O caso da menina de 5 anos que foi vítima de abuso sexual dentro de um hipermercado de Porto Alegre no último sábado causou revolta. O abusador, um homem de 62 anos, aproveitou uma desatenção da mãe para molestar a filha. Mas não é preciso ir até a Capital para encontrar crimes sexuais envolvendo crianças e adolescentes. Em Santa Cruz, os dados assustam: foram registradas 35 casos de abuso sexual até o fim de agosto deste ano. Em todo o ano passado, aconteceram 29.
O aumento nos crimes preocupa ainda mais considerando que esse é o número de registros, e não de menores explorados sexualmente. “São 35 ocorrências policiais, mas a quantidade de vítimas é muito maior. No momento, estamos atendendo ao caso de um padrasto que abusou de duas irmãs. Nas estatísticas, por exemplo, conta como um único crime”, explica a delegada Lisandra de Castro de Carvalho, titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), de Santa Cruz. Segundo ela, ainda que a maioria dos delitos envolva meninas, há um número expressivo de casos em que meninos são as vítimas. A idade varia e há registros envolvendo inclusive bebês. “Esses casos são muito difíceis pois envolvem crianças que nem falam ainda.”
Segundo a delegada, quando um menor contar que sofreu abuso sexual, a orientação é que os pais acreditem no filho. “A criança não tem capacidade para inventar fatos que ela não tenha vivenciado ou visto. Se ela não assiste a filme pornográfico e não viveu uma situação de abuso, como vai inventar que foi tocada?” Em caso de relatos desse tipo, os responsáveis devem levar a vítima até a DPCA, localizada no Centro Integrado, onde ela será ouvida por uma psicóloga. “A maioria dos casos se confirma. Envolvendo crianças, então, é quase 100%.”
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Os pais devem ainda ficar atentos sobre quem fica na companhia da criança quando eles não estão junto. Lisandra ressalta, que se os responsáveis deixarem o menor sob os cuidados de alguém de confiança, é preciso saber se haverá mais alguém junto. As brincadeiras também precisam ser supervisionadas. “Nós tivemos um caso de crianças brincando de esconder. Um adulto foi brincar com elas. E em uma oportunidade, ele se escondeu com uma menina e tocou a genitália dela.”
Na maioria das vezes, o abusador tem proximidade com a criança, que pode ser causada por um vínculo familiar ou ainda físico, como nas situações em que o vizinho é o criminoso. É a partir desse acesso que os abusos têm início. “Há uma escalada de ações. Primeiro o ‘tio’ dá uma bala, depois pede pra sentar no colo, conta uma historinha. Daqui a pouco, ele passa para uma ação mais abusiva.”
Nos estupros envolvendo adolescentes, existem casos nos quais um familiar é o abusador. Há relatos ainda em que a pessoa com quem a vítima se relaciona é o criminoso. “Há casos de ‘ficantes’ que avançam o sinal e fazem coisas que a menina não está a fim de fazer, forçam uma relação. Tudo que é à força caracteriza abuso.”
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Perceba os sinais
- Menores abusados costumam mudar de comportamento. Por exemplo, uma criança que costumava ser extrovertida passa a ficar mais tímida.
- Enurese: a criança regride em alguns aspectos. Uma que já sabe usar o toalete pode voltar a urinar na cama. Dificuldade para segurar as fezes também pode ser um sinal.
- A criança pode passar a ter pesadelos durante o sono.
- Ela começa a evitar pessoas com as mesmas características do abusador.
- Acredite no que está sendo relatado pela vítima. Em caso de dúvidas, procure a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente.
Outros casos
Nas últimas duas semanas, dois homens foram presos, acusados de crimes sexuais na região. O suspeito de abusar de uma menina de 8 anos, em Venâncio Aires, foi detido no dia 12. Com os estupros, a criança contraiu HPV, uma doença sexualmente transmissível. A Polícia Civil acredita que a garota vinha sendo vítima do homem, de 39 anos, há cerca de seis meses. Ele era amigo da família, e os abusos aconteciam na casa onde a menina residia.
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Um dia depois, outro suspeito de abusos sexuais foi preso em Sinimbu. O homem, de 36 anos, teria explorado pelo menos dez meninos de 12 a 17 anos. Os estupros investigados pela Polícia Civil teriam sido cometidos de 2012 a 2017. Nesse caso, ele prometia dinheiro aos adolescentes, que viviam em situação de vulnerabilidade, em troca de vídeos e fotos íntimas, além de relações sexuais.
Na última sexta-feira, um suspeito de abusar de duas crianças, de 5 e 7 anos, foi detido em General Câmara. O acusado morava nas proximidades da casa das vítimas e era contratado pela mãe quando ela precisava se ausentar. Os abusos aconteceram em pelo menos cinco ocasiões.
DPCA
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Além de contar com a psicóloga que faz os pareceres sobre os depoimentos das vítimas, há um serviço paralelo que dá suporte psicoterápico às vítimas e familiares na DPCA.
A iniciativa, que acontece em parceria com a Unisc, foi inaugurada recentemente e conta com apoio de estagiárias do curso de Psicologia. “Elas fazem um acompanhamento após o fato. É um tratamento para que a vítima consiga superar o trauma”. O acompanhamento, garante a delegada, tem dado “bons resultados”.
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