A moradora do Bairro Bom Jesus, Jane Beatriz Fraga, 58 anos, já não é mais surpreendida. Acostumada com os constantes problemas de desabastecimento, deixa em um cantinho da cozinha três galões cheios de água. Assim que percebe a interrupção, recorre a eles para lavar a louça, cozinhar e até escovar os dentes. Nessa terça-feira, 7, não foi diferente. Após uma adutora localizada na Rua da Pedreira romper e deixar pelo menos 12 bairros sem água de forma parcial no início da manhã, lá foi ela usufruir da sua reserva. “Tem períodos em que ficamos sem o serviço uma vez por semana. É um transtorno. Muda toda a rotina: do banho à hora que você decide lavar roupa”, disse. 

Jane: solução é encher galões
Foto: Lula Helfer

O conserto da adutora começou logo após o incidente e o reparo foi concluído às 12h20. Porém, os problemas gerados pelo incidente foram expressivos. Na Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Fátima, localizada no Bairro Margarida, até a merenda da tarde precisou ser substituída. Enquanto no período da manhã os estudantes tiveram massa com molho, à tarde, para não acumular louça suja, o lanche foi bolacha e maçã. “Como a nossa caixa de água reserva foi esvaziada, não tivemos outra opção senão trocar”, disse a cozinheira Daiane Meyer.

Outra queixa da direção, que alega sofrer com falhas no serviço desde o início do ano, são os banheiros. “O cheiro fica insuportável. São 194 alunos que precisam usar o banheiro e a descarga não funciona”, desabafa a vice-diretora Lucineia Gewehr Goettems. A água disponível no bebedouro também fica comprometida. Isso porque quando o serviço é retomado, o líquido vem marrom ou até com areia. “Equipes da Corsan já informaram que isso acontece porque aqui é fim de rede. Mas nos causa prejuízos, já que essas pedrinhas estragam até as torneiras.”

Conforme o gerente da Corsan, Armin Haupt, a região afetada foi extensa, pois a adutora que rompeu tem ligação com um reservatório de 1,5 milhão de litros. Ele garantiu que o desabastecimento nos bairros foi parcial, já que uma rede reserva foi acionada por volta das 9h30. “Além de ser uma rua com fluxo intenso de veículos, pode ter ocorrido alguma falha ou pressão na própria tubulação”, esclarece. Nos bairros afetados – Centro, Higienópolis, Belvedere, João Alves, Margarida, Pedreira, Santuário, Faxinal Menino Deus, Arroio Grande, Schulz, Senai e Dona Carlota –, o abastecimento foi retomado de forma gradual à tarde.

Carro cai em buraco

A cratera aberta no asfalto da Rua da Pedreira após o rompimento da adutora causou até um acidente.  Por volta das 6h45 um Gol caiu no buraco, que ficava bem na frente da sede da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan). O motorista do veículo com placas de Sinimbu alegou que não viu a abertura em razão dela estar coberta por água. Ele não se feriu. Segundo o gerente da Corsan, Armin Haupt, após a conclusão dos reparos equipes usaram pó de brita a fim de compactar o solo. Posteriormente, adicionaram uma nova camada asfáltica.

Buraco não foi percebido pelo motorista pois estava coberto de água
Foto: Maria Regina Eichenberg/Rádio Gazeta AM

Por que a água volta com sujeira?

Moradora do Bairro Margarida há um ano e meio, a autônoma Iraci Knobloch, de 52 anos, é outra que precisou se acostumar com o desabastecimento e também faz reserva de água em garrafas pet. O que mais incomoda ela e o marido Vanderlei Ferreira, entretanto, é a cor da água quando o serviço é normalizado. “Certa vez eu tirei uma foto e fiz até uma postagem no Facebook. A água estava marrom. Uma vergonha”, acrescentou Ferreira. 

O gerente da Corsan, Armin Haupt, acrescenta que isso acontece porque quando há rompimentos, resíduos acabam sendo sugados para a rede. “Depois do conserto, o processo de expurgo leva mais tempo. É bom que os usuários fiquem atentos e deixem a água correr no início.” No caso de a água permanecer suja por mais tempo, Haupt orienta que a população ligue para o 0800 646 6444 e solicite que equipes se desloquem ao local para limpar as impurezas. Ele também afirmou que irá dar uma atenção especial para o caso da Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Fátima.