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Longe de casa

Santa-cruzense conta como é morar na Austrália

Faz oito anos que Fernanda Werle Melz, 31 anos, arrumou as malas e colocou na bagagem, além dos pertences, uma enorme vontade de aprimorar o inglês. Em 2011, a santa-cruzense desejava se comunicar com o mundo, mas também já alçava voos maiores: queria conquistar uma vaga em alguma multinacional no Brasil. O que o destino reservou para a nossa conterrânea, porém, foi uma experiência profissional lá mesmo, em solo australiano. Hoje ela reside em Perth e trabalha como Project Readiness Specialist, especialista em governança e supervisão de projetos pela mineradora BHP.

Ambientada com os aussies, Fernanda sente que evoluiu muito com a vivência na Austrália. Não só aprendeu a conviver com as diferenças – gente de todos os tipos e crenças buscam o país para ganhar a vida –, como entendeu que qualidade de vida não é opção. É prioridade. É por isso que não assume uma carga horária de trabalho exaustiva e procura realizar atividades que façam bem para ela mesma. “Os australianos nunca colocam o trabalho acima da família ou dos amigos. Aqui começa-se cedo para sair cedo e aproveitar a vida depois. Na empresa onde trabalho, entre 16 e 17 horas, metade dos empregados já foi embora”, salienta.

Em alguns dias a santa-cruzense vai de bicicleta para o trabalho; em outros, pega o CAT bus, uma linha de ônibus que circula de graça na região central da cidade. Depois dos afazeres diários é hora de voltar para casa, organizar uma questão que outra e, quando houver oportunidade, sair com os amigos. O fim de semana é que ganha um gostinho ainda mais especial. Quando pode, Fernanda e seu grupo de conhecidos – amigos de todas as partes do mundo – buscam novos lugares na Terra dos Cangurus. 

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Quando não acampam, passam o dia em uma das lindas praias do país ou organizam um piquenique em um dos muitos parques distribuídos pela cidade. “As pessoas são muito ativas. Acordam cedo, gostam de praticar esportes, da natureza, e de aproveitar o dia. Tanto é verdade que balada, aqui, não termina tão tarde. No máximo 1 hora da manhã, todos já estão voltando para aproveitar o dia seguinte”, diz.

A noção de espaço, porém, foi uma questão que Fernanda precisou se acostumar. Isso porque os aussies não costumam fazer muito contato físico, exceto se forem íntimos. “Até nas filas de mercado ou banco as pessoas mantêm uma certa distância”, observa.

Foto: Arquivo PessoalPelas estradas do Outback Australiano
Pelas estradas do Outback Australiano

 

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País é aberto para estudantes

Trabalhos de limpeza, lavar pratos, atendimento e hospitalidade são os serviços que os brasileiros mais ocupam na Austrália.  Segundo Fernanda Melz, com o dinheiro que recebem os intercambistas conseguem se sustentar e ainda movimentam parte da economia no local. “O país é muito aberto para estudantes que buscam aprimorar o inglês, até porque movimenta a economia e gera emprego. Trata-se de uma experiência inesquecível e para a vida toda.”

Três curiosidades da Austrália

1 – A Austrália está entre os dez melhores países para ser imigrante, segundo estudo produzido em parceira entre o British Council e  a organização europeia para políticas de imigração Migration Policy Group. Isso explica porque 25% da população não é da Austrália e também porque Fernanda, assim como ela mesma diz, tem amigos de toda “raça, cor, credo e nacionalidade”.

2 – Melbourne, uma das cidades mais conhecidas do país, foi considerada por sete vezes consecutivas a melhor do mundo para se viver (2011 a 2017). Em 2018 ficou atrás apenas de Viena, Áustria.

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3 – Os australianos são muito conectados com a natureza e lutam pela causa animal. Segundo Fernanda Melz, mesmo com recorrentes ataques de tubarões, os moradores de Perth, por exemplo, seguem defendendo sua permanência, pois entendem que os animais têm a sua função a desempenhar. Os aussies também adoram trilhas. Parques nacionais oferecem estrutura com bebedouros e banheiros. Existem trilhas com até 200 quilômetros ligando um parque ao outro.

Foto: Arquivo PessoalNa Austrália também neva. Fernanda curtiu uma estação de Sky em Melbourne
Na Austrália também neva. Fernanda curtiu uma estação de Sky em Melbourne

 

Churrasco e carne de canguru

Acredite, o churrasco, mais conhecido como barbecue ou BBK, pode ser considerado um dos pratos típicos da Austrália. Segundo Fernanda, o modo de fazer é diferente. Por lá não existe espeto, nem cortes com os quais os gaúchos estão acostumados. “Eles compram bifes ou salsichas e assam em um grill. Depois, montam com pão de sanduíche ou cachorro quente”, explica.

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Assim como no Rio Grande do Sul, o churrasco é uma espécie de ritual, realizado com a desculpa para encontrar amigos e “jogar conversa fora”. A diferença é que o governo australiano fornece estrutura para que o BBK seja feito em parques ou mesmo na praia. Aí entra o bom-senso. Os australianos devem assar a carne com papel alumínio e, caso as churrasqueiras sujem, devem limpá-las e deixá-las intactas para o próximo que vai usar.

Uma curiosa iguaria gastronômica da Austrália também é a carne de canguru, vendida até nos supermercados em forma de hambúrguer, salsicha ou bife. Ainda que pareça estranho – o animal símbolo do país ser consumido por seus próprios habitantes –, é algo cultural. Isso porque a caça aos cangurus teve início com os aborígenes (primeiros povos a desbravarem a Austrália) e permanece até hoje.

Perto da Indonésia

A cidade onde Fernanda Melz reside e trabalha, Perth, com quase 2 milhões de habitantes, é uma das áreas metropolitanas mais isoladas do mundo. Sua localização, porém, não torna a cidade menos desenvolvida. Perth vive uma expansão econômica e ainda oferece parques, praias e um ambiente cosmopolita.

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O fato de estar distante de outros municípios australianos também traz uma vantagem única. É porque Bali, paraíso de águas cristalinas da Indonésia, está mais perto de Perth do que Sydney, por exemplo. “É interessante porque dá para encontrar voos baratos para a Ásia. Até a Indonésia são apenas três horas de avião.”

Mas ainda que goste de viajar para outros países – em 2014 conheceu o Japão –, Fernanda considera Byron Bay, pequena cidade turística localizada na costa leste da Austrália, um paraíso particular. “Além de ser tranquilo, tem um clima hippie, perfeito para relaxar.”

Confiança mútua

Fernanda Melz também se impressiona com o respeito dos australianos. Independente do cargo que ocupam, seja garçom, médico ou pedreiro,  todos são tratados da mesma forma. “As pessoas não precisam estar em uma posição de chefia para ganhar bem aqui. Existe um respeito mútuo por qualquer tipo de profissão.”

Trabalhos físicos e manuais, aliás, são muito valorizados por lá e o salário mínimo não baixa de AU$ 20,00 por hora. A honestidade é outro ponto que surpreende Fernanda. Por lá não há operadores de caixa do supermercado e nem frentistas em postos de gasolina. Ou seja, todo o procedimento é feito pelo próprio cliente. “Existe uma confiança mútua entre as pessoas. Elas esperam que você seja tão honesto quanto elas. Hoje não consigo me imaginar em um mundo diferente”, completa.

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