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Parte 2

Made in Vale do Rio Pardo: transportando a carga tributária

O Vale do Rio Pardo movimenta cerca de 30 mil contêineres a cada ano. Para todo esse fluxo, são necessárias pelo menos 45 mil viagens entre a região e portos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Só nessas rotas estão envolvidos cerca de 200 caminhões, que devoram 13,6 milhões de litros de diesel, gastam cerca de R$ 41 milhões em postos de combustíveis e injetam R$ 9,14 milhões nas concessionárias de pedágios a cada ano. 

Nessa conta milionária seguem de carona companheiros indesejáveis de viagem, como a carga tributária, a complexa legislação e a péssima condição das estradas. Entre quem está envolvido no setor logístico, o discurso é uníssono: o transporte rodoviário de cargas é um negócio cada vez melhor para o poder público e pior para empresários, motoristas e postos de combustíveis, além de empresas e prestadores de serviço ligados ao segmento. “O diesel e o motorista juntos representam cerca de 60% do preço do frete. No caso da mão de obra, ainda é possível ajustar soluções. Já em relação ao combustível, não. Sobe e não há como repassar o acréscimo. Por isso, estimamos que atualmente o frete está com deficit na faixa de 35%. Em algumas rotas houve até decréscimo no valor cobrado”, revela Lauro Valdívia, assessor técnico da Associação Nacional dos Transportadores de Cargas e Logística (NTC).

Para o poder público, essa realidade pouco interfere. Aliás, é um excelente negócio, já que a cadeia automotiva é uma grande usina de impostos. Depois de adquiridos, caminhões, automóveis e motocicletas continuam gerando uma série de taxas e tributos por décadas, o que garante continuidade de receita aos cofres públicos. IPVA, PIS/Confins, Cide, IPI, IOF, ICMS, DPVAT são só alguns deles, tanto em relação à aquisição do próprio bem como na contratação de serviços como postos de combustíveis, mecânicas, autopeças, lavagens, concessionárias de pedágio, entre outros.

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Num momento de deficit nas contas públicas, são números que ajudam a explicar por que não há interesse governamental em transformar a matriz modal brasileira, desafogando as rodovias com investimentos em hidrovias e ferrovias. “No frete de curta distância, até mil quilômetros, cerca de 95% do transporte é feito pelo modal rodoviário. Mesmo com toda essa demanda, o setor está em crise. Isso mostra como o cenário é complexo”, diz o delegado regional do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Rio Grande do Sul (Setcergs), Alaor Canêz. 

A falta de uma política específica para o setor é outra pedra no caminho. A fartura de crédito e as facilidades para a compra de caminhões nos últimos anos geraram um desequilíbrio entre oferta e demanda do serviço, que se agravou com a recessão econômica. Com menos gente comprando, as lojas diminuem seus estoques, o que retrai a produção da indústria, que vai precisar de menos matéria-prima. O setor de transporte perde em todos os elos dessa cadeia. “O excesso de oferta fez com que os preços dos fretes não acompanhassem a elevação dos custos operacionais das empresas, principalmente com salários e óleo diesel. O setor está com um alto grau de endividamento. Vemos muitas empresas grandes e tradicionais passarem por dificuldades”, completa Canêz.

EFICIÊNCIA

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Com 21 anos de experiência na área de logística, o empresário João Heck administra uma frota de 36 caminhões. Reconhece que o setor passa por dificuldades, mas acredita que em momentos de crise, o mercado faz uma seleção natural. “As particularidades na prestação de serviço para o setor do tabaco sempre exigiram muita gestão das transportadoras. Hoje, essa eficiência nos credencia a atuar noutras regiões do Estado e do Brasil.” Segundo ele, o uso de rodotrens (articulados que transportam dois contêineres) tem sido fundamental para manter os custos no limite, já que há economia em combustível, pessoal e outras despesas. “A elevação nos preços do diesel, folha salarial, pneus e tributos nos afeta profundamente.”

O fator diesel

De todos os componentes do preço do frete, nenhum é tão oneroso às empresas e lucrativo ao poder público como o diesel. Levantamento da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis aponta que em 2016 foram faturados no País R$ 166,1 bilhões com o produto. Desse valor, o governo federal ficou com cerca de R$ 15 bilhões (Cide e PIS/Cofins) e os governos estaduais com R$ 24,2 bilhões (ICMS). Mas a conta vai além. Na prática, a cada tanque cheio de diesel, apenas 53% do preço se refere ao produto. O restante se dilui em tributos, frete, inclusão obrigatória do biodiesel, margens de distribuição e revenda. A margem média das revendas em 2016 ficou na faixa de 11,3%.

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Composição do preço do diesel:
Fretes            2%
Biodiesel            6%
Margens (distr. e revenda)    15%
Tributos            24%
Diesel            53%

COMPARE

Da região a Rio Grande:
Preço médio do frete por contêiner: R$ 2 mil (ida e volta)
Distância: 700km
Consumo médio caminhão/carreta: 2,5km/litro
Consumo médio caminhão/rodotrem: 1,9km/litro
Consumo total diesel: 368 litros
Pedágios: R$ 229,00 por contêiner

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