Em 2018, conhecemos 21 países, cinco continentes e culturas tão plurais quanto únicas. Por meio da vivência de nossos conterrâneos, o Longe de Casa mostrou os motivos que fazem a educação da Suécia ser uma das melhores do mundo, lembrou porque a dança ameniza as dificuldades dos moçambicanos e entendeu que rezar cinco vezes por dia é, sim, importante para indonésios e israelenses. Nesses 12 meses, a série priorizou expor as singularidades de cada cultura e reforçou que as diferenças não servem para distanciar. Servem para aproximar estrangeiros de nativos e, no fim das contas, conectar histórias de vida. Uma prática, aliás, que nossos personagens souberam incorporar muito bem.
É justamente nesse clima de respeito ao espaço de cada indivíduo mundo afora que o Longe de Casa, para fechar o ano de 2018, relata a história de Célio Goulart, 44 anos. Natural de Pinheiro Machado, mas santa-cruzense de coração – afinal, foi por aqui que deu o pontapé na carreira –, o desenhista industrial começou suas andanças em 2005 e, desde então, já conheceu 12 países e morou em quatro. O primeiro destino? Nova York.
No distrito de Manhattan, o profissional trabalhou como trainee de desenvolvimento de embalagem na Philip Morris Internacional e ganhou gosto pela vivência estrangeira. “Morar nos Estados Unidos me ensinou que o sol nasce para todos, que não há milagres, e que tudo é uma questão de trabalho e esforço.” Rapidamente Goulart absorveu da cultura local que a perseverança é palavra-chave. “Percebi que Manhattan era enorme e que apesar do tamanho, havia espaço e oportunidade para todos.” Bastou um ano na terra do Tio Sam para Goulart receber uma nova proposta e mergulhar em outras experiências: Lausanne (Suíça), Buenos Aires (Argentina) e agora Londres (Inglaterra), onde desempenha a função de gerente global de desenvolvimento de projetos de embalagem pela British American Tobacco (BAT).
Publicidade
Residir em uma das maiores metrópoles do mundo – sonho desde pequeno – ensina diariamente ao desenhista que ser cidadão do mundo é respeitar o diferente. “A cada dia me deparo com situações inusitadas, especialmente nos metrôs da cidade. Pessoas com vestimentas distintas e por vezes engraçadas; de diferentes gêneros e orientações falando múltiplos idiomas dentro do vagão.” E complementa. “Meu maior aprendizado e realização é este: viver em harmonia com todas estas diferenças. O que aumenta a cada dia a visão para um mundo onde a liberdade existe para todos.” É com este exemplo que ele busca contagiar inspirar quem está a sua volta.
Interagir com o desconhecido
Contagiado pelo gosto de conhecer novos lugares, Célio Goulart não tem dúvidas. Seu desejo constante é o desconhecido e desvendar as peculiaridades de cada local. Entre as cidades que visitou, a que considera mais inesquecível é Paris. “É simplesmente fantástica. Em cada rua, você sempre vai encontrar um detalhe que a história já mencionou em algum momento. Passear pelo Centro de Paris é como abrir um livro de história, entrar para dentro dele, respirar, ver e interagir com aquela obra.” Ainda que colecione aprendizados, para Goulart o mais latente é acreditar nas pessoas. “Ao longo da vida sempre pensei que europeus e asiáticos tinham capacidades superiores às pessoas dos demais continentes. Após minhas viagens, porém, percebi que qualquer povo tem a mesma capacidade moral e intelectual. A diferença está basicamente na cabeça das pessoas e de como elas encaram e desafiam seus próprios limites”, afirma.
Idiomas
Se existe uma atividade que motiva Célio Goulart, ela se chama aprender um novo idioma. Quando ainda morava em Santa Cruz, ele aprendeu o inglês praticamente de forma autodidata. “Escrevi para a BBC de Londres explicando que não tinha dinheiro para comprar material de inglês. Pedi jornais velhos para eu poder ler em casa e eles me mandaram dezenas de exemplares.” Não satisfeito, Goulart assistiu com afinco às fitas gravadas pelo seu ex-chefe de programas da CNN. “Enchi a casa de posts, anotações e recortes de revistas. Era o mapa visual que eu precisava.” Também aprendeu turco e espanhol e agora dá início a outro ousado projeto. “Quero aprender o idioma como forma de sobreviver e reagir às necessidades do mundo dos negócios”, complementa.
Publicidade
Na Suíça, harmonia
Dos quatro países em que já residiu, Goulart destaca a Suíça como um caso à parte. “Lá se fala quatro idiomas (alemão, francês, italiano e romance) e, apesar disso, não há brigas internas.” Ele admira o fato de o país contar com culturas distintas e, mesmo assim, evitar conflitos. “A Suíça, com grande sabedoria, mostra para o mundo que sim, é possível conviver em harmonia mesmo diante de um cenário onde diferentes vivências precisam compartilhar o mesmo espaço.” Não por acaso, segundo Goulart, a sede europeia das Nações Unidas está localizada em Genebra, o que potencializa ainda mais o conceito de que o mundo deveria conviver como se fosse uma única nação.
Pressa em Nova York
Conviver entre os arranha-céus de Nova York e entender o (acelerado) ritmo da cidade foi um dos principais impactos que Célio Goulart sentiu no primeiro país onde morou fora. “Um dos pontos mais marcantes para mim sobre os Estados Unidos é que tudo precisa ser feito rápido. Nova York tem pressa, o consumo é em massa, e as coisas precisam ser para ontem”, reflete. Outra característica comum aos norte-americanos é o senso de amor à pátria. “Por lá vi muitas casas com bandeiras e tive a sensação de que o coração deles bate, sim, mais forte no famoso 4 de julho.”
Na Rússia, a importância da história
Ainda que não tenha residido na Rússia, o desenhista industrial afirma que uma das cidades visitadas que mais o impressionou foi São Petersburgo. Foi lá que viveu a “White Nights”, fenômeno que ocorre entre os dias 11 de junho e 2 de julho de cada ano e faz a cidade não ter noite. A sensação, conforme Goulart, é de um entardecer sem fim. “Isto acontece em função da posição geográfica da cidade no globo, que por estar muito próxima do círculo polar ártico, recebe a incidência constante do sol, evitando o surgimento natural da noite.” Outro ponto que chama a atenção do conterrâneo é o fato de o estudo da história local ser levado muito a sério pelas escolas. “Os jovens são obrigados a saber a história da cidade onde vivem, tanto que algumas provas são aplicadas pelos professores ao ar livre. Os estudantes saem pela rua e devem falar, por exemplo, sobre determinado prédio histórico”, lembra.
Publicidade
Em Londres, a original Camden Town
Desde novembro de 2017, Célio Goulart reside em Londres com o filho Joaquim, 2 anos, e a esposa, Juliana Freitas, companheira que, segundo ele, deu apoio incondicional nas mudanças de país (e de vida). O casal, aliás, já definiu seu lugar favorito na cidade: é a região de Camden Town. Trata-se, segundo ele, de um distrito marcado pelo agito, mas também pela identidade. “O comércio local é definido pelo artesanato. As peças são desenvolvidas com exclusividade e design único e não há objetos produzidos em larga escala. Tudo é feito por artesãos locais com criatividade.” Ainda em se tratando de Londres, Goulart dá a dica: evite contato visual no transporte público. “Olhar em demasia pode ser considerado uma forma de intimidação. Eles evitam ao máximo”, observa.