Pelo segundo ano consecutivo, Santa Cruz do Sul encerrou 2016 com saldo negativo na geração de empregos com carteira assinada. Prejudicados pela recessão econômica nacional, setores como o de serviços e construção civil levaram o município a fechar 485 postos de trabalho no ano passado. Se somada a 2015, a perda já chega a mais de 2,1 mil vagas.
Os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) deixam claro o “efeito dominó” da crise: enquanto em 2015 o câmbio desfavorável abalou o desempenho e a empregabilidade na indústria, em 2016 essa queda na atividade econômica afetou a demanda por bens e serviços, gerando desemprego. O maior tombo foi justamente no setor de serviços, que já acumula mais de 600 vagas fechadas entre 2015 e 2016 no município. Transportadoras, hotéis, restaurantes, imobiliárias e empresas de manutenção e reparação estão entre as que mais demitiram, segundo o Caged.
Conforme o economista Alfredo Meneghetti Neto, a retração na demanda por serviços é uma consequência da queda do PIB, que nos últimos dois anos caiu quase 10%, o que repercute no Estado e nos municípios. “Todos os setores repercutem no setor de serviços, que é justamente o que abrange o maior número de segmentos e é o que mais emprega no País hoje”, observou. O comércio também fechou o ano com saldo negativo, porém menor do que em 2015.
Já a construção civil acumula mais de 250 postos de trabalho fechados e também teve um ano pior em 2016. Segundo o vice-presidente regional do Sinduscon, Carlos Augusto Gerhardt, desde 2015 o setor vem sentindo essa retração.
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Conforme ele, o “boom” de crédito subsidiado gerou uma oferta de imóveis acima da capacidade de absorção do mercado. A acumulação de estoques fez com que as construtoras reduzissem o ritmo de obras nos dois últimos anos, levando à dispensa de trabalhadores. “Foi preciso ajustar. A média de construção em Santa Cruz sempre foi entre 180 e 200 mil metros quadrados por ano. Naquele período, chegou a entre 350 e 400 mil, gerando uma superoferta. Mas não tem mercado nem dinheiro no sistema financeiro para isso”, observou. Ainda de acordo com Gerhardt, esse “ajuste” deve impedir uma reação do setor em 2017.
Na mesma linha, embora acredite que a situação não impactou nos quadros funcionais das administradoras de imóveis, a presidente da Sociedade das Empresas Imobiliárias de Santa Cruz (Seisc), Cátia Reisch, confirma que, no ano passado, houve uma transferência de demanda por compra e venda para uma demanda por locação. Além do aumento da oferta, em razão dos estoques, isso forçou uma queda nos preços dos imóveis, estimada em 15%.
“Está muito difícil”
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Em setembro do ano passado, a estudante de Administração Tainá Karnopp, de 22 anos, foi dispensada de uma escola de idiomas em Santa Cruz, onde atuava como consultora. Durante dez meses, seu trabalho foi entrevistar interessados em ingressar nos cursos. Segundo a jovem, porém, conforme os meses se desenrolavam, ela passou a notar que menos pessoas faziam matrícula. O pretexto da maioria era o mesmo: a crise. “Com os interessados caindo, fui desligada junto com outros funcionários”, recorda.
Mesmo com poucas exigências nas áreas que pretende trabalhar, na hora de procurar emprego ela se depara com muitos na mesma situação. “Está muito difícil. Vários amigos também estão correndo atrás e poucos conseguem”, lamenta. Além de seguir enviando currículos para empresas, ela agora se foca na formação. “Tenho que continuar investindo nos estudos, acho que minhas chances podem aumentar.” (João Pedro Kist)
Expectativa é de um ano melhor
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A boa notícia é que a expectativa para 2017 é de reação na empregabilidade, como consequência da retomada do crescimento econômico. Segundo Alfredo Meneghetti Neto, todas as estimativas apontam para um crescimento do PIB, o que é um bom sinal após três anos de encolhimento. “A inflação cedeu e a taxa de juros caiu significativamente, o que é fundamental para animar os investidores. Então devemos ter, sim, uma retomada”, disse. Com isso, as perspectivas para 2018 são ainda melhores.
Presidente da Associação Comercial e Industrial (ACI), Ario Sabbi também crê em um ano melhor. Segundo ele, porém, isso também depende fortemente da estabilidade política no País.
Indústria
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Principal responsável pela queda no emprego em 2015, o setor industrial obteve um ligeiro saldo positivo em 2016. Os números, porém, mostram que isso foi determinado por um único segmento, o metalúrgico, enquanto os demais sofreram retração – inclusive o fumageiro, que enfrentou a revalorização do real e uma quebra de safra.
No caso da metalurgia, o superavit seria uma recuperação de um grande número de demissões realizadas no fim de 2015, quando o segmento foi prejudicado pela taxa cambial e pelas chuvas no Sudeste, o que afetou a demanda por produtos como cadeiras de praia e piscinas.
Conforme Alfredo Meneghetti Neto, a variação positiva da indústria garantiu um certo equilíbrio no emprego, o que não aconteceu em outros polos econômicos estaduais. É o caso, por exemplo, de Porto Alegre, Caxias do Sul e Canoas, as três maiores economias Estado.
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O QUE DIZ O CAGED
SETOR 2016 2015
Indústria 8 -1.088
Comércio -66 -185
Serviços -344 -286
Construção civil -150 -119
MÊS A MÊS (2016)
Janeiro 88
Fevereiro 1.908
Março 3.066
Abril -233
Maio -302
Junho -1.182
Julho -1.427
Agosto -1.618
Setembro -422
Outubro 121
Novembro 124
Dezembro -608
ANO A ANO
2016 -485
2015 -1.674
2014 1.130
2013 845
2012 1.951
2011 1.612
2010 2.530
2009 2.076
2008 656
2007 -626
NO ESTADO
Município SALDO SALDO
2016 2015
Porto Alegre -16.819 -19.550
Caxias do Sul -6.897 -14.080
Canoas -1.182 -4.451
Rio Grande -5.009 -3.578
N. Hamburgo -1.022 -3.477
Pelotas -1.721 -2.853
Passo Fundo -749 -1.240
Lajeado -450 -801
NA REGIÃO
MUNICÍPIO SALDO SALDO
2016 2015
Rio Pardo 171 -127
Candelária 97 230
Vera Cruz 91 -515
Venâncio Aires -3 -142
Sinimbu -6 28
Vale do Sol -6 -9
Encruzilhada -43 15
do Sul