A colheita do arroz no Vale do Rio Pardo está em pleno andamento, com ritmo e boa produtividade. Dados da Cooperativa Agroindustrial Rio Pardo (Coparroz), abrangendo 14 municípios, indicam que já foram colhidas 35% das lavouras plantadas, embora a entidade não tenha dados exatos sobre a área total de cultivo. Os municípios onde o recolhimento do grão está mais adiantado, considerando os associados da Coparroz, são Pantano Grande, onde já atinge 40%, e Rio Pardo, com 30% da área semeada já colhida. Conforme o presidente da Coparroz, Antônio Barbosa Netto Jr., nas duas últimas semanas a atividade está andando rápido devido ao clima propício, inclusive com trabalho à noite.
Na área de abrangência do 5º Núcleo de Assistência Técnica e Extensão Rural (Nate) do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), que abrange Rio Pardo, Pantano, Passo do Sobrado e a parte norte de Encruzilhada do Sul, até a semana passada, 37% das lavouras já tinham sido colhidas. E a produtividade chegava, em média, a 7.800 quilos por hectare. Nesta semana, devido à mobilização dos servidores do Irga por reajuste salarial, os levantamentos de safra não estão sendo feitos.
O chefe do 5º Nate, Ricardo Tatsch, explicou que essa produtividade é normal para as áreas colhidas, pois elas foram semeadas na época recomendada e beneficiadas com um período de maior radiação solar no estágio reprodutivo. Nas próximas áreas que serão coletadas, a tendência é baixar um pouco a média, por serem lavouras semeadas mais tarde e haver muitas áreas com plantas daninhas resistentes, como capim arroz e arroz vermelho. A expectativa é que fique em 7 mil quilos/hectare. Na região do 5º Nate foram plantados 13.460 hectares, e a estimativa é de que a produção total chegue a 95 mil toneladas.
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Queda no preço preocupa
O preço vem caindo muito desde o início da colheita da safra 2016/2017. Os orizicultores recebiam R$ 50,00 pela saca de 50 quilos no final de fevereiro e agora obtêm, em média, R$ 40,00. A queda já preocupa os agricultores, porque o custo de produção foi alto devido à cotação do dólar na hora do plantio. “O produtor terá que colher bem para pagar o custo”, salienta Ricardo Tatsch. Andrade recomenda que eles não vendam arroz por menos de R$ 45,00 a saca.
O produtor Gilberto Rabuske afirma que o cultivo está se tornando inviável. Ele destaca que os agricultores vão sofrer nesta safra porque os preços do arroz e da soja estão em queda. “Muitos não vão conseguir pagar as contas. Temos que produzir cada vez mais para pagar as contas, e a tendência é não sobrar nada para o orizicultor”, salienta. Rabuske plantou o grão em uma área de 125 hectares, arrendada, localizada em Volta Grande, no interior de Rio Pardo.
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Ele iniciou a colheita há duas semanas. Recolheu uma parte e parou porque o restante ainda não estava bem maduro. Sem citar quantidade, conta que a produtividade está abaixo da esperada. “A supersafra de arroz que está sendo divulgada não vai acontecer. O frio que fez em fevereiro e princípio de março, durante a floração, vai prejudicar a produção”, afirma.
De Novo Cabrais a Cruzeiro, produtores colheram a metade
Na área do 27º Nate (Candelária, Novo Cabrais, Cerro Branco, Vale do Sol, Vera Cruz, Santa Cruz, Venâncio Aires e Cruzeiro do Sul), a colheita também está com bom andamento e na semana passava alcançava 8,2% do espaço plantado (17.716 hectares). Atualmente, segundo informações não oficiais, atinge em torno de 50%.
Os produtores estão aproveitando o clima favorável, com poucas chuvas, para fazer a colheita. A produtividade média verificada até a semana passada, conforme o agrônomo José Fernando de Andrade, que atua nesse núcleo, é de 7.820 quilos/hectare. Porém, a tendência também é que a média caia um pouco devido às áreas semeadas mais tarde. Andrade estima que deverá ficar em 6.650 quilos/hectare.
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Clima bom para uns e ruim para outros
João Cléber Caramez
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O clima seco das últimas semanas no Vale do Rio Pardo prejudica algumas culturas agrícolas e auxilia outras. Além da colheita do arroz, a da soja também vem sendo favorecida pela falta de chuva.
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No caso do arroz, a água não é mais necessária e até atrapalha as máquinas. Já para a soja, há duas questões em jogo. O técnico agropecuário Vilson Pitton, da Emater de Santa Cruz do Sul, salienta que o grão com menor umidade facilita a estocagem e reduz processos na armazenagem. Entretanto, conforme o técnico agropecuário Felipe Barbieri, da Emater de Rio Pardo, a umidade está abaixo de 13%, o que provoca a rachadura dos grãos na colheita e perda de produtividade.
O professor Marcelino Hoppe, coordenador da Estação Meteorológica da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), frisa que a média pluviométrica em março foi superior à média de 124,4 milímetros. Os dados apontam 202,2 milímetros no mês, abaixo do ano passado, quando os 388,6 milímetros bateram o recorde histórico. “Dos 202 milímetros, boa parte desse volume foi concentrada nas primeiras duas semanas. Somente no dia 12, foram mais de 100 milímetros.
A última chuva registrada é do dia 17. Ou seja, não chove em Santa Cruz há duas semanas”, detalha. As projeções de consenso apontam para uma condição de neutralidade e tendência de aquecimento das águas do Oceano Pacífico. Com isso, a partir da primavera, poderemos presenciar, mesmo com baixa intensidade, características do fenômeno El Niño, que aumenta a média pluviométrica na Região Sul.
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Enchente
O clima por enquanto está bom, mas a enchente ocorrida há um mês causou alguns prejuízos em lavouras de áreas dos dois núcleos do Irga na região. No 5º Nate, uma área de 700 hectares foi afetada, mas os danos ainda não estão contabilizados. No 27º Núcleo, algumas lavouras ficaram submersas, o que deve causar queda de produtividade. A colheita na região deve se estender até o final de abril e a previsão é de tempo favorável a essa atividade, com pouca chuva.
Pecuária é prejudicada
A falta de chuvas prejudica o desenvolvimento do milho e feijão, semeados após a colheita do tabaco. Também é ruim para os pecuaristas, que já iniciaram o plantio de aveia e azevém, principais opções como pastagem de inverno para os bovinos. O engenheiro agrônomo Josemar Parisi, da Emater de Soledade, ressalta que ainda não é possível estimar perdas com o deficit hídrico.
“Os produtores precisam cuidar a velocidade da máquina para minimizar a quebra dos grãos. Para quem plantou tarde ou já colheu o milho para silagem e está na segunda safra, seria melhor que chovesse nos próximos dias, na fase de floração. A mesma coisa no caso do feijão”, observa. “O plantio de pastagem vai ser intensificado. Para um bom desenvolvimento, é importante que chova até a metade de abril”, completa. n