Em alta no mundo das dietas e do emagrecimento, as receitas detox ganharam a simpatia de quem vive em guerra com a balança ou simplesmente deseja ter uma vida mais saudável. Nas finanças, é quase a mesma coisa. Quem gasta demais, não sabe comprar direito e não economiza, vive em briga com o orçamento pessoal. Torna-se um forte candidato a cair nas armadilhas do crédito fácil de cartões e empréstimos pessoais e, certamente, está “intoxicado” financeiramente. 

A Gazeta do Sul foi atrás de um especialista para ajudar quem deseja ser fitness também no mundo do dinheiro. O professor de economia da Universidade do Vale do Taquari (Univates), Eloni José Salvi, topou o desafio e ensina uma espécie de detox para melhorar a saúde do seu bolso.  

“A ideia de detox é interessante, pois para ter saúde financeira é preciso curar os maus hábitos. O maior deles é o desperdício, que pode ser traduzido no ato de comprar por impulso”, salienta o economista.

De acordo com o professor, comprar tudo a prazo, pagar juros indevidamente, assim como não pesquisar preços, desperdiçar comida, energia elétrica, água e comprar mais do que precisa são sintomas de uma intoxicação grave nas finanças pessoais. E quem está passando por isso precisa prestar atenção. 

São orientações que servem para todo mundo. Salvi observa que algumas pessoas dizem que a recomendação do controle financeiro funciona mas só para quem ganha muito, ou tem renda mensal alta. Nada disso. Quem tem pouco dinheiro precisa ter ainda mais cautela, deve medir onde e quando gastar cada um de seus centavos. 

“Imagine que eu tenha muita comida. Mesmo que eu desperdice uma parte, não ficarei com fome. Por outro lado, se tenho pouca comida, eu preciso racionar o consumo. E é a mesma coisa com nossos recursos financeiros”, compara o professor.

Colocando o detox em prática

Para ajudar no processo de desintoxicação, é preciso começar com uma ação saudável: anotar tudo o que se recebe e tudo o que se gasta. Só com esse controle será possível saber quanto se tem de dinheiro disponível durante o mês. 

O primeiro passo, segundo o professor Eloni Salvi, é identificar os tipos de gasto. Alimentação, despesas da casa, com carro ou transporte precisam ser relacionados. Depois de montar essa lista, é necessário sempre planejar, para que as despesas sejam compatíveis com a renda.

A seguir, coloque no papel o total que espera receber em salário durante este ano. Em outra coluna, vá somando também aquelaes gastos que você sabe que vai ter. O valor mensal de água, da energia, do aluguel, do transporte. Essas contas geralmente são iguais a cada mês, fazem parte do grupo de despesas fixas e devem ser descontadas da renda recebida.

Quem deseja economizar algum valor na poupança também precisa descontar dos ganhos do ano. O valor que sobrar, no fim, será para as despesas variáveis, como alimentação, roupas e lazer.

Por fim, não dá para esquecer das contas do fim do ano. O valor necessário deve ser depositado na poupança durante 2018. Fazendo isso, você irá ganhar juros, além de receber desconto na hora de pagar à vista por essas contas.

Cofrinho progressivo

Para economizar de forma simples, sem muitos truques e nem mesmo a necessidade de ter conta em banco, o “Cofrinho Progressivo”, método desenvolvido pela blogueira paulista Mari Mesquita, é uma boa dica para incorporar a nova rotina depois do detox. 

O funcionamento do Cofrinho Progressivo é bem fácil de ser entendido. O ano tem 52 semanas, assim, a cada semana é preciso depositar em um cofre o valor referente ao número dela. Por exemplo: agora estamos na semana quatro de 2018, então, o depósito a ser feito até este sábado deve ser de R$ 4. Para quem vai começar o cofrinho agora, é preciso depositar ainda os valores das três primeiras semanas: R$ 6.

Na semana seguinte, R$ 5 e assim segue. Quando chegar o fim do ano, na semana do dia 23 de dezembro, o poupador terá economizado R$ 1.378, depositando apenas o valor correspondente ao número da semana.

Usando o cofre

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• A blogueira Marli Mesquita recomenda que se escolha um dia da semana para fazer o depósito, criando o hábito de guardar dinheiro. 
• Quem não tem cofre pode fazer um recipiente destinado aos valores. O importante é não retirar dinheiro para conservar o saldo até o fim do ano. 
• Prefira depositar notas. Moedas estão sempre fazendo falta no comércio. Ao guardá-las, você prejudica quem precisa dar troco. 
• Faça uma planilha ou use um calendário para ir controlando os depósitos e não perder a numeração da semana.

Empréstimo: só em último caso

Quem não se preveniu guardando dinheiro para pagar as tradicionais contas do fim de ano pode recorrer ao empréstimo, mas desde que seja com juros menores que o desconto recebido.

O melhor mesmo é se livrar logo das contas. Mas tomar empréstimo para pagar IPTU e IPVA só vale se o abatimento para antecipação e pagamento à vista forem menores do que os juros do banco.

Livre-se do cartão de crédito

Essa pode ser a parte mais amarga do detox financeiro. Mas, conforme o professor, o melhor remédio contra a dívida do cartão é livrar-se dele, assim como o velho talão de cheques.

Se for impossível fazer isso, o “plano B” é deixar de pensar que o cartão ou o cheque são a renda extra: tudo sai do mesmo bolso. Esses meios de pagamento só devem ser usados para aproveitar uma oportunidade ou oferta especial, quando a compra representa economia de juros.

Muita gente também cai na armadilha das milhas ou pontos. Compra com juros, pensando em ganhar pontos para trocar por outros produtos ou viagens. E acaba gastando em juros, mais do que valem os tais pontos. A vida é dura: ninguém dá coisa alguma de graça.

Use dinheiro vivo nas compras

Para quem tem dificuldade em controlar seus gastos e principalmente seus impulsos de consumo, o melhor mesmo é usar dinheiro em espécie. Quando o dinheiro acaba, acaba a capacidade de gastar, simples assim.