também são produtores executivos da série, os atores Tom Hopper, Emmy Raver-Lampman, David Castaneda e Ellen Page estiveram no País para falar sobre a produção.
Os atores afirmaram que, apesar da origem sobrenatural, que deve ser explicada com o decorrer da história, o diferencial da produção é que ela fala de heróis com problemas muito humanos. “Eles foram muito reprimidos na infância, e acho que muito da jornada é sobre como isso se manifestou em suas vidas adultas e como eles lidam com isso agora”, analisa Ellen Page, que vive na série a personagem Vania, a única dos sete adotados que não manifestou um poder especial.
À medida que treinavam para combater o crime, os sete passaram por uma infância traumática e abusiva. Eram forçados pelo pai a desenvolver suas habilidades com métodos de treino bem questionáveis. Geralmente, eram colocados uns contra os outros para exercitar a competitividade. Segundo Emmy Raver-Lampman, sua personagem, Allison, só percebe o trauma quando se torna mãe. “Ela começa a pensar, ‘eu nunca faria isso com a minha filha’.”
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De todos, a personagem de Page é a mais traumatizada. “Quando criança, ela queria ser parte disso e foi isolada pela família. Obviamente, é uma infância abusiva e não preciso dizer que ela teve vários problemas por causa disso”, acredita. “Imagina ouvir a vida inteira que não é especial, quando todos os seus irmãos são famosos por isso.”
Ao crescer, todos se distanciaram, o que acabou causando um outro problema em suas vidas adultas: nenhum deles consegue se encaixar no mundo real. “Todos enfrentam isso. Passaram 17 anos tentando se relacionar com pessoas sem poderes, numa vida normal, mas não conseguem se adaptar ao mundo real”, afirma Hopper, que vive o filho número 1 da família, Luther, uma espécie de líder entre os irmãos.
Para Gerard Way, porém, o pai dos heróis não é exatamente um vilão. “Sei que ele é abusivo, fez os filhos passarem por momentos difíceis, mas nunca o vi como um vilão, e sim alguém que estava fazendo algo para um bem maior, mas que, infelizmente, causou um mal para as crianças”, acredita. “E nós descobrimos sobre ele à medida que a história avança, entendemos por que ele tomou suas decisões.”
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Na opinião de Way, são essas discussões que humanizam os personagens. “Foi algo que pudemos explorar profundamente, as noções de certo e errado, o fato de nem tudo ser preto ou branco, ter uma grande área cinzenta no meio”, analisa. “As pessoas não são totalmente boas ou totalmente ruins.”
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Novo desafio
Tanto para o músico Gerard Way quanto para Gabriel Bá, trabalhar como produtores executivos da série foi um desafio inédito em suas vidas. “É estranho ver uma criação sua passando por tantas etapas no caminho. Desde a escrita do Gerard aos meus desenhos e agora roteiros, figurinos, decoração do set, filmagens”, conta Bá.
Apesar de ter escrito apenas pensando nos quadrinhos, Way ficou feliz com a adaptação para a TV. Inicialmente, a dupla tentou vender o projeto para os estúdios como um filme. Desde então, foram cerca de dez anos até surgir uma reunião com a Netflix, que gostou da ideia e acelerou o processo de produção da série.
Para esse formato, algumas mudanças foram feitas na história. Para Way, a melhor de todas foi a escolha de um elenco diferente. “Foi uma ótima mudança, ficou mais realista”, diz o músico. “Os personagens ficaram mais profundos.”
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Segundo ele, o que mais importa nas histórias em quadrinhos é a representatividade. “Na adolescência, eu era muito sozinho, então os quadrinhos foram muito importantes para mim”, revela Way, que começou a pensar em escrever histórias como uma espécie de retribuição às novas gerações. “Acho que a maior parte do nosso público é de pessoas que procuram as histórias em quadrinhos para se sentirem melhor sobre a vida”, filosofa o autor, que diz receber “toneladas” de mensagens de fãs compartilhando suas histórias.