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Gás

Tem comida boa no céu

1

Foi o Pedro (Thessing) quem me avisou, com todo o cuidado: “Perdemos a Gilda. A Gilda viajou”.

E se eu já não estava me sentindo mesmo muito bem naquele domingo pela manhã, a notícia colaborou para eu ir ainda mais fundo no poço do desânimo, no lodaçal dos maus acontecimentos – embora houvesse sol lá fora, a gata brincando no telhado, grana na conta e uma comida boa e farta, no fogão, sendo preparada para dali um pouco ir para a mesa, junto com a família. 

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Comida boa e farta, bem ao gosto de Dona Gilda. E com a família, que é como ela também gostava de estar.

Mas, sei lá, alguma coisa gritava no forro da minha jaqueta dizendo que aquele não seria um domingo bom (ao contrário de tantos outros domingos que já nem sei) muito especialmente por força da pata pesada de uma maldita gripe que se instalou em mim e veio para ficar, ao que parece, em caráter definitivo. Sei lá, mas o dia em que eu ficar bom, por inteiro, acho que até vou estranhar…

Dona Gilda certamente teria uma receita contra esse mal.

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Mil e um alfinetes voltaram a conviver com a minha garganta e o corpo dói como se uma patrola fizesse ali a sua morada. Buscando lograr certa leveza ao dia, fiquei pensando nessa minha querida amiga que viajou – e que tantos momentos bons e apetitosos (!) proporcionou, para mim, meus colegas, e para tantas e tantas outras pessoas. 

Levava a técnica e a sensibilidade no traquejo com as coisas da cozinha, e sabia passar isso muito bem, como uma verdadeira mestre-cuca, aos seus discípulos encantados. E esfomeados.
A Gilda era uma unanimidade, no cardápio das queridices e da simpatia, sempre disposta a colocar uma concha de água a mais no feijão, para que mais gentes pudessem usufruir de sua companhia. 

E foi ela quem me ensinou a comer couve-flor: “Uma iguaria como esta, que tem flor até no nome, é comida de poetas”, convenceu-me ela, num fim de tarde tranquilo na beira do Jacuí, no Porto das Mesas, onde Gilda teve, por muito tempo, seu porto de preferência.
Aliás, para alguém como Dona Gilda, o porto só poderia ser “Das Mesas”. 

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Seu Paulo Rauber pode agora fazer o pirão com tranquilidade, pois ela está lá com ele, no céu, e o restante do jantar já está garantido. 

Bem garantido! E dos Deuses!

Meu afetuoso abraço para a Márcia, ao Marcos e ao Rafael.

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2

Imagino se houvesse eleição para decidir quem-vai-quem-fica. Fico aqui pensando: puxa, tem tanta gente chata, ruim, fria, malvada, sem escrúpulos, arrogante, fria, violenta, despreparada, sem educação, sem noção, fria, egoísta, perversa, sem caráter e cruel, flanando por aí, com a maior cara de pau, e que não vai nunca… 

Tenho até uma listinha que vou levar junto, quando eu for.

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Já os bons… Bem, os bons sempre vão antes, num gesto meio afoito de Deusinho, não é não? O Diabo é mais devagar…

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