Dúvidas ainda cercam as investigações sobre a morte do bancário Júlio Assmann Marder, de 58 anos. O crime, que aconteceu na madrugada do dia 27 de outubro, foi tratado como latrocínio (roubo seguido de morte) em um primeiro momento, já que o carro da vítima não estava na residência, na Rua Assis Brasil, em Venâncio Aires. Mas ainda no dia do fato, a companheira de Marder, Salete Azevedo, de 44 anos, foi presa preventivamente. Passado um mês, ela foi solta e é apontada como mentora do assassinato. O grande mistério é sobre o que teria motivado o crime.
Para o promotor Pedro Rui da Fontoura Porto, responsável pelo caso, interesses financeiros podem ter levado a mulher a planejar o assassinato do bancário. “Possivelmente ele estivesse muito apaixonado e pode ter colocado ela como beneficiária de uma previdência privada. Eu suspeito disso”, explicou Porto. Para confirmar a hipótese, o Ministério Público pediu a quebra do sigilo bancário da vítima e informações sobre declarações de renda. Segundo ele, o caso não tem características de um crime passional, que geralmente é cometido em um momento de raiva e sem tempo para preocupações sobre como encobrir a autoria.
Conforme o promotor, tudo indica que Salete esteja envolvida. “Eu acredito que era a mentora dos fatos. Ela deveria ser a pessoa com mais interesse em esclarecer o que aconteceu. Comprovadamente, ela é uma pessoa que estava no local do crime.” No entanto, Porto acredita que a mulher não agiu sozinha. A investigação aponta que pelo menos mais uma pessoa teria participado, mas esse comparsa ainda não foi identificado. “É preciso aprofundar mais para que se defina exatamente o que aconteceu”, ressaltou.
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Júlio Assmann Marder tinha 58 anos
A desconfiança sobre a participação de Salete surgiu ainda no dia do crime. De acordo com o promotor, que acompanhou as investigações da Polícia Civil, ela apresentou versões distorcidas e contraditórias em relação à da filha. Ela foi presa ainda no dia 27 de outubro e ficou um mês detida no Presídio Regional de Santa Cruz. O delegado responsável pelo caso, Felipe Staub Cano, chegou a pedir à Justiça a manutenção da prisão, pois ele acreditava que a soltura prejudicaria a investigação. No entanto, o pedido não foi acatado. “Eu sugeri ao juiz que soltasse ela”, disse Porto.
Caso Salete continuasse presa, o promotor teria que oferecer a denúncia em cinco dias, o que, conforme ele, não seria possível. “Ela ficou presa por 30 dias, a Polícia Civil concluiu as investigações, mas ainda são necessárias várias diligências. Não tinha como oferecer denúncia. Seria uma acusação prematura.” A polícia já havia concluído o inquérito na última quinta-feira, mas o promotor entende que é preciso aguardar a perícia do local do crime e informações sobre os valores que o bancário possuía, antes de fazer uma acusação formal contra Salete e o suposto comparsa. Além disso, Porto quer a relação dos telefonemas que ela teria feito ou recebido. “Quando eu esgotar as investigações, eu vou decidir se vou enquadrar como homicídio ou latrocínio.”
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A defesa
A Gazeta do Sul entrou em contato com a defesa de Salete, que está a cargo dos advogados Ezequiel Vetoretti, Renan Hart da Rosa e Melani Feldmann. No entanto, eles alegaram que, em respeito ao juízo, só se manifestarão no processo.
Salete foi ouvida pela Polícia Civil em quatro oportunidades, mas em três delas preferiu permanecer em silêncio.
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ENTENDA
– Salete Azevedo acionou a Brigada Militar alegando que teria encontrado o companheiro morto a facadas na manhã de 27 de outubro. Naquele momento, a hipótese era de que o bancário tivesse sido vítima de um latrocínio (roubo seguido de morte), já que a caminhonete do casal não estava na casa.
– Ainda na manhã do crime, o carro foi localizado em Linha Coronel Brito, interior de Venâncio Aires. Salete, a filha e vizinhos prestaram depoimento, mas as falas eram contraditórias. Com isso, a companheira da vítima se tornou suspeita e foi presa preventivamente.
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– O delegado plantonista de Venâncio Aires, Vinícius Assunção, contou que a mulher teria dito que dormiu por volta das 22 horas de quinta; e quando acordou, pelas 6 horas, teria encontrado o marido já sem vida. Ela disse que não teria ouvido nenhum barulho. Entretanto, vizinhos teriam escutado uma discussão durante a noite e apresentaram uma versão diferente para o caso.
– Após um mês no Presídio Regional de Santa Cruz do Sul, Salete foi solta. O inquérito foi concluído no dia 20 de novembro, mas, para a promotoria, faltam informações.
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