Mais que um trabalho, para muitos jovens seguir carreira de modelo é um sonho. Daqueles bonitos, cheios de glamour. Ser reconhecida como uma sucessora de Gisele Bündchen pode até ser algo distante para algumas meninas, mas a top continua sendo a musa inspiradora para as que pisam na passarela. Aos 9 anos, Luisane Rehbein Tatsch, que tem Gisele como referência, dava os primeiros passos rumo ao sucesso. Os tradicionais desfiles no Shopping Santa Cruz fomentaram a ideia de se tornar uma modelo internacional. “Sempre falo que nunca tive outro sonho. Sempre sonhei em ser modelo e, geralmente, é um sonho que todas as meninas têm quando novas, mas eu nunca mudei de ideia”, conta.
Na tentativa de entrar para o mundo fashion, caiu em algumas “furadas”, como ela mesma descreve. A oportunidade séria chegou quando tinha 14 anos. Na época, participou de uma convenção de modelos em Santa Cruz do Sul e, ao ser selecionada, a carreira deslanchou. Meses depois, já estava morando em São Paulo, onde ficou durante nove meses. Desde então, faz trabalhos para passarela e fotos, já que seus 1,76 metro de altura, 59 centímetros de cintura e 50 quilos permitem, segundo ela. Quando saiu de São Paulo, o destino foi bem mais distante da família e dos amigos: a Ásia abriu as portas para a santa-cruzense mostrar todo o seu potencial diante das câmeras fotográficas. Por causa do trabalho, já morou em Taiwan, na China, Hong Kong, Itália, Malásia e Tailândia.
Ao sair de casa, o pacote inclui boas experiências, mas também dificuldades que já começam na adaptação a novos lugares. Porém, para Luisane, nada muito desesperador. “Nossa vida é uma aventura. E toda aventura tem suas partes difíceis, mas isso torna mais especial ainda”, tranquiliza. “A adaptação na primeira viagem fora é sempre mais complicada, tem as consequências da diferença do horário, a saudade, mudança de clima e de cultura tudo junto. Na primeira semana, você só pensa em voltar para casa, mas depois acostuma. Quando tu fazes o que gosta nada mais é barreira para ti. Problemas sempre têm como em qualquer profissão do mundo”, lembra.
Publicidade
As coisas boas também fazem parte desse mundo e, para Luisane, se sobressaem. “São uma infinidade! Conhecer novas pessoas, lugares, culturas, línguas. Essa profissão ajuda muito você a se conhecer também, pois de uma hora para outra, está por conta própria. Precisa aprender a se virar sozinha, aprender do que gosta e quais os seus limites. É incrível”, comenta. No trabalho não faltam as situações engraçadas. “Ainda tem clientes que pensam que você é um objeto. Por exemplo, na China, já aconteceu de eu estar fotografando para um catálogo de roupas e a assistente vir com o ferro para passar o tecido comigo usando a peça. Não me machuquei, mas foi meio bizarro”, se diverte.
Cada trabalho que faz, deixa suas marcas. A dedicação que demanda e a experiência que resulta acabam tornando especial para a modelo. “Você emprestar seu rosto e seu corpo para a marca de alguém é uma experiência muito gratificante. Fiz o Fashion Week de Bangkok há alguns dias e foi demais. A correria de Fashion Week é uma coisa que as pessoas não têm noção: começa às 6h30 com ensaios, depois prova de roupas, pausa para almoço, make, cabelo, troca de roupas e depois uma longa espera até a hora do show, que inicia só à noite. Mas quando você entra na passarela é lindo demais”, conta emocionada.
Atualmente, Luisane, que tem 21 anos, mora sozinha em Guangzhou, na China. Quando viaja fica em torno de um ano sem ver a família e os amigos. E é nesse período que dá mais valor para as coisas simples da vida, como o churrasco de domingo, um chimarrão à tarde e uma caminhada com a amiga Carla. Embora também aguarde ainda a oportunidade de fazer um trabalho com algum top que admira, a moça confessa que já faz outros planos profissionais. “Pretendo viajar por mais um tempo e depois parar e cursar faculdade. Até lá, quero achar algum lugar para chamar de ‘lar’. Vamos ver o que vai acontecer, estou sempre aberta a possibilidades”.
Publicidade
COMO UMA META
Frederico Lau, de 20 anos, também iniciou a carreira de modelo cedo. Com 16 anos, o santa-cruzense descobriu o gosto pelo trabalho. O sonho, para ele, é uma meta. “Prefiro chamar meus sonhos de metas. Desde pequeno sempre tive um lado para artes, mas não sabia ao certo. Até que um dia descobri que minha meta é ser um grande modelo”, conta. Destino de muitos iniciantes no mundo fashion, São Paulo abrigou o jovem por alguns anos e trouxe a experiência e preparação necessárias para encarar novos desafios.
Publicidade
Morando em Milão com outros modelos, Fred, que tem 1,88 metro e 69 quilos, trabalha para desfiles e comerciais. Embora a experiência no exterior seja curta – começou há um ano -, já modelou em Londres e Paris. Nesse tempo, acabou encontrando outros santa-cruzenses nas passarelas, inclusive a Luisane. “Acho incrível porque você se sente em casa”.
Mesmo tendo passado pelas dificuldades comuns para quem vai morar sozinho no exterior, Frederico quer continuar a carreira. Para ele, quando se tem força de vontade e determinação, tudo se resolve com o tempo. “O Frederico hoje é um new face que ainda tem muito que passar, com muito trabalho pela frente ainda. Estou aqui para conhecer clientes. E amanhã quem sabe me tornar uma pessoa melhor, trabalhando em cima das falhas, mas sem perder minha essência e humildade. Quero deixar que o tempo mostre o que for para ser, afinal, o futuro é reflexo do presente, então só coloco minha determinação nele”, afirma.
TUDO COMPENSA
Publicidade
Com 15 anos de carreira e há sete morando em Londres, Michele Tagliani têm uma grande bagagem de experiências. Quando começou a carreira, aos 15 anos, não via como um sonho. Deixou apenas acontecer. “Nunca tinha pensado em ser modelo. Foi pela insistência da minha mãe e de amigos que resolvi fazer o curso. A timidez e baixa autoestima eram tantas, tinha medo do que as pessoas poderiam pensar de mim se soubessem que estava fazendo um curso de modelo”, lembra a santa-cruzense.
Segundo ela, não teve muito tempo para pensar no que estava fazendo e, antes mesmo de terminar o curso já havia sido chamada para uma agência de modelos. Logo os trabalhos iniciaram, inclusive, no exterior. O Chile foi o primeiro destino fora do Brasil. Além das dificuldades tradicionais, também precisou perder a timidez.
Publicidade
Foi para Tóquio nas férias do colégio e sentiu mais alguns percalços, como a dificuldade para se comunicar e a gastronomia muito diferente. Aos 18 anos, se revelou em Paris. “Fiz Fashion Week, Haute Couture, desfilei pra vários designers incríveis e fiz campanhas – Vivienne Westwood e L’Oreal, por exemplo”.
Foi lá também que correu ruas atrás de entrevistas de trabalho. “Você sai de casa de manhã carregando book, salto alto, mapa, garrafa de água e biquíni (alguns castings pedem pra colocar biquíni). Vai de casting em casting, sem descanso, rodando a cidade. Nada glamouroso, como muita gente pensa, mas compensa. Compensa quando você pega um trabalho legal, quando você sabe que deu o melhor de si e quando você está cara a cara com aquele designer que admira”, ressalta
Depois, passou temporadas em Nova York, Miami, Hamburgo, Milão, entre outros lugares. Mas o Japão gostou da santa-cruzense e se tornou o lugar onde mais passou temporadas: foram oito até hoje.
Agora, com 30 anos, 1,78 metro de altura, 60 quilos e 63 centímetros cintura, ainda trabalha como modelo, mas já pensa em outra carreira. Estuda Nutrição e Naturopatia, que, segundo ela, são suas novas paixões. “Gostaria de educar as modelos que, como eu passei, passam por uma pressão para ter o corpo perfeito, ter a pele sempre incrível e cabelo saudável – mesmo quando te dão cookies de café da manhã e queimam seu cabelo nos trabalhos. Missão praticamente impossível”, diz ela.
Com toda essa bagagem, Michele se considera abençoada. “Tive a oportunidade que muitas meninas sonham e eu nem tinha pensado nisso. Não só pelo fato de viajar pelo mundo, trabalhar com pessoas criativas e ícones do mundo fashion, mas também pelo crescimento pessoal que a carreira me proporcionou. Acho que era exatamente o que eu precisava”, argumenta.
ANTES DE TUDO, UMA CARREIRA PROFISSIONAL
Apesar de alguns aspirantes a modelo ainda enxergarem a carreira com glamour, é preciso entender que se trata de uma atividade profissional. Sendo assim, exige esforço, dedicação, empenho, sacrifícios, investimentos e profissionalismo, alerta o coach para novos modelos, Marcelo Salem. “Nada cai do céu. Vejo modelos que trabalham bem no mercado cuidar muito da alimentação, acordar às 6 horas para correr 10 quilômetros e por aí vai”, conta. Há 17 anos trabalhando no mercado de modelos, ele é um descobridor de talentos em Santa Cruz e região. Luisane e Michele, inclusive, passaram por ele. Além delas, outras meninas também seguem carreira internacional.
Para quem quer ingressar no mercado de modelos, ele salienta que é necessário ter alguns cuidados. O primeiro deles é pesquisar o histórico da agência ou do scouter na internet. “Existe uma gama de pessoas que fazem o trabalho de descoberta, mas é importante o trabalho de um profissional que conheça o caminho para orientar o início da carreira. Existem várias agências, o mercado tem vários perfis de modelo e saber onde focar facilita a entrada no mercado de trabalho”, reforça.