Uma moeda que só existe na internet, não está lastreada por nenhum produto físico e nem sofre intermediação do governo ou de instituições financeiras. Os bitcoins surgiram há oito anos em um fórum de discussão online e hoje uma unidade da moeda vale R$ 55 mil. O “dinheiro da internet”, como se referem os mais entusiastas, já pode ser usado para pagamento em estabelecimentos reais, conta com caixas eletrônicos em diversos países e está sendo inserido nos contratos de bolsas de valores e fundos de investimento pelo mundo.
Após um teste de velocidade para operar o sistema que pode aumentar a capacidade da rede de cerca de dez a 15 transações por segundo para milhares, a um custo menor do que o atual, a moeda teve uma alta de 20% somente na última quinta-feira. No ano, a valorização acumulada é de 1.580%.
“Eu vejo como um caminho sem volta a adoção da tecnologia que dá base às criptomoedas. Aqui nos Estados Unidos e também em outros países, cada vez mais se fortalece esta tendência, que envolve não só dinheiro, mas também uma maneira diferente de ver o mundo”, comentou o economista e pós-doutor em estatística e inteligência artificial aplicada a finanças na University of California Riverside (UCR), Igor Morais, em entrevista exclusiva à Gazeta do Sul.
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Conforme o especialista, depois da crise econômica de 2007, houve uma desconfiança generalizada das instituições financeiras, que deveriam prezar pela segurança de seus clientes e, no entanto, não agiram de forma transparente. “Foi criado então um novo sistema, aberto e sem intermediários. Tem tanto o lado econômico quanto a questão científica inclusa. A criptomoeda é o produto mais conhecido dessa nova tecnologia, que é fascinante”, destacou.
Para o publicitário santa-cruzense Daniel Silva, a valorização foi o grande atrativo para investir nas moedas. “No início deste ano soube de uma história ocorrida em 2010 – duas pizzas que foram compradas por 10.000 bitcoins (US$ 40,00 na época). Hoje, elas custariam mais de R$ 350 milhões”, comentou. Com a alta do bitcoin a desconfiança também aumentou e Silva preferiu comprar partes menores de bitcoin – os satoshis. “De maneira leiga pode ser encarado como centavos. A diferença é que a moeda é muito mais fracionada. Fiz a compra quando 1 bitcoin estava custando cerca de R$ 12 mil”, contou.
A dica para quem pretende investir nas moedas virtuais é ter cautela. “Nunca comprometa a saúde financeira. Para aqueles que buscam um retorno a curto prazo, muito cuidado na hora da compra. Para quem estiver disposto a aguardar algum tempo, as chances de acumular um bom valor são muito boas”, destacou.
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ENTENDA
Como os bitcoins são gerados?
As moedas são “mineradas” em computadores por pessoas de diversos lugares do mundo.
O que significa minerar moedas?
O termo é uma analogia com a ideia de “minerar ouro”. O minerador precisa resolver um complexo código matemático que vai validar e manter as transações de bitcoins em ordem evitando, por exemplo, que uma mesma moeda seja usada duas vezes. A mineração de cada código leva 10 minutos, tempo necessário para manter a rede organizada. Como as tentativas de decifrar o código exigem muito uso do computador, os mineradores recebem uma recompensa (atualmente de 25 bitcoins) por emprestar a máquina e manter o sistema funcionando. É preciso ter um computador de alto desempenho e entender a dinâmica da rede, mas não existe um pré-requisito para se tornar um minerador.
Quanto vale 1 bitcoin?
As moedas são instáveis e seguem as leis de mercado: quanto maior a procura, maior a sua cotação. Em 2010, primeiro ano em que foi vendido, 1 bitcoin custava US$ 0,39. Nessa sexta-feira saía por R$ 55,8 mil.
Preciso ter no mínimo R$ 55 mil para adquirir 1 bitcoin?
Não. É possível comprar partes da moeda – a menor parte de um bitcoin é chamada de “satoshi”. Um único bitcoin tem 100 milhões de satoshis. Qualquer pessoa com mais de 18 anos pode adquirir criptomoedas.
Onde posso usar os bitcoins?
As criptomoedas podem ser usadas como forma de pagamento, mas hoje são cobiçadas principalmente como investimento, semelhante às ações da bolsa de valores, por causa da sua alta valorização.
Como posso adquirir as criptomoedas?
Com dinheiro real em casas de câmbio ou caixas eletrônicos de bitcoin; aceitando bitcoins ao vender coisas; minerando as moedas.
Onde os bitcoins ficam “guardados”?
É preciso ter uma carteira virtual, que pode ser criada gratuitamente na internet. Após fazer um cadastro, o usuário recebe uma identidade, chamada de “endereço”, com 34 dígitos de letras e números. Para realizar transações com alguém, é necessário ter o endereço da pessoa. Cada vez que uma transação com bitcoins é realizada, os mineradores entram em ação para garantir que a transação é legítima.
Quais são os riscos?
Os riscos de investir em bitcoins incluem a volatilidade da moeda, possibilidade de roubo por hackers, quebra da corretora, falta de garantia e o surgimento de outras moedas mais fortes.
E a tributação?
No Brasil, uma transação superior a R$ 35 mil que obteve lucro deve pagar imposto de 15% sobre o montante ganho.
Investimento ou bolha?
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As bolhas especulativas, ou bolhas econômicas, surgem como negócios imperdíveis e terminam em prejuízos incalculáveis. Elas acontecem quando o preço de um produto sobe muito acima do normal, atraindo investidores até que ninguém mais consiga justificar porque os preços cresceram tanto. Quando a confiança dos investidores é abalada, basta um sopro para a bolha estourar. O “estouro da manada” gera uma retirada de capital abrupta e o valor do produto despenca.
Para o economista Igor Morais, a valorização do bitcoin é grande, mas a tendência deve ser de alta por muito tempo. “A aceitação é a variável principal de uma criptomoeda. No caso da oferta e demanda, veja, por exemplo, uma empresa que não emite mais ações. Ao fazer isso, ela mantém o total ofertado em mercado fixo. O que faz o preço subir? O interesse das pessoas pela empresa”, explicou. Segundo ele, a diferença é que na Bolsa de Valores há fatores como o balanço da empresa, taxa de juros, uma lei que o governo tenha aprovado, impostos, CEO e etc. “Nas criptomoedas não existe isso e, não se esqueça, ela tem circulação mundial, o que torna seu mercado muitas vezes maior. Na minha opinião este cenário parece irreversível.”
O bitcoin pelo mundo
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Brasil
Na última quinta-feira, o presidente da Bolsa de Valores de São Paulo, Gilson Finkelsztain, afirmou que tem muitas dúvidas sobre o bitcoin, mas que as moedas digitais estão no radar da bolsa brasileira. No mês passado, o Banco Central publicou um comunicado sobre os riscos do uso do bitcoin como forma de investimento, alertando para a possibilidade de perda do capital investido, já que a variação de preços da moeda estaria sujeita a “riscos imponderáveis”.
Estados Unidos
O CME Group, maior conglomerado de negociações de derivativos financeiros e dono da bolsa de Chicago, anunciou que vai passar a negociar bitcoins a partir desta segunda-feira. O Cboe Global Markets, uma das maiores bolsas globais de derivativos, abriu as negociações no domingo passado e a bolsa de tecnologia Nasdaq planeja abrir seu contrato de bitcoins no ano que vem. O país já possui caixas eletrônicos e estabelecimentos que aceitam as criptomoedas, sendo uma das nações mais amigáveis a esse sistema.
Japão
Em abril deste ano entrou em vigor no Japão a primeira lei no mundo que reconhece o bitcoin e as novas moedas digitais como forma de pagamento. Por lá, já é possível pagar com bitcoins em restaurantes, lojas de eletrônicos e até mesmo a conta do gás de cozinha. A previsão é de que até o fim do ano 300 mil estabelecimentos do país aceitem esse tipo de dinheiro. A febre da moeda digital no Japão é apontada como uma das principais responsáveis pela valorização do bitcoin em nível global.
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Canadá
O país foi o primeiro a contar com um caixa eletrônico de bitcoins, instalado em Vancouver em 2013. O governo já levantou uma discussão para adotar a tecnologia blockchain no sistema financeiro e implementar uma cripotomoeda. A discussão está num terceiro estágio e deve ser colocada em prática logo.
Venezuela
No último domingo, o presidente Nicolás Maduro anunciou que o país pretende criar sua própria criptomoeda, que vai ser chamada de El Petro. A moeda será respaldada nas reservas venezuelanas de ouro, petróleo, gás e diamante. A bitcoin latina, contudo, contraria dois dos princípios da criptomoeda: não ser controlado por governo nem atribuído a bens físicos. O Senegal também já demonstrou interesse em criar sua criptomoeda.