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A arte de fazer o bem

Uma caminhada pelas ruas de qualquer cidade, nesta época que antecede as festividades da reta final de ano, revela muitos extremos sociais e expõe elementos de reflexão suficientes para iluminar questões existenciais. Só mesmo abstraindo muito, alheando-se ao máximo do mundo, mergulhando numa fantasia virtual, para não enxergar. E para não pensar, para não se comprometer.

Menciono caminhada porque da distância conveniente do banco do carro ou do monitor de uma telinha os dias situados ao rés do chão, ao nível da realidade, turvam-se muito cômoda e prontamente ao cidadão do século 21. Quantas disparidades e que vazios por vezes imensos, quase inconciliáveis, separam as pessoas. E, no entanto, elas convivem a tão poucos metros umas das outras. 

É claro que o mundo jamais será perfeito. Para isso, o ser humano deveria procurar ser melhor, e nem todos se esforçam nesse sentido. Mas para que o mundo seja um pouco menos imperfeito, certos temas devem, necessitam nos tocar, nos dizer algo. E requerem outras prioridades: ainda estamos centrados no “eu”, quando só poderemos ter alguma esperança quando adotarmos o “nós”. Hoje, não raro, o “nós” por muitos é empregado para enaltecer o “eu”.

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A véspera de Natal, pela proximidade do novo ano, no mundo ocidental, deveria ser especialmente propícia a fim de ajudar a “re-ligar” coração e mente. Esses dois polos (emoção e razão) precisam se iluminar mutuamente, para que sejamos um ser humano e não um ser insensível.

Pelas ruas, somos guiados ao consumo. Que precisamos consumir, não há dúvida. É condição de sobrevivência. Vamos ao mercado e ao comércio em busca da satisfação das necessidades, do corpo e da alma. Só que, por vezes, fixamos alvos por demais, digamos, materialistas. Acumulamos coisas fora de nós, em torno de nós, e nos regozijamos em ostentar o que reunimos, ainda que quase sempre se trate de mais do mesmo. 
Queremos cada vez mais; se nos derem chance, queremos tudo. Nem que, para isso, outros percam o que têm. Nem que saibamos, e sabemos, que o impulso egoísta ajuda a tornar a vida de todos mais insustentável, porque não há ambiente que o suporte. Desvia-se o olho: e o que não se vê a muitos já não toca.

Assim seguimos. Tanto buscamos coisas que, no fim, quase nos tornamos coisas. E deveríamos mesmo é reunir bagagem dentro de nós, essa que podemos levar conosco para onde formos. Isso significa o quê? Que patrimônio pessoal não é só o que temos, mas o que somos, quem somos, como somos. E o conhecimento que fomos capazes de transformar em sabedoria.

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Logo ali está 2017. O que fazer? Ler um livro. Cultivar ao máximo as amizades. Valorizar a família. Respeitar os mais velhos. Fazer o bem, que o mal se recolherá. Apreciar o mundo que nos cerca. Apenas apreciar: não é preciso ser dono dele, que o importante mesmo é saber apreciar. Desligar o máximo possível o celular, o computador e a TV. E viver. O resto é exatamente isso: resto. O resto são coisas. E coisas não sentem.

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