Paulo Roni Toledo de Moura tem algumas manias. Adora falar “geralmente”, não gosta de sair da cidade e insiste em ser caprichoso. Rio-pardense radicado em Santa Cruz do Sul, não pode ver folhas caídas. Garrafas sobre o gramado, então, deixam ele chateado. Na companhia de um kit com vassoura, pazinha e carrinho para depositar o lixo, ele limpa a Praça da Bandeira há 12 anos. E tem orgulho de dizer que a deixa “ó, um brinco”.
Aos 55 anos, seu Paulo já virou patrimônio da praça. Pena que nem todos que o cumprimentam perguntam seu nome. “Tem gente que para e até conversa comigo, mas raramente questionam sobre quem eu sou.” Mas o fato de os pedestres não o conhecerem não parece importar muito. Todo orgulhoso, ele entende a relevância do trabalho e faz questão de deixar a falsa modéstia de lado. “Eu mantenho isso aqui limpo para todo mundo poder aproveitar. Por isso a maioria vem para cá no domingo”, exclama, com um sorriso.
Seu Paulo vive em Linha Santa Cruz e divide uma pequena residência com a mãe, Ieda, e os dois irmãos, Giovana e Luisa. Todos são de Rio Pardo e vieram para Santa Cruz em busca de emprego. À época, meados de 1980, o primeiro a conseguir um trabalho foi outro irmão, seu Santo. Possivelmente você já o viu. Sabe aquele senhor que cuida do banheiro da Praça Getúlio Vargas e curte a brisa após o almoço sentadinho embaixo de uma árvore, na Júlio de Castilhos? É ele. “Foi esse irmão que conseguiu uma vaga pra mim na Prefeitura. Desde então, não saí mais.” O gari da praça tem sonhos modestos. Quer apenas trabalhar mais dez anos para depois se aposentar. “Eu gosto de Santa Cruz. É uma cidade tranquila. Me faz bem estar aqui.”
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Aos fins de semana, aproveita para capinar o pátio da casa – não deixa a habilidade de lado nem nas horas vagas – e ficar um tempo com a família. Às festas, porém, diz que já deu um tempo. “Eu ia, geralmente, assim, em quermesse. Mas agora não vou mais. É bom ficar em casa.”
À moda antiga
Paulo não é fã de tecnologias. Celular ele dispensa e garante que não faz falta. Já com a televisão é mais aberto, mas só gosta de assistir futebol. “Geralmente eu só olho jogo do Inter.” Colorado de coração, o gari aprecia uma conversa sobre futebol e já comemora a alavancada do time para a Série A.
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Só sente falta de uma coisa: a camisa do clube. Seu Paulo nunca teve acesso a uma vestimenta do Internacional e diz, um pouco encabulado, que gostaria de receber de presente um fardamento. Mas se engana quem acha que, daí, ele “não tiraria a camisa do couro”. “Não sou muito dessas coisas. Prefiro ser mais discreto.”
Para quem quiser conhecê-lo, basta dar uma passadinha ali na Praça da Bandeira de segunda a sexta. Agora, em turno único, seu Paulo trabalha até as 14 horas. Ele vai adorar uma boa prosa. E se sentir ainda mais valorizado se todos o chamarem pelo nome.
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