Se a principal finalidade do Exército Brasileiro é a defesa da Pátria, o efetivo precisa estar bem preparado para o combate. Nesta semana, 150 recrutas da 1ª e da 2ª Companhia do 7º Batalhão de Infantaria Blindado (7º BIB), sob comando dos capitães Freitas e Santana, participaram de um acampamento para instruções individuais básicas em uma área de 100 hectares em Cerro Alegre Baixo, interior de Santa Cruz do Sul. É uma oportunidade para que os jovens possam aplicar os conhecimentos teóricos na prática. Nessa quinta-feira, 11, a Gazeta do Sul foi conferir de perto a atividade e constatou: a vida de recruta exige muita força de vontade, valentia e união.
Suar na paz para não sangrar na guerra
Os 150 recrutas foram divididos em grupos menores e fizeram um rodízio em cada um dos exercícios. Neste acampamento, foram quatro oficinas: construção de abrigo, orientação, atendimento e transporte de feridos e progressão diurna. Em cada uma, membros do efetivo profissional explicam as técnicas para cada situação com demonstrações e, depois, as cobram na prática, para que sejam executadas da maneira correta.
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O comandante do 7º BIB, coronel Christian Augusto dos Santos Cravo, utiliza a frase “o suor poupa o sangue” para justificar a importância do aprendizado e da assimilação de cada procedimento.
Cravo destaca, porém, que os recrutas realizam os exercícios com segurança. No campo de instrução, há diversos pontos com água para que os participantes possam se hidratar. “Temos um cuidado muito grande com a segurança. Se alguém se lesiona ou está com algum problema médico, fornecemos o atendimento necessário”, ressalta. Para Cravo, o recruta aprende valores como hierarquia e disciplina, por exemplo, que poderá levar para a vida civil após o serviço militar.
“Eles vão aprimorar a formação como cidadãos, irão valorizar o estudo. No treinamento, terão contato com situações extremas, como cuidar de um companheiro ferido ou não colocar o grupo em perigo”, completa. Após o período básico, os recrutas passarão a ter contato com instruções qualificadas, de acordo com determinadas funções, como infantaria, artilharia, material bélico e comunicação, por exemplo.
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A Progressão diurna
A progressão consiste em avançar sobre o terreno, geralmente, em uma zona hostil. Durante um combate, é fundamental que o soldado saiba se locomover a salvo. Para isso, precisa aprender técnicas para rolar, rastejar e engatinhar sem atrair a atenção do inimigo e sem colocar a segurança do grupo em risco. A contagem do tempo também é fundamental.
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Quando o inimigo precisa trocar a munição, por exemplo, é um bom momento para se deslocar correndo – mas por no máximo três segundos. Ao mesmo tempo, em terrenos alagadiços como no campo de instrução, é necessário cuidado para não molhar o cano do fuzil.
O que levam na mochila?
Saco de dormir, manta leve, poncho, marmita, talheres, munição, água, ração, bateria para rádio comunicador, itens de higiene, kit de primeiros socorros, pá, picareta, produtos de limpeza para a arma e coturnos, muda de roupa, material de costura, material de camuflagem e material de anotações. Para um dia no campo, não é necessário carregar todos os itens.
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Com isso, o peso pode variar entre 8 e 12 quilos. Com todos os itens, para maiores períodos, o peso pode chegar a 30 quilos ou até mais, conforme o tipo de munição. Também é necessário isolante térmico preso à mochila e cantil e porta carregador de fuzil presos ao cinto, além do capacete.
COMO CONSTRUIR UM ABRIGO
Com a picareta e a pá, os combatentes cavam um buraco que precisa ser profundo, até a altura do peito, para que as mãos fiquem livres para atirar. A largura é de dois capacetes e o comprimento, de dois fuzis. No buraco, são moldados dois bancos na terra, para que a dupla possa sentar. A cobertura é feita de madeira e camuflada com a vegetação do terreno. A posição do abrigo é importante.
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O ideal é que seja no alto e que se tenha uma boa visão da área plana. Enquanto se cava, o fuzil precisa estar sempre ao alcance. Após o abrigo ser finalizado, cada homem ficará em diagonal na posição de tiro.
Ninguém é deixado para trás
Cada combatente precisa ter noções de primeiros socorros. Muitas situações em combate exigirão conhecimento para salvar um companheiro ferido, como em picadas de animais peçonhentos, queimaduras, fraturas expostas, afogamentos e hemorragias. Além disso, precisam saber como carregar o ferido, seja em uma maca ou sobre os próprios ombros.
Para não se perder
Na instrução de orientação, o combatente que carrega a bússola não pode carregar o fuzil. Portanto, um dos homens do grupo precisa carregar dois fuzis. O homem-carta passa a direção, enquanto o homem-bússola registra as coordenadas fornecidas no dispositivo. O avanço acontece a pequenas distâncias e o grupo volta a se movimentar quando se agrupa em um ponto de referência.
O deslocamento a pé é uma das principais características da Infantaria e, para tanto, perder-se no campo de batalha está fora de cogitação.