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Agro & Negócios

Safra cheia, bolso vazio

1 – Produzir bem – e muito – não é e nem nunca foi sinônimo de renda ao agropecuarista. Com o mercado tão globalizado quanto outros segmentos e a dependência significativa das exportações, em alguns momentos produzir muito – e bem – representa preços baixos por causa da oferta maior do que a demanda. Essa regra de mercado não mudou e está perpetuada. Com a ajuda do clima e um cenário de preços altos em 2016 provocados pela quebra em diversos segmentos na colheita anterior, por causa do El Niño, a safra de grãos 2016/17 no Brasil está registrando um recorde positivo em volume, mas negativo em preços. O tabaco não registrou recordes, mas a dimensão da safra ajudou a aumentar a oferta e afetar os preços e diminuir a rentabilidade dos agricultores.

2 – Diante desse cenário, os expressivos resultados na produção rural nos últimos anos não se refletem no bolso do produtor. Se as boas safras foram apontadas como fundamentais para a manutenção da economia nacional, o lucro no campo vem caindo a cada ciclo de colheita. E o cenário da pecuária também não se apresenta diferente. Um levantamento realizado pela Assessoria Econômica do Sistema Farsul aponta que a queda na rentabilidade pode superar 50%, conforme a cultura e região.

3 – O estudo mostra que as lavouras que apresentaram crescimento no lucro, na comparação entre 2016 e 2017, são aquelas que registraram perdas com as chuvas do ano passado, como arroz irrigado em Uruguaiana e trigo em Carazinho e Tupanciretã. As demais registraram perdas. Esses são os casos da soja em Carazinho (-23%) e Cruz Alta (-9%), milho em Carazinho (-39%) e arroz irrigado em Camaquã, que atingiu -55%. Este último município teve sua produção de soja dobrada em virtude da quebra do ano anterior, mas mesmo assim os produtores amargaram prejuízos.

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4 – No caso dos arrendamentos, o cenário fica ainda pior, como em Uruguaiana. Em 2016, as fortes chuvas fizeram com que o prejuízo fosse de R$ 181,09 por hectare. Este ano o resultado foi de R$ 631,68 na mesma área. Entretanto, o custo da terra é de, em média, R$ 591,75, não cobrindo o resultado negativo do ano passado. Com a pecuária, a situação é semelhante. Na comparação entre 2014 e 2017, em Bagé, o lucro por hectare, que era de R$ 11,87, caiu para R$ -151,76.

5 – O economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz, aponta as crises envolvendo a JBS e a operação Carne Fraca como grandes responsáveis pelo resultado.  Ele destaca que o levantamento inédito feito pelo Sistema Farsul, em parceria com a CNA e a Esalq/Cepea, mostra que a integração lavoura/pecuária, realizada em Santo Ângelo, aponta um aumento da rentabilidade, num movimento contrário às demais formas de produção. O economista destaca que alguns fatores se tornam cada vez mais necessários para o agronegócio, como a gestão das propriedades, planejamento, inovação e empreendedorismo.

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Ainda maior

O IBGE anunciou nova estimativa da safra 2016/17. A previsão é de novo recorde: a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas deve alcançar 242,1 milhões de toneladas, 57,4 milhões a mais que na temporada passada, com alta de 31,1% em relação a 2016 e 0,7% na comparação com o prognóstico anterior. A estimativa da área a ser colhida subiu 7,1% frente a 2016, passando dos 57,1 milhões de hectares do ano passado para 61,1 milhões. Espera-se recordes na produção de soja e milho.

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