A duas corridas de se despedir da Fórmula 1, Felipe Massa, da Williams, está ao mesmo tempo emocionado e receoso. O primeiro sentimento é por saber que sentirá o carinho da torcida brasileira pela última vez na carreira no próximo fim de semana, quando o GP do Brasil, em Interlagos, será a penúltima prova dele na categoria. Já o temor dele é pela situação do Brasil no automobilismo.
Em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S.Paulo, o piloto de 35 anos disse ver com tristeza o futuro tenebroso do País na Fórmula 1, contou quais os projetos para 2017 e revelou para quem vai torcer no ano que vem.
A corrida do próximo domingo chega a ser tão especial como as de 2006 e 2008, quando você ganhou em Interlagos?
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Na verdade, a corrida mais especial para qualquer piloto é quando vence, ainda mais dentro de casa. Sem dúvida em 2006, para mim, foi o momento mais especial da minha carreira, por realizar um sonho. No lugar que eu cresci, no quintal de casa praticamente, relembrei dos tempos que ia para a arquibancada torcer pelo Rubinho, pelo Piquet, pelo Senna, sonhava em estar um dia ali. Consegui. E consegui ser o piloto brasileiro com o maior sucesso em Interlagos, duas vitórias, com quase três, mais o maior número de pódios. Sem dúvida, é a corrida, para mim, mais especial de todas e vai ser a minha última em casa. Então, não tem como não ser um fim de semana tão especial quanto. Eu jamais vou me esquecer.
Desde o seu anúncio de aposentadoria, lá em Monza, mudou a forma como se prepara para cada corrida?
Eu estou tentado curtir a cada última corrida no país diferente. Em Suzuka, por exemplo, foi muito especial. Os fãs japoneses têm um amor pela velocidade, pelo automobilismo e pelos pilotos, que é algo incrível. No México, na última corrida, foi uma sensação única, mesmo segurando um mexicano (Sérgio Pérez) a corrida inteira. Mesmo assim tendo um carinho e uma admiração dos mexicanos. Agora, em Interlagos, vai ser a mais especial de todas, por ser no meu país. Amo ser brasileiro, sempre tentei levantar a bandeira do eu país no lugar mais alto possível. Será uma corrida muito especial do ponto de vista humano.
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Qual foi o momento em que você decidiu sair da Fórmula 1 ao fim desta temporada?
Eu comecei a pensar bem seriamente depois da corrida da Áustria. Eu tive a decisão depois da corrida da Alemanha. Foram corridas em que eu vinha pensando bastante. Aí após o GP da Alemanha eu tomei a decisão de sair da Fórmula 1 ao fim do ano.
Mas os resultados desses GPs influenciaram na escolha?
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Foi uma questão pessoal, mas é lógico que tudo ajudou a tomar essa decisão. O campeonato que a gente está tendo neste ano, por exemplo. A minha vontade foi sempre brigar por vitórias, por pódios e não correr para fazer número, para só fazer parte e dizer que eu estou correndo. Isso não é o que dá maior prazer, mas sim estar lutando lá na frente. Na hora em que enxerguei que a situação estava complicada para voltar a brigar por pódios e por vitórias, aí tomei essa decisão.
Então você chegou a ficar com menos ânimo neste ano, afinal em 2014 e 2015 você chegou a subir ao pódio…
Eu até estava com ânimo porque a gente sempre tenta fazer o melhor. Mas não depende só de você. Depende do carro, entendeu? E se não tiver um carro para poder chegar lá na frente, é complicado. Vontade eu sempre tive, de fazer o melhor possível, como fiz no México, lutei a corrida inteira. Fiz várias provas boas no ano também. Só que não depende só de você. Na Fórmula 1 você depende muito mais do carro, que é o que te faz ter a chance de brigar.
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Como fica a participação brasileira na Fórmula 1? Ainda não tem brasileiro confirmado no grid para 2017.
Eu torço para que o Felipe Nasr continue, tenha chance. Na verdade, o que eu mais torço é que ele tenha chance de continuar em uma equipe melhor. Não acho que a Sauber vai ser uma equipe interessante para o ano que vem. Torço para que ele tenha chance de entrar em uma equipe melhor, mas lógico que tudo depende dos próximos dias, das negociações. Só sei de especulação. Torço para que ele continue, se não tiver um piloto brasileiro na Fórmula 1, será muito triste.
Mas e se o Brasil não tiver nenhum piloto?
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O País que sempre teve um piloto não só correndo, mas também com nome, disputando vitórias e pódios. Se não tiver pelo menos um piloto, será muito triste para o Brasil e acho que para o mundo do automobilismo. A situação do automobilismo brasileiro está muito ruim. Existe grandes chances de não ter um piloto brasileiro nos anos seguintes. O futuro é complicado. A situação do País está muito ruim, a gente não tem uma categoria de base para ensinar os pilotos, para prepará-los a chegarem prontos na Europa para disputar de igual para igual. Quando eu corria de carro lá fora, em cada categoria tinha um brasileiro disputando título. Hoje em dia, é difícil você ver um brasileiro vencendo em qualquer tipo de categoria de base. A situação é bem crítica
Você pretende em retomar algum projeto como fez na Fórmula Futuro (categoria idealizada pela família do piloto)?
Não. Eu tentei e não tive nenhum apoio. Então, eu tentei, gastei dinheiro, perdi dinheiro para tentar ajudar o automobilismo. Não tenho interesse. Não tive apoio para que algo funcionasse.
Tem alguém despontando para se candidatar como piloto brasileiro nos anos seguintes?
Está bem complicado o futuro dos brasileiros para a Fórmula 1. Não vejo um nome em que eu aponte e fale: “neste eu confio”. Não dá. Para falar a verdade, o único nome que tem uma chance, uma possibilidade, embora não muito concreta e nem para um futuro tão próximo, é um menino chamado Caio Collet. Ele está correndo de kart na Europa. Parece que tem um grande talento. Só que fora esse nome, não tem nenhum nome que posso dizer que eu confio.
E o que pretende fazer da vida em 2017?
Vou continuar correndo em alguma outra categoria. Converso com três categorias no momento. Tenho algumas ideias boas, mas não vou tomar essa decisão tão rápido. Durante a minha carreira inteira eu sempre tive uma pressa de tomar decisões, agora não é a hora de ter a pressão, mas sim decidir o que eu vou querer correr e ser feliz também.
Quais seriam essas categorias?
WEC, DTM e Fórmula E, são as categorias em que tenho interesse em correr. Mas será só em uma delas, é claro. Pretendo fazer outras coisas também, como de trabalho. Quero continuar como embaixador de algumas marcas, que eu já sou. Vou seguir com outras empresas também, para ir em eventos de Fórmula 1, para representar esses marcas. Talvez em umas seis corridas no ano.
Pretende ser comentarista?
Penso em trabalhar só nessas corridas que eu for, não em um trabalho geral. E também não seria em uma televisão brasileira. Então, tenho muita coisa para fazer. Por um lado é complicado porque tenho 35 anos e o esporte acaba bem cedo, como para um jogador de futebol também. Para os esportistas, sempre há uma hora em que é preciso tomar a decisão. Acredito que tenha feito na hora certa. Quero me concentrar no lado do trabalho. Acabei de montar uma empresa no Brasil de sucos prensados à frio.
Quais amigos você vai levar da Fórmula 1?
Tenho uma relação muito boa com a maior parte das pessoas com quem trabalhei, tanto em mecânicos, como engenheiros ou demais integrantes. Do lado dos pilotos, tenho uma relação boa com a maioria, mas o cara com quem tenho mais amizade é o Daniel Ricciardo (australiano da Red Bull). Moramos no mesmo prédio em Mônaco, estamos sempre em contato. Daqui para frente vou torcer por ele.
E como vai se sentir ao fim da corrida em Abu Dabi, a última do ano?
Não sei qual mais especial, mais emocionante: se é Interlagos ou Abu Dabi. É difícil imaginar o que vou sentir, mas vou deixar com que as coisas aconteçam e a sensação venha na hora.
O que vai mais te deixar com saudades da Fórmula 1?
É guiar o carro mais incrível do mundo. O sonho de qualquer piloto foi de guiar e competir, tentar bater os companheiros, superar você mesmo, o seu tempo de volta. Vou sentir falta de ser piloto. Muitas coisas vou passar sem nenhum problema, como o tempo de trabalho, os compromissos, as entrevistas. Dessas coisas vou passar por cima tranquilamente, mas vou sentir falta de guiar em pistas incríveis e países incríveis, como no Brasil.