Não faz um ano que a santa-mariense Cláudia Ravazi, 45 anos, mudou de rotina para dedicar-se ao esporte. Funcionária pública, intercala a semana entre trabalho, sessões de fisioterapia e, pelo menos, 12 horas de treino. O palco onde ela despende tempo e concentração, e lembra que a cadeira de rodas é apenas um obstáculo, é a cancha de bocha. É nesse espaço de pouco mais de 20 metros que a atleta não só aprimora o condicionamento físico, mas também faz amigos. Muitos dos quais encontrou em Santa Cruz sábado e ontem, na 3ª etapa do Campeonato Gaúcho de Bocha Adaptada em Cadeira de Rodas em Duplas. Promovido pela Associação Santa-Cruzense de Pessoas com Deficiência (Aspede), o evento aconteceu no CTG Lanceiros de Santa Cruz e inaugurou as partidas da modalidade adaptada por aqui.
Foram 20 horas de campeonato, que exigiram muita paciência, noção de distância e força para as centenas de arremessos. Além de Santa Maria, representantes de Lajeado, Novo Hamburgo, Passo Fundo, Porto Alegre, Caxias do Sul e Santa Cruz integraram as jogadas. Apesar de tratar-se de uma competição, Cláudia, uma das bochófilas sobre cadeiras de rodas pioneiras no Estado, não se importou em ter sido desclassificada para a final. Segundo ela, mais do que a vitória, o que importa é o envolvimento com o esporte e as mudanças que ele tem trazido para o seu bem-estar.
“Desde que ingressei na bocha passei a cuidar mais da alimentação e da minha postura. Também sinto melhora no meu condicionamento e ainda posso contar com a família assim, perto de mim”, relata, enquanto aponta para a mãe, o filho e a nora que fizeram questão de acompanhá-la. Não tardou para que o marido Virgílio também aparecesse. “O interessante da bocha é que trata-se de um esporte democrático. Meu filho e meu esposo também jogam. O Virgílio, aliás, virou até árbitro.”
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Cláudia: união da família. Foto: Lula Helfer.
Satisfeita com a viabilização da etapa em Santa Cruz, a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Compede), Tânia Manske, disse que o evento só veio a contribuir para a socialização e mudança de olhar sobre os cadeirantes. Também agradeceu a colaboração da direção do CTG, entidade que se mostrou disposta a executar adaptações como rampa na entrada da cancha acarpetada, retirada de uma porta para ampliar o acesso dos competidores e instalação de guarda-mãos nos banheiros.
OS CLASSIFICADOS
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- 1° lugar: equipe Grenal: Anderson Nunes e Carlos Borges (Passo Fundo)
- 2° lugar: equipe Quebra Bola: Paulo Birk e Carlos Borges (Estrela)
- 3° lugar: equipe ACD: Everaldo Rosa e Amador Melo (Passo Fundo)
Joel Storck: cresce a adesão. Foto: Lula Helfer.
Modalidade conquista mais adeptos no Estado
Presente nos dos dias de etapa em Santa Cruz, o diretor técnico da bocha em cadeira de rodas pela Federação Gaúcha de Bocha, Joel Storck, 49 anos, afirma que é crescente a adesão pelo esporte no Estado. “Em 2015, quando começamos as competições para valer, eram oito atletas. Hoje, contamos com mais de 50 cadeirantes inscritos na competição”, disse. A modalidade bocha em cadeira de rodas difere da bocha paralímpica.
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Segundo Storck, enquanto a primeira usa praticamente a mesma regra da modalidade para andantes (só reduz a pontuação e a forma de jogadas como tiro e a bocha), a segunda utiliza uma bocha menor, com 250 gramas, que pode ser chutada, arremessada, rolada pelo chão ou lançada por calhas com capacetes específicos. A bocha é uma das poucas modalidades que, em competições oficiais, possui times mistos, com homens e mulheres – há disputas em duplas, em equipes ou individuais.