Faz um ano que a comunidade santa-cruzense tem acesso a um projeto singular de combate a um dos principais problemas de saúde neste início do século 21. Trata-se do Enxugando Lágrimas, uma iniciativa criada pelo empresário Cláudio Spengler com o objetivo de conceder apoio e orientar pessoas que tenham depressão ou estejam vulneráveis emocionalmente. Por meio de palestras com temas previamente escolhidos, a iniciativa propicia um ambiente de acolhimento onde os participantes podem externar suas dúvidas e buscar uma orientação adequada. “Nosso projeto quer incentivar o diálogo e acabar com esse tabu da vergonha. Ter depressão não é vergonhoso. É apenas mais uma doença que pode ser tratada como qualquer outra”, explica o idealizador.
Ao lado do psiquiatra Fernando Godoy Neves, Spengler realizou sete eventos no ano passado – todos com palestras de médicos especialistas –, com lotação superior a cem pessoas. “São familiares, pacientes em tratamento e até pessoas que não querem ser vistas, mas buscam algum tipo de apoio. O Enxugando Lágrimas é aberto, é gratuito e tem como objetivo mostrar que qualquer um, independente de condição social ou idade, pode sofrer de depressão e ela pode ser tratada”, complementa.
Temas como depressão na infância e juventude, suicídio, depressão na terceira idade e saúde mental da mulher são exemplos do que já foi abordado. Diante da repercussão do último ano, a dupla de realizadores já está envolvida no cronograma das palestras para 2019. Marcado para o dia 25 de março, o primeiro encontro será ministrado por Fernando Godoy Neves e terá como tema: Falando abertamente sobre depressão.
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“Ainda que sua manifestação seja muito diversa, a depressão é basicamente aquilo que tu sente e não quer sentir. A pessoa não quer estar daquele jeito, mas não consegue fazer nada a respeito. É mais poderoso que sua própria vontade”, esclarece o especialista. Neves acrescenta que um dos grandes ganhos do projeto é o fato de os encontros – e a possibilidade de as pessoas serem ouvidas – não ocorrerem em um consultório ou ambiente hospitalar. “O fato de acontecer no salão de eventos de um hotel incentiva que pessoas em dúvida – e que talvez não procurassem outros meios – venham até nós. Me pergunto: se elas não aparecessem ali, apareceriam onde? É preciso fomentar cada vez mais esses espaços.”
Atenção aos sinais
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão afeta 322 milhões de pessoas no mundo. E para evitar que o os sintomas se agravem a ponto de causar o suicídio, Fernando Neves chama a atenção para a importância de ficar atento aos sinais. “A pessoa muda de comportamento. Ela fica menos paciente, menos tolerante e faz alguns comentários como ‘Eu não sirvo para nada’; ‘Eu não faço nada direito’; ‘Que vontade de sumir’. Além disso tem muita insônia, choro fácil e se torna pessimista ao extremo.” O psiquiatra observa, porém, que essas não são as únicas manifestações. “Há casos em que um tratamento psicoterápico resolve, em outros precisamos utilizar medicação. O importante é que a pessoa procure ajuda.”
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Agricultores também serão contemplados
Os agricultores do Vale do Rio Pardo também serão contemplados pelo projeto Enxugando Lágrimas. Atentos às altas taxas de suicídio no interior, Cláudio Spengler e o psiquiatra Fernando Neves vão organizar um encontro em Sinimbu no dia 22 de maio. Com a temática depressão e suicídio, a reunião será destinada aos associados do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. “A população rural é um grupo de risco. Eles estão mais isolados e apresentam um perfil mais ‘duro’, que se preocupa com a honra e com o pagamento das dívidas.”
Para a dupla, é preciso voltar o olhar a essa população e trabalhar sério para que os números não cresçam ainda mais. Spengler, que também é espírita e autor do livro Viver sempre, autoextermínio nunca, de 2018, distribuiu 700 exemplares da obra para todas as sedes do sindicato no Vale do Rio Pardo. A ideia é democratizar o acesso à informação, conscientizar os agricultores sobre a importância do tratamento e trazer um olhar diferenciado sobre o tema.
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“O espiritismo diz que o que vale é o que você fez para o próximo, e eu acredito muito nisso. É por isso que estou à frente desse projeto e quero que as pessoas conheçam, participem e não tenham vergonha.” Spengler também acrescenta que disponibiliza seu tempo para ouvir pessoas que tenham dúvidas relacionadas ao assunto e necessitam de algum aconselhamento. “Farei o possível para orientar da melhor maneira possível e encaminhálas a realizar o tratamento certo”, salienta.