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Direto da Redação

Ágatha pensa fora da caixa

Achei um livro que promete ser interessante, garimpando nos balaios de saldos da Feira do Livro, domingo passado. O poder de pensar fora da caixa foi escrito por Willian Thorndike Jr., empresário americano que estudou em Harvard e Stanford. Segundo a orelha, a obra traz histórias sobre executivos que solucionaram grandes problemas com ideias não convencionais. Como me interesso por casos de superação e por estratégias de gestão, levei o livro para casa.

Diz o ditado que não se julga um livro pela capa, mas a obra de Thorndike, ao menos na versão brasileira, tem uma capa curiosa. Na estampa há o desenho de um jogo da velha – que reproduzo aqui na coluna – cujo vencedor superou o adversário ao fazer sua jogada fora da caixa que delimita o espaço quadriculado. No caso, uma metáfora que representa a solução que vem de uma medida inovadora, fora do convencional, como sugere o título do livro. 

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Porém, lá em casa a capa do livro gerou polêmica. O Ricardo Jr., que tem 12 anos e canta rap, fez uma acusação severa:
– Isso aqui é trapaça, meu!
Tentei sugerir a minha interpretação. 
– Mas filho… não significa que o jogador foi desonesto… apenas buscou outras possibilidades…
– A regra do jogo da velha é clara. Não se joga fora do espaço marcado!

Enquanto eu buscava argumentos para justificar o aspecto poético e metafórico que vi naquela capa, a Isadora, 8, se intrometeu com um tom que não aceitava contestações.
– Ei! Isso aqui é roubo! 
E a Yasmin, 6, concordou, já com seu característico tom mais ameno e meigo. 
– É verdade. Jogar assim não é justo. 
Encurralado, procurei apoio na caçula, Ágatha, 5. Perguntei o que ela achava. 
– O desenho tem um problema – disse, com ar pensativo. – As bolinhas que o jogador fez para ganhar o jogo são vermelhas, mas as outras bolinhas são pretas, mesma cor do xis. Mas por que o jogador das bolinhas iria trocar de caneta no meio do jogo? 

Dessa discussão toda, tirei algumas conclusões: 
1- Felizmente, tenho filhos honestos, avessos a trapaças. 
2 – Toda metáfora é perigosa, na medida em que suscita as mais diversas interpretações. Não quero crer que os executivos entrevistados por Willian Thorndike tenham sido desonestos, como a capa sugeriu aos exímios atletas do jogo da velha que tenho em casa… terei mesmo que ler o livro para verificar. 
3 – Não é por acaso que a Ágatha é a sensação desta coluna. Ela surpreende com suas sacadas inesperadas, com suas observações sobre detalhes que nos escapam, com suas soluções fora do convencional. Ágatha pensa fora da caixa.

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