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Acusações

‘Nunca houve fura-fila’, afirmam os investigados em Vera Cruz

As investigações que deixaram Vera Cruz em ebulição no início de dezembro passado teriam se originado em “denúncias infundadas e de cunho político”. Esse é um dos principais argumentos dos líderes petebistas afastados do cargo após a Fura-Fila, como foi batizada a operação do Ministério Público (MP) que apura o suposto favorecimento, em troca de votos, de pacientes que aguardavam procedimentos via SUS. Os investigados poderão retomar suas funções no próximo dia 15, amparados por decisão judicial.

Nessa segunda-feira, dois dos maiores expoentes do PTB em Vera Cruz – e principais alvos da operação – estiveram na  redação da Gazeta do Sul para levar a público suas alegações. Eduardo Viana, à época presidente da Câmara de Vereadores, e Alcindo Iser, vice-prefeito afastado e presidente municipal do PTB, vieram acompanhados do advogado Guilherme Valentini, do escritório BVK. Na visita, também representaram os colegas de partido afastados Eliana Giehl, que era a secretária de Saúde, Mártin Nyland, ex-titular do Desenvolvimento Rural, e o vereador Marcelo Rodrigues Carvalho. 

Iser e Viana foram categóricos em afirmar que a raiz de toda a operação estaria em denúncias  remetidas ao MP por um grupo de adversários políticos. “É gente que foi mal em eleições e perdeu cargos”, disse Viana. O vereador não negou que, constantemente, era procurado por pacientes que aguardavam procedimentos na fila do SUS. “Eu recebia 15 ligações por dia. Vida de vereador é assim. As pessoas ligam para falar de problemas de saúde, de lâmpadas queimadas, e tentamos ajudar.” 

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Segundo os investigados, o que se fazia então era buscar informações sobre cada caso, junto à pasta da Saúde, para repassá-las ao paciente. “Era só isso, sem nenhuma ilegalidade. Nunca houve fura-fila em Vera Cruz, até porque o sistema do SUS nem permite que se passe um na frente do outro. Só tentávamos obter notícias para pessoas que nos procuravam, muitas vezes, desesperadas”, afirmou Alcindo Iser. Para ele, é esse tipo de conversa que aparece nas gravações feitas a partir de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça, durante as investigações do MP. “Dependendo de como a pessoa se expressa ao telefone, uma gravação pode ser mal interpretada”, complementou Valentini. 

Viana não escondeu que, em algumas situações, “fez pressão” em prol de pacientes que, para ele, não estariam recebendo a atenção devida. “Às vezes, percebemos que a doença é grave e a pessoa não teve o atendimento adequado. Nesses casos, buscamos alertar o pessoal da saúde para a gravidade da situação, mas sem favorecimento, sem passar na frente de outros.”

RELEMBRE

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  • A Operação Fura-Fila investiga casos de pacientes que teriam sido colocados na frente de outras pessoas nas listas de espera por procedimentos via SUS, supostamente em troca de votos. 
  • No dia 5 de dezembro, o Ministério Público, com apoio de forças policiais, cumpriu 27 mandados de busca e apreensão em Vera Cruz. Na ação foram afastados dos cargos, por ordem judicial, o vice-prefeito Alcindo Iser, o secretário municipal de Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente, Mártin Fernando Nyland, a titular da Saúde, Eliana Giehl, e os vereadores Eduardo Viana e Marcelo Rodrigues Carvalho, além de três assessores parlamentares, da diretora da Câmara e de uma servidora da Secretaria da Saúde.  
  • No dia 18 de janeiro, o juiz Marcelo da Silva Carvalho, da Comarca de Vera Cruz, autorizou a volta dos dez agentes públicos afastados da Prefeitura e Câmara de Vereadores. Em seu despacho, afirmou que não existia mais risco ao trabalho do MP, dado que a busca por provas materiais no município havia se encerrado. Ele determinou que o retorno ocorra em 15 de fevereiro, mesma data em que a Câmara de Vereadores encerra o recesso parlamentar.

Promotoria analisa documentos antes de interrogar os suspeitos

De acordo com a promotora de Vera Cruz,  Maria Fernanda Cassol Moreira, o Ministério Público segue analisando os documentos recolhidos durante o cumprimento de mandados em 5 de dezembro. “São muitos documentos que estão sob análise. Depois dessa fase, vamos começar a ouvir os investigados”, disse. 
Durante a visita dessa segunda à redação, Eduardo Viana e Alcindo Iser afirmaram que não haveria documentos corroborando as acusações. Segundo Iser, teriam sido recolhidos dele um recibo de compra de telhas, destinadas a uma obra particular em sua propriedade rural, e o contrato de aluguel de sua loja. “Minha mulher e meu filho nunca tinham visto polícia, e tivemos nossa casa invadida por um forte aparato”, reclamou. 

Viana disse que teve recolhidas algumas cópias de atestados de pacientes, documentos que ele alega estar portando em busca de informações sobre cada caso. “Tenho uma cunhada que espera há um ano por  uma cirurgia. Eu mesmo estou com uma pedra no rim e vou extrair no particular. Não sou um fraudador do SUS.”
A promotora Maria Fernanda, porém, adianta que o Ministério Público vai encaminhar denúncia contra os suspeitos, ao término das investigações. “Para mim está bem claro que eles favoreciam determinadas pessoas, prejudicando outras. Isso está demonstrado pelas provas já colhidas.”

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No entender dela, os áudios das escutas são comprometedores. “São 500 páginas de transcrições, que detalham como ocorria o esquema e demonstram, a partir dos diálogos, que os envolvidos sabiam estar burlando a lei.” De acordo com a promotora, agentes à paisana também gravaram imagens de assessores transportando pacientes para consultas e até ao Cartório Eleitoral, para o cadastro biométrico. “Queriam garantir o voto dessas pessoas.”

Brita
Alcindo Iser comentou ainda as acusações de que cargas de brita teriam sido repassadas irregularmente. Segundo ele, a medida está prevista na lei municipal de Vera Cruz, que prevê a garantia de acessibilidade às propriedades rurais.

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