O assalto aos Correios assustou os moradores de Candelária no começo da última semana. Cerca de 20 pessoas, entre clientes e funcionários, foram rendidas e ficaram sob a mira de um revólver e uma pistola por cerca de uma hora, no dia 20 deste mês. Os criminosos roubaram R$ 90 mil que estavam no cofre da agência, que também funciona como correspondente bancário. A investigação aponta que a mesma quadrilha que agiu no município do Vale do Rio Pardo teria cometido outros dois crimes nos mesmos moldes: em Rolante e em Palmares do Sul. Dois suspeitos já foram identificados.
O primeiro crime aconteceu no dia 3 de outubro, em Rolante. No mesmo mês, no dia 24, a agência dos Correios de Palmares do Sul foi alvo da quadrilha. A última ação foi em Candelária, no dia 20 de novembro. Como se trata de crime contra um patrimônio público, a investigação ficou a cargo da Polícia Federal, que constatou semelhanças nos três casos. “Foi o mesmo modus operandi: dois caras chegaram na agência, fizeram todo mundo de refém e também as pessoas que iam chegando. Usaram as mesmas armas e até as mesmas roupas”, explicou o delegado Robson Robin, titular da Delegacia de Repressão a Crimes contra o Patrimônio (Delepat) da Polícia Federal.
Os suspeitos já identificados têm entre 20 e 25 anos e são da região do Vale do Sinos – os nomes não foram divulgados pela PF. Segundo o delegado, eles se deslocam a cidades de outras regiões para cometer os roubos. “Nós ainda não sabemos qual a estratégia ou que tipo de informação eles têm que os leva a saírem daqui da região da Capital para assaltarem.” O que se sabe, no entanto, é que as cidades escolhidas precisam ser de pequeno porte. Palmares do Sul, onde houve o segundo assalto, por exemplo, tem cerca de 11 mil habitantes. Dentre as três que tiveram os Correios atacados, Candelária é a que possui o maior número de moradores: 31,6 mil. Rolante tem população de cerca de 20 mil pessoas.
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Os alvos do bando são os cofres dos Correios, que contam com um temporizador. Isso significa que só a partir do horário programado o cofre fica disponível para ser aberto. Segundo o delegado, por essa razão os criminosos precisam invadir as agências e manter todos como reféns até que chegue o horário de abertura. “Em todas as agências, eles ficaram durante uma hora com as pessoas.” Robin explica que, justamente por esse modo de agir, é necessário que os municípios sejam pequenos. “Eles não conseguiriam fazer isso em uma cidade grande. Esse modus operandi pressupõe pouco movimento”, explicou.
O delegado ainda avaliou que os criminosos têm um perfil “profissional”, já que controlam friamente as pessoas. “Pra ficar uma hora dentro da agência, é preciso ter sangue-frio. É um crime grave. Tem crianças, idosos. É muita pressão ficar uma hora sob a mira de uma pistola”, salientou. Dos dois homens já identificados pela PF, chamou a atenção dos policiais o fato de um deles não ter antecedentes criminais. “Nos surpreendeu esse homem, que foi o primeiro a identificarmos, não ter ficha criminal. Mas agora descobrimos que ele está envolvido em outros crimes.” De acordo com Robin, a Polícia Federal segue no trabalho para identificar e localizar os demais integrantes da quadrilha.
Operação Correio Seguro
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- A série de ataques aos Correios motivou a Polícia Federal a deflagrar, nessa terça-feira, a sexta fase da Operação Correio Seguro. Na ação, os agentes cumpriram mandados de busca e apreensão nas casas dos familiares dos dois suspeitos identificados.
- Na residência de um deles, em São Leopoldo, foram apreendidas uma motocicleta roubada e placas de carros roubados, que provavelmente seriam usadas para clonagem de veículos. Conforme o delegado, isso deixa claro que a quadrilha também se envolve em outros tipos de crimes. Os policiais ainda recuperaram R$ 3,6 mil em dinheiro e dez sacos de moedas lacrados – do modo como ficam guardados no cofre da agência – escondidos dentro de uma panela de pressão. Não havia ninguém na casa.
- A PF cumpriu um mandado na casa de parentes de um dos suspeitos em Pinhal, cidade perto de Palmares do Sul. “Como soubemos que ele esteve por lá, pensamos que pudesse fazer a casa como base. Mas não encontramos nada no local.”