Minha maior preocupação é imaginar como meus filhos lembrarão de mim no futuro. A tecnologia avança de maneira assombrosa, mas não consigo imaginar um mecanismo que permita descobrir – depois de “partir desta para uma melhor” – qual o verdadeiro legado que formei.
Todos os dias nós – pais e mães – envidamos um esforço descomunal para consolidar valores que farão dos filhos seres humanos de primeira qualidade. Preceitos de ética, respeito, tolerância, democracia, valorização da liberdade formam o cerne do cabedal de orientações repetidas à exaustão.
Apesar da dedicação, muitas vezes o resultado final não contempla as expectativas. Muitas vezes pecamos pelo excesso de teoria, de “aulas de moral” nem sempre coerentes com a nossa própria prática. Vamos admitir: por vezes somos maus exemplos porque cobramos coerência, mas agimos de maneira contrária.
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A maneira de encarar a vida se altera com o tempo. Pensamos de um jeito quando somos jovens, solteiros. Mudamos radicalmente ao casar e sofremos uma profunda transformação com a chegada dos filhos. Com eles aprendo todos os dias. Laura e o Henrique, com seus vinte e poucos anos, provocam divertidas risadas, mas também conversas ásperas e acaloradas que por pouco não geram rompimentos. No dia seguinte, porém, voltamos para a convivência fraterna, revendo os argumentos.
Mesmo diante de profundas discordâncias é fundamental manter os vínculos. É como regar a flor da tolerância para manter o jardim florescendo. Cá entre nós: desconfio de relações – de todos os tipos – onde tudo parece um permanente mar de rosas. Imagino que, ali, sob o manto do entendimento perfeito, na verdade borbulha um vulcão prestes a explodir.
Voltando ao início da crônica, sonho com a possibilidade de conferir o que consegui, de verdade, deixar de útil para quem é a razão da minha vida. Dizer que sinto um amor incomensurável é pouco diante do sentimento que permeia minha relação com os filhos. Corujices à parte, encontrá-los no final do dia me permite suportar situações que, quando jovem, jamais seriam toleradas.
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Enquanto a tecnologia não garante bisbilhotar meus filhos – do céu ou do inferno – invisto nesta troca de energias positivas. Equilibrar teoria e prática é um exercício interminável de aperfeiçoamento. Se eles continuarem gostando do “velho Giba”, estarei satisfeito.
No dia em que Laura e Henrique tiverem a bênção de ter os seus filhos… aí, sim, terão a dimensão do que pretendo dizer aqui. Ser pai/mãe é um emprego em que não é possível pedir demissão. É para sempre. Ignora sábado, domingo, feriado ou férias. Os poucos intervalos de distanciamento dos filhos só aumentam esta obsessão em saber: será que fiz tudo certo?
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