“Obrigado”, “por favor”, “desculpe”, “por gentileza”, “com licença”. Muitos vão lembrar do apelido dado a esse conjunto de expressões. Eram as “palavrinhas mágicas”, título que pais e mães repetiam à exaustão para que os filhos fossem pessoas minimamente educadas.
Como tantos outros hábitos “dos velhos tempos”, essa é uma mania que saiu de moda. A falta de respeito às normas básicas de convivência transformou o mundo numa selva. Em qualquer ambiente deparamos com trogloditas que atropelam interlocutores, principalmente se estes ousarem ter opinião contrária.
“Gentileza gera gentileza.” A filosofia criada por José Datrino – conhecido no Rio de Janeiro como Profeta Gentileza –deveria inspirar mais pessoas, ser alçada a conteúdo curricular. O que mais me incomoda é que o festival de avanços tecnológicos cada vez mais frenético é consoante com a falta de respeito entre seres humanos. Ser moderno é ser egoísta, egocêntrico, exibicionista, adepto da cultura do descartável.
Publicidade
Todos os dias, quando percorro as ruas de Porto Alegre, observo a total falta de sintonia entre as conquistas da contemporaneidade responsáveis por tantas facilidades. A incapacidade de lidar com nossos semelhantes é inversamente proporcional aos confortos que temos, como ar-condicionado, controle remoto, internet, elevador/escada rolante, celular, veículos velozes.
Chegamos ao cúmulo de que exemplos de dignidade humana se transformam – em fração de segundos – em manchete nacional através das onipresentes redes sociais. Um homem que encontra uma carteira com muito dinheiro e procura o dono para devolver a quantia vira herói. Socorrer um transeunte que passa mal na rua é ato de bravura.
É óbvio que se deve enaltecer os bons exemplos. Mas ser solidário deveria ser o “normal”, não a exceção. Como repito diariamente aos meus filhos, o mundo ideal é muito distante do mundo real. Mas é necessário manter a esperança – e trabalhar – por dias melhores. Isso começa no microcosmo de cada um. Na família, no trabalho, no condomínio, no trânsito.
As “palavrinhas mágicas” preconizadas por pais zelosos de outrora deveriam ser dogmas. Uma legião de professores, indiferentes às péssimas condições de trabalho, professa essa filosofia. Lutam de forma desigual, mesmo sem a parceria de pais dos alunos. Fazem como o beija-flor que, no pequeno bico pontiagudo, levava poucas gotas d’água para debelar o incêndio da floresta. Ridicularizado, respondeu:
Publicidade
– Faço o possível!
Se mais pessoas fizessem o possível para adotar gestos obsequiosos, talvez as “palavrinhas mágicas” voltassem à moda para se tornar realidade. E a gentileza iria prosperar.
Publicidade