Com olhos curiosos e bochechas rosadas, Cuca saiu da casa dele no interior para encontrar o pai e acabou conquistando o mundo inteiro. Neste domingo, 28, o diretor Alê Abreu faz história ao ser o primeiro brasileiro a levar uma produção nacional para a disputa pelo Oscar de Melhor Animação.
O filme O Menino e o Mundo é um dos cinco concorrentes a uma estatueta, ao lado de Anomalisa, Divertida Mente (Inside Out), Shaun, O Carneiro (Shaun the Sheep Movie) e Quando Marnie estava lá (When Marnie was there). A presença do longa-metragem brasileiro na maior premiação do cinema mundial confirma o momento de crescimento da produção de animação no país, segundo César Coelho, diretor e um dos criadores do Anima Mundi, o Festival Internacional de Animação do Brasil, criado em 1993 e que é um dos maiores do mundo atualmente.
A indicação de O Menino e o Mundo é vista como surpresa, uma vez que os longas em animação não têm alcançado grandes marcas de bilheteria no Brasil. “Nos últimos 12 anos, a animação brasileira mudou radicalmente, da água para o vinho. Essa mudança fica mais evidente agora, com O Menino e o Mundo, mas a gente já ganhou em dois anos seguidos o Festival de Annecy, na França, e isso é a ponta de um iceberg que a gente já vem cultivando há mais de 10 anos”, explica Coelho.
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Segundo o Informe Preliminar de Acompanhamento de Mercado da Agência Nacional do Cinema (Ancine), entre os 20 títulos com maior bilheteria em 2015 no país, apenas três filmes eram de produção nacional, e nenhum deles de animação: Loucas pra Casar, Vai que Cola – O Filme e Meu Passado Me Condena 2.
Dados do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA), também da Ancine, apontam que entre os 387 filmes estrangeiros e brasileiros lançados em 2014, 25 eram de animação, e quatro deles – O Menino e o Mundo incluso – eram produções nacionais. Os outros três foram As Aventuras do Avião Vermelho, Até que a Sbórnia nos Separe e Ritos de Passagem.
Barreiras
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No ano passado, não houve estreia comercial de longas de animação. A distribuição é um problema no qual esbarram as produções brasileiras. Em janeiro de 2014, quando foi lançado, O Menino e o Mundo ocupou apenas 17 salas de cinema no país, atingindo público de 33.978 pessoas. “O filme foi visto muito mais vezes no exterior do que no Brasil. Na França, ele ficou um ano em cartaz, antes mesmo de ser indicado ao Oscar. E aqui no Brasil ficou apenas algumas semanas. A gente precisa criar mais espaço para esse público, encontrar a nossa produção”, explica Coelho.
Neste ano, a produção voltou a ser exibida após a indicação ao Oscar, mas ainda não há dados de bilheteria. Mesmo antes de conhecer o resultado da premiação, a cena audiovisual já comemora vitórias com a indicação histórica do filme. Espera-se que a animação brasileira ganhe ainda mais destaque internacional.
“A gente está recebendo consultas do mundo inteiro, pedindo programas especiais de animação para levar a outros países, pedindo informações, querendo saber o que está acontecendo”, celebra César Coelho. Para ele, o filme resgata o potencial que a animação tem de produzir obras-primas. “O Menino e o Mundo representa a redenção de uma técnica que é tradicional e valoriza, acima de tudo, a artesania, a habilidade manual do artista, resgatando a capacidade que a animação tem de produzir obras-primas a partir de ‘quase nada’ em termos de estrutura. O filme do Alê é lápis e papel. A animação permite isso”.
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