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Música

Com o disco ‘Ti Amo’, Phoenix quer dar valor às coisas simples

O Phoenix estava cinco minutos atrasado para subir ao palco principal do Lollapalooza 2014, em São Paulo. Seu vocalista, Thomas Mars, ainda nos bastidores, cumprimentava Julian Casablancas, do Strokes, que naquele festival trouxe a sua banda esquisita The Voidz para uma apresentação mais esquisita ainda. “Venha comigo”, dizia Mars, com aquele inglês com pitadas de francês, com a mão estendida para o amigo. Queria propor uma surpresa para os fãs que lotavam aquele espaço em frente ao palco. Casablancas negou. “Aproveite o seu momento”, dizia, com uma bola debaixo do braço direito, colete jeans e uma camiseta da seleção argentina de futebol. “Estaremos aqui do lado, assistindo”, completou o vocalista da banda de Nova York. 

Mars assentiu, virou-se para a banda e deu ao público uma das principais e melhores apresentações daquele festival que tinha Muse, Arcade Fire, Lorde, entre tantos outros. Pulou no público, nadou na mão dos fãs, escalou as estruturas laterais do palco. Casablancas e o restante da trupe do Voidz dançaram na escuridão do palco, à esquerda, enquanto uma massa que se espalhava em frente ao Phoenix no espaço mais nobre do Autódromo de Interlagos pulava ao som das músicas do então novo disco, o dançante Bankrupt!. Queridinho dos festivais naquele ano, o Phoenix encabeçou vários deles no verão europeu. Mesmo no ápice, Mars não se importava em dividir os holofotes com o amigo de outra banda. 

Algo parece certo para o Phoenix a esse ponto, no momento em que eles voltam com um sexto disco, três anos depois. Mars (voz), Deck d’Arcy (baixo e teclados), Laurent Brancowitz e Christian Mazzalai (ambos guitarristas) querem é se divertir com o que fazem. O holofote parece ser só uma consequência de uma trupe surgida numa pacata demais Versailles, na França, influenciados por duos eletrônicos franceses como Air e Daft Punk, no fim dos anos 1990. Três anos depois, eles voltam. Mais dançantes. Mais despreocupados. 

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Ti Amo é o sexto trabalho da trupe, o mais festivo até aqui, disparadamente. É com ele que o grupo volta a São Paulo, como principal atração do Popload Festival, o mesmo responsável por trazer Wilco e Libertines no ano passado. Tarde e noite do dia 15 de novembro, no Memorial da América Latina, Phoenix dividirá a atenção com apresentações da incrível PJ Harvey, da delicada banda Daughter, do experimental Neon Indian e da competente banda goiana Carne Doce.

De Nova York, ao telefone, Mars se mostra animado com a possibilidade de voltar ao Brasil. Nas suas palavras, surgem só elogios às vindas do grupo ao País, que incluem passagens em 2007, 2010 (no ótimo e extinto Planeta Terra) e no já citado Lollapalooza. Na apresentação de sete anos atrás, a principal atração da noite era o Smashing Pumpkins. Depois do show de Mars e companhia, contudo, o rock melancólico de Billy Corgan soou como birra de criança esfomeada. 

O Phoenix veio em uma ascendente até o quarto álbum, Wolfgang Amadeus Phoenix, em 2009. Dele, vieram os hits 1901 e Lisztomania, canções que apresentaram a banda ao circuito mainstream norte-americano, e os shows para multidões. Depois disso, o quarteto que excursiona com mais um baterista e um percussionista/tecladista parece ter parado de se preocupar com o que dirão a respeito dos trabalhos deles. Bankrupt! já era bastante fora da caixinha do indie rock que o Phoenix havia sido inserido. Ti Amo, que chegou há pouco, é uma deliciosa viagem pelo sul da Itália no verão. 

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Descaradamente, eles se apoiaram no soft pop do país. Soa como um quarteto que não tem medo de escancarar o sorriso e ser feliz, mesmo gravado em um dos tempos mais sombrios do século 21, em uma França em chamas, abalada com um levante ultranacionalista e amedrontada por terroristas. “Estávamos em Paris gravando, quando tantos desses ataques ocorreram”, relembra Mars. “Eram dias muito sombrios, mesmo. Percebemos que estávamos procurando fazer algo que fosse o oposto àquele tempo, algo com gratidão e simplicidade. Nosso disco surge disso, dessa nostalgia, sobre um passado mais simples. Em tempos tão escuros, queríamos segurar uma lanterna e trazer alguma luz.” 

Ti Amo é um disco que dividiu a crítica. Os mais ferrenhos não entenderam a proposta leve que a banda mostra em músicas como J-Boy, Ti Amo, Fior Di Latte e Via Veneto, pérolas bastante pop, cheias de good vibes e ideais para domingos de sol. “São as canções mais diretas que já fizemos. As mais puras, as mais inocentes também. Sempre gostamos do estranho, do esquisito, e elas ainda mantêm isso”, garante Mars.

“Mas preciso falar a verdade: depois desses 18 anos com o Phoenix, entendemos uma coisa”, diz o vocalista. “Música, para mim, não é um trabalho. Estar em turnê, em estúdio, tudo isso é uma grande diversão.” 

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