A queda no preço do leite já tem sérios reflexos para produtores de Santa Cruz do Sul. Entre pequenos, médios e grandes, o município conta com aproximadamente 350 criadores que atuam na área leiteira. Juntos, produzem pouco mais de 80 mil litros por dia, resultando num total de 2,5 milhões de litros por mês. Em setembro de 2016, o preço médio do litro do leite ao produtor era de R$ 1,40 (segundo a Secretaria Municipal de Agricultura), resultando em um total de R$ 3,5 milhões. Porém, o valor médio baixou para R$ 0,95 neste mês, diminuindo a receita para R$ 2,37 milhões. No comparativo do preço pago, os agricultores do município atualmente colocam no bolso R$ 1,12 milhão a menos em relação ao mesmo mês do ano passado com a queda no valor.
Conforme o secretário do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de Santa Cruz do Sul, Gerson Morsch, em decorrência do baixo preço os criadores do município que fizeram investimentos como compra de equipamentos e máquinas estão enfrentando dificuldades para pagá-los. “O impacto da queda no preço é muito ruim, porque nos últimos cinco anos não houve redução neste período do ano”, diz o titular da Secretaria Municipal da Agricultura, Elo Schneiders. Ele relata que muitos investiram em tecnologia, compra de matrizes, construções rurais (cerca, galpões e silos), aquisição de maquinário e outros.
“Os agricultores se preparam para produzir, otimizam a produção o máximo que podem e acontece isso (queda do preço)”, salienta Schneiders. Normalmente, o valor cai nos meses de verão por causa da diminuição do consumo. O veterinário da secretaria, Emílio Hoeltgebaum, ressalta que a pasta se juntou à manifestação promovida pela Fetag no dia 14 em Jaguarão por considerar fundamental para que as autoridades entendam que o setor leiteiro não está esperando milagre de braços cruzados. O produtor Davi de Moraes Gass, de Cerro Alegre Alto, diz que apenas nos últimos três meses o preço do leite caiu R$ 0,27 por litro.
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Neste mesmo período de 2016, Gass recebia R$ 1,70 por litro. Em novembro do mesmo ano, baixou para R$ 1,12. Este valor permaneceu até abril de 2017, quando aumentou para R$ 1,47. Depois começou a queda, que já chega a R$ 0,27. “Em contrapartida, os insumos só aumentaram: medicamentos, sementes, vacinas, sal mineral, a inseminação artificial e o diesel, que é o pior vilão”, salienta. Davi Gass tem 88 animais, entre vacas, novilhas e terneiras, das quais 56 estão em ordenha. A produção diária em sua propriedade é de 1,4 mil litros de leite.
Para ele, o custo de produção é de R$ 0,93 em média por litro, sem contar a depreciação de equipamentos e instalações. “O pequeno produtor tem custo de R$ 0,70, mas recebe R$ 0,80 pelo litro”, relata Gass. A diferença de preço se deve aos bônus dados pelas indústrias conforme o volume e qualidade do que é entregue.
O produtor lembra que em 2005 tinha cinco vacas e uma produzindo. Com o estímulo recebido da secretaria e da Emater (assistência técnica, terraplenagem e limpeza de área), investiu e ampliou o plantel. E agora o preço desestimula.
Sem boa perspectiva, saída pode ser trocar de atividade
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O agricultor Ênio Elo Breunig, que trabalha com o pai Arno Breunig, de Linha Áustria, frisa que o preço está muito defasado. Relata que há quatro anos era de R$ 1,06 e agora, para ele, está em R$ 1,09. “Só R$ 0,03 a mais. É muito pouco. Estamos pensando seriamente em desistir de tudo e partir para outra atividade. A gente trabalha muito e não tem retorno. A falta de lucratividade desestimula.” Os Breunig têm 22 vacas em lactação e uma produção de mil litros por dia. Eles investiram em trator e outras melhorias e só estão conseguindo pagar porque têm economias.
O secretário da Agricultura, Elo Schneiders, diz estar preocupado. “Nós temos compromisso com o produtor. Não é só estimular. O investimento deles é alto”, acrescenta. “A gente se prepara para chegar a uma determinada produção, ter um estabilidade, se manter na atividade, e quando esse sonho é realizado acontece isso e cai tudo por terra”, salienta o produtor Davi de Moraes Gass, de Cerro Alegre Alto. A principal medida defendida por Gass é o término da importação de lácteos e um preço justo, sem oscilação.
Diversificação?
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Para o secreteário Elo Schneiders, o que mais revolta é que o leite foi propagado como uma excelente alternativa para diversificação. A secretaria apoiou, deu assistência e hoje o governo federal, em vez de estimular, faz o contrário. “Que política é essa? O que o governo está querendo com a agricultura familiar?”, questiona. A Secretaria Municipal de Agricultura presta apoio aos agricultores em forma de terraplenagem para construções, aumento da infraestrutura na propriedade, acesso, encascalhamento e incentivo à melhoria da energia elétrica.