Organizações de direitos humanos e antirracistas divulgaram notas e mensagens se solidarizando com a cantora Tati Quebra Barraco. Ela perdeu o filho Yuri Lourenço da Silva, 19 anos, no domingo, 11, em suposta troca de tiros com a polícia, na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. O corpo dele será sepultado hoje. Desde a queda de um helicóptero no conjunto habitacional há 15 dias, por razões ainda não esclarecidas, várias operações têm sido realizadas no local, de acordo com a polícia, para combater o tráfico de drogas.
Nas redes sociais, Tati culpou a Polícia Militar pela morte do jovem, que não resistiu aos disparos, e desabafou: “Sem palavras, Yuri, mãe vai te amar para sempre. Agora temos a Pérola (neta) para educar, melhorar o que não fui capaz de fazer por você. Me desculpe se fui uma péssima mãe ou se ensinei da maneira errada, eu só queria o seu melhor”, disse.
A comoção, no entanto, não foi unânime e o perfil da cantora nas redes sociais foi inundado por postagens racistas, com discurso de ódio contra a cantora e seu filho, justificando o assassinato do menino. As mensagens foram classificadas como “desumanas” em uma nota oficial, postada pela assessoria da cantora, no Facebook, na qual repudiou o desrespeito à família. Na nota, a cantora agradece o apoio de amigos e fãs que enviaram mensagens de conforto.
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Solidariedade das Mães de Maio
Em solidariedade, a organização Mães de Maio, de São Paulo, formada por donas de casa que perderam filhos na onda de crimes em 2006, em São Paulo, postou uma foto de Tati com Yuri.
Assim como a funkeira, a entidade não poupou críticas à controversa ação policial. “As polícias e seus mandantes não vão parar de nos matar; ou organizamos nossa raiva e nos unimos para reagir ou, desgraçadamente, seguiremos vitimados pelo genocídio estatal”, diz a organização.
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De Brasília, o grupo de mulheres negras Pretas Candangas, que também se manifestou na rede, denunciou o racismo nas ações policiais que vitimam mais jovens negros, além de condenar os ataques violentos contra Tati. “Vamos gritar por justiça com você e com todas as mulheres negras que passam pela dor de enterrar seus filhos mortos pelo Estado brasileiro”, declarou.
A cantora MC Carol, com vasta atuação em defesa dos direitos humanos e que recentemente gravou um clipe de música com a funkeira Tati, se pronunciou. Ela condenou o que chamou de “guerra entre a polícia e o tráfico de drogas” e as próprias abordagens. “Pra polícia, a lei é: “é negro, favelado [ou], então, tava de pistola”. Ela pediu respeito e privacidade à família.
Em retribuição às letras de música de empoderamento, contra o preconceito a gays, lésbicas, bissexuais e travestis, a Rede Afro LGBT, de Minas Gerais, mandou condolências. “Esperamos devolver a essa mulher a força que seu funk tem trazido há mais de uma década à população LGBT das comunidades do Rio e de todo o Brasil para que supere esse momento”.
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A organização também lembrou que Yuri se soma aos 23.100 jovens negros mortos por ano, segundo o Mapa da Violência, e criticou as mensagens contra a família da funkeira. “É com espanto que vemos as narrativas racistas e capitalistas que transformam os corpos pretos em “indivíduos perigosos” retirarem das pessoas o espírito de humanidade”, disse.
Como foi a morte
Yuri foi alvejado quando estava com outro homem, identificado como Jean Rodrigues de Jesus, de 22 anos, que também morreu baleado, em uma ação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) de Cidade de Deus.
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De acordo com a Polícia Militar, eles entraram em confronto com os agentes durante um patrulhamento. Foram encontradas com os jovens drogas, dois rádios transmissores e uma arma, o que coloca em dúvida a versão oficial. A Polícia Civil abriu inquérito para apurar as mortes e disse que a investigação será “minuciosa”.
A cantora Tati Quebra Barraco se notabilizou por músicas sobre empoderamento feminino. Ela também denunciava o racismo e a violência policial nas favelas, com críticas contundentes ao gastos em intervenções militares, em detrimento de práticas educacionais.
O velório de Yuri Lourenço, filho da cantora, será às 14h30, no cemitério do Pechincha, em Jacarepaguá, na zona oeste. O sepultamento está previsto para às 16h desta segunda.
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