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Cláudia Ahimsa: uma poeta entre nós

As festas de final de ano costumam trazer muitos visitantes a Santa Cruz do Sul, os quais vêm para rever familiares ou amigos, além dos turistas, atraídos por eventos e pela agenda cultural. E a cidade acaba por surpreender (muito positivamente) os que chegam à região. Foi o que aconteceu com a poeta Cláudia Ahimsa, porto-alegrense radicada no Rio de Janeiro e que foi a companheira do célebre poeta maranhense Ferreira Gullar por 22 anos, desde 1994 até o falecimento dele em 4 de dezembro de 2016. 

Cláudia chegou à cidade no dia 11 de dezembro para o aniversário de uma grande amiga, a psicóloga Silvana Schwertz, no dia 12. No dia 13 voltou ao Rio, mas ficou de tal forma encantada com a ambientação local que decidiu retornar no dia 23 a fim de passar o Natal por aqui. E estendeu sua permanência até esta sexta, quando viaja, na companhia de Silvana, para passar a virada de ano em Cambará do Sul, retornando ao Rio no início do novo ano.

Gullar conheceu Cláudia Ahimsa na Alemanha, em 1994. Em visita à Feira do Livro de Frankfurt daquele ano, encontrou a poeta, 34 anos mais jovem do que ele, e imediatamente se apaixonou. Desde então, conviveram intensamente, numa parceria que se estendeu à produção literária. Foi um encontro entre dois grandes poetas, pois Cláudia foi firmando cada vez mais sua voz autoral na literatura brasileira, em especial a partir dos anos 90. Allegro melancólico e A vida agarrada são duas de suas obras mais conhecidas.

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Após o falecimento de Gullar, em 2016, Cláudia fechou-se em luto por um ano, e a vinda a Santa Cruz acaba por marcar uma retomada de sua vida social, como mencionou ao Mix. Na cidade, frequentou livrarias, como a Iluminura, que elogiou, e restaurantes. Nessa quinta-feira, durante almoço no Quiosque da Praça, na companhia de Silvana, ela conversou com o Mix, quando enfatizou o quanto gostou do ritmo de vida de Santa Cruz, a ponto de ter decidido retornar a fim de passar o Natal por aqui.

Curiosamente, Silvana e Cláudia também se conheceram na Alemanha, em 1989 (“no contexto da queda do Muro de Berlim”, lembra Ahimsa). Silvana voltou ao Brasil em 1991 e se fixou profissionalmente em Santa Cruz desde 1994. Ainda que a distância, os laços de amizade mantiveram-se fortes. Quando Ahimsa retornou ao Brasil, fixou-se no Rio, na companhia de Gullar, e as amigas sempre permaneceram em contato. 

Na retomada de uma rotina de interação cultural, Cláudia planeja para breve voltar a publicar poesia, uma vez que está com inéditos já organizados. E em sua agenda, a partir de agora, Santa Cruz do Sul tende a ser um roteiro sempre considerado, para rever a amiga Silvana e para momentos de descanso.

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Nova Canção do Exílio*

Minha amada tem palmeiras
Onde cantam passarinhos
e as aves que ali gorjeiam
em seus seios fazem ninhos
Ao brincarmos sós à noite
nem me dou conta de mim:
seu corpo branco na noite
luze mais do que o jasmim
Minha amada tem palmeiras
tem regatos tem cascata
e as aves que ali gorjeiam
são como flautas de prata
Não permita Deus que eu viva
perdido noutros caminhos
sem gozar das alegrias
que se escondem em seus carinhos
sem me perder nas palmeiras
onde cantam os passarinhos

* Poema que Ferreira Gullar fez para Cláudia Ahimsa, em paródia à Canção do exílio, de Gonçalves Dias.

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