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Far From Alaska se destaca com rock pesado e letras em inglês

Era a voz de Whitney Houston que saía das gigantescas caixas de som. A música, I Will Always Love You, o hit supremo registrado originalmente para a trilha sonora de O Guarda-Costas, filme estrelado pela cantora norte-americana e Kevin Costner.

Apreensivos, Emmily Barreto e Edu Filgueira, vocalista e o baixista da banda Far From Alaska, de Natal (Rio Grande do Norte), esperavam. Olhavam um para o outro. Temiam pelo pior ao ouvirem a canção pop ser jorrada para os ouvidos dos fãs tão acostumados ao peso e à crueza do rock produzido pelo grupo. O público que se avolumava em frente a um dos palcos montados para o Festival CoMA, em Brasília, curtiu a brincadeira. Emmily e Filgueira sorriram satisfeitos ao descobrirem estar errados – a decisão de tocar a canção pop na introdução do primeiro show do grupo dois dias após o lançamento do segundo disco deles, Unlikely, disponível desde a última sexta-feira, 4, foi democrática. A maioria ganhou. “Na hora que aconteceu, achamos bem massa”, relembra a vocalista. “Pensamos: que ótimo termos sido vencidos nessa.” 

A manobra foi capaz de conectar Whitney com Rhino, uma das músicas da nova safra e a primeira escolhida para o repertório da apresentação daquela noite de domingo, 6, na capital do País. Na música, o verso de “I will always love you” é repetido pela cantora apenas um ano mais velha do que a própria canção original em falsete, com ecos industriais, como se, no desespero, Emmily cantasse dentro de uma galpão de paredes e teto metálicos. 

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Tudo dentro do Far From Alaska é democrático. “É, somos meio brigões”, concorda Cris Botarelli, a responsável por grande parte das melodias das músicas da banda e, nos palcos, se reveza entre a steel guitar, o sintetizador e os vocais também. “Mas é algo de irmão. Brigamos por um monte de besteira”, avalia ela. 

Unlikely é “improvável”, como seu título diz, até na sua gestação. Com um mês de estúdio em Ashland (Oregon, Estados Unidos) já marcado, a banda fez uma reunião. “E dissemos: ‘Vamos tentar não brigar?’”, lembra Cris, aos risos. “E de repente, tudo pareceu funcionar como um filme de Sessão da Tarde”, conta.

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Por um mês, os cinco integrantes do FFA – formado por Emmily, Filgueira, Cris, Rafael Brasil (guitarra) e Lauro Kirsch (bateria) – viveram nesse microcosmos “good vibes” no qual todos os integrantes tomavam café da manhã juntos em uma casa que alugaram e caminhavam até o estúdio da produtora Sylvia Massy (cujo currículo inclui trabalhos com Red Hot Chili Peppers, Johnny Cash e System of a Down). 

A verdade é que o Far From Alaska vem vencendo improbabilidades em sequência desde a formação do grupo, em 2012, quando a banda nasceu como um projeto paralelo de todos os integrantes para participar de uma seletiva que renderia vaga no festival Planeta Terra, evento paulistano realizado entre 2007 e 2013. O teste é considerado pelos integrantes como a primeira apresentação deles A segunda aconteceu com o grupo já vitorioso, no palco do festival indie que, naquele ano, também trouxe Kings of Leon, Garbage, Suede, Best Coast e Mallu Magalhães. 

O FFA fez sua trajetória derrubando preceitos e preconceitos. É sim (e ainda bem) uma banda de rock com duas mulheres nos vocais – e Emmily é uma das melhores vozes a surgir no gênero em anos. O álbum de estreia, modeHuman (2014), colocou nas listas de melhores discos do ano uma banda com som de guitarras pesadíssimas e letras em inglês, outro feito que afasta a ideia de que “no Brasil, as bandas precisam soar leves e cantar em português ou nada feito”. Hoje, está entre os mais interessantes grupos do País: é difícil encontrar, por aqui, uma banda capaz de produzir peso e leveza, guitarras distorcidas e dançantes, tudo em uma mesma performance de uma hora de duração. 

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Unlikely é um passo adiante no que havia sido mostrado em modeHuman. Emmily conta ao Estado que se testou mais como cantora no novo trabalho. Há mais espaço para voz – e há até “canções”, no sentido mais puro da palavra, como Pig, a quarta do disco, e Elephant, a seguinte. É como se o primeiro trabalho fosse um texto bem escrito, porém pouco acentuado. Unlikely tem pontos e vírgulas. Respiros são bem-vindos. “Era uma das minhas principais preocupações”, discorre Cris, “porque eu considerava que o nosso primeiro álbum não era muito bom de se cantar junto porque as melodias eram muito complexas. Às vezes, era difícil de acompanhar”. 

Ela, que é quem costuma ser responsável pelas melodias que estão nos embriões das canções, explica um desejo de fazer com que as novas músicas pudessem ser tocadas em uma roda de violão entre amigos, na praia. “E tem um lance de dançar: eu e Emmily gostamos muito disso. Agora, vamos bater cabeça e rebolar”, diverte-se. 

O novo álbum nasce do frescor de uma turma que beira os 30 anos de idade (Emmily é a mais nova, com 26) e não se liga em convenções e cabrestos de gênero. Surgidos em Natal com a ambição máxima de tocar nas cidades dos arredores, ano a ano, eles crescem. Em 2015, já estavam no Lollapalooza Brasil e recebendo elogios da crítica que, surpresa, ainda não os conhecia. Neste ano, tocaram no Download Festival, em Paris, e foram chamados de “incandescentes” pelo jornal local Le Figaro.

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E, ainda assim, diante do público do festival em Brasília, o primeiro do novo álbum, Cris lembra do nervosismo sentido antes de subir ao palco. “Estava quase passando mal”, ela conta. “E nunca fico nervosa assim. No Download estava tranquila.” E então veio a voz de Whitney Houston, a calma e a catarse do show. Tudo improvável, não impossível.

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