Desejando ou não, neste período que abrange o Natal e o Ano-Novo nos submetemos ao delírio geral e coletivo. Por mais racionais que sejamos, também seremos um pouco esotéricos e crentes na numerologia.
Queremos crer – e precisamos crer – que será melhor o ano que se avizinha. Acreditamos que deva ser possível transformar uma coisa em outra coisa melhor com a simples troca de números.
É como se o tempo – que não existe, e só existe porque nós o inventamos para dar sentido e demarcar nossas épocas – pudesse se reconstituir como destino positivo com a mudança numérica.
Nesse momento dito mágico, nosso otimismo e esperança são absolutamente cegos, mudos e surdos às circunstâncias atuais e negativas que nos cercam.
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Meus desejos? Que possamos exercitar o espírito da tolerância e a moderação como formas de diminuir e evitar os fanatismos.
Que os idealistas (utópicos) e os realistas (equivocados) se façam suscetíveis à argumentação, reflexão e revisão de suas ideias e condutas, de modo a compatibilizar seus ideais com os alheios pensares e direitos.
Que nossas expectativas sejam retrato e reflexo de receptividade às novas ideias. E que tenhamos mais humor, ironia e autocrítica!
Sim, sei que o exercício da tolerância e da moderação tem seus custos. Não há garantias e exige prudência. Afinal, é natural que gere reações e alguns efeitos contrários, nem sempre previsíveis.
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Minha esperança em relação a 2018 é que sejamos mais reagentes e atrevidos em torno e em defesa do que consideramos valores essenciais. As inverdades estão por aí contaminando o tecido social.
Mesmo quando não estivermos totalmente seguros de nossas ações, sejamos corajosos. E se ao cabo de 2018 ainda não alcançarmos e determinarmos um mundo melhor e mais justo, que seja ao menos mais decente.
Ainda que em meio à tempestade da futilização e vulgarização das relações e das coisas, em meio à aniquilação das pessoas e dos costumes, ainda assim afirmemos nossas certezas.
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Ainda que atordoados nesta padronização de tudo, dos meios, dos fins, e da monetarização de nossas perspectivas e existências, ainda assim valorizemos o sentido de nossas vidas.
Ainda que esta vulgarização comportamental prejudique a qualidade do comprometimento e engajamento social nas transformações necessárias, incentivemos nosso otimismo e crença na comunidade e no coletivo.
Embora muito desconfiado do “andar das nossas carroças”, que venha 2018!
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