Foi em tom de otimismo e pregando continuidade de suas políticas que Telmo Kirst (PP) tomou posse ontem para o segundo mandato como prefeito de Santa Cruz do Sul. Em um discurso de cerca de 30 minutos na tribuna da Câmara, diante de todos os vereadores eleitos e de boa parte da comunidade política local, dedicou quase todo o tempo a exaltar os feitos de sua primeira gestão. Apenas ao final ele apontou para os próximos quatro anos, prometendo “moralidade e eficiência no trato do dinheiro público”. “Seremos o mesmo governo”, proclamou. E como se fosse uma sequência do pronunciamento que fez em 1º de janeiro de 2013, o qual terminou dizendo “O trabalho começou”, desta vez concluiu conclamando: “Vamos em frente, o trabalho continua”.
Telmo abriu sua fala afirmando que o primeiro mandato como prefeito foi “o mais difícil” de sua carreira, que inclui uma longa experiência na Câmara dos Deputados e passagens pela Assembleia Legislativa e pelo governo do Estado. Na sequência, lembrou reconhecimentos obtidos recentemente por Santa Cruz, como o salto na relação dos maiores PIBs do Rio Grande do Sul (da oitava para a quinta colocação) e o destaque entre as cidades que mais geraram empregos no País no primeiro semestre do ano.
Depois, passou a falar de projetos executados em seu governo em todas as áreas, afirmando ter mexido em “temas polêmicos” ignorados por outras gestões. Citou a renegociação da dívida com a AES Sul, a assinatura do novo contrato com a Corsan, a conclusão da licitação do transporte urbano e a reforma administrativa da Prefeitura. “Foram R$ 20 milhões poupados só com a extinção dos CCs”, disse.
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Destacou ainda o pagamento do piso dos professores, a inauguração da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) e do Centro Integrado de Segurança, a revitalização do Hospitalzinho, a criação da Associação dos Municípios Produtores de Tabaco (Amprotabaco) e as parcerias com entidades empresariais. Em uma referência direta à vice-prefeita Helena Hermany (PP), elogiou a atuação da Prefeitura na área social. “Aqui ninguém passa fome e ninguém é obrigado a dormir na rua.”
Ao final, dirigiu-se diretamente aos 17 vereadores eleitos – alguns deles, adversários de longa data, como a ex-prefeita Kelly Moraes (PTB), derrotada por Telmo em 2012. Praticamente repetindo um trecho de seu discurso anterior, pediu “apoio” e “espírito público” por parte dos parlamentares.
O QUE DISSE TELMO
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Temas polêmicos e situações emblemáticas, que jamais mereceram a devida atenção em governos passados, foram tratados com rigor, levando o município a uma nova realidade.
Conto com o apoio e elevado espírito público dos vereadores. Sei que todos assumiram com espírito de fazer Santa Cruz crescer.
Nunca tive um projeto de poder, mas um projeto de cidade.
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Estamos na Prefeitura para servi-la, e não para nos servirmos dela.
Pesa-me e muito a responsabilidade que recebi através das urnas e a expectativa da nossa gente.
Filho daqui, criado aqui, com uma vida pública dedicada a essa cidade, vou continuar me esforçando para não decepcionar e honrar o passado de realizações.
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Knak: “Quem sonha, realiza”
Único vereador que discursou na cerimônia, Alex Knak (PMDB) disse, ao subir à tribuna, que aquele era “um dos dias mais felizes” da sua vida. “Me enche de vontade de trabalhar por Santa Cruz”, afirmou. Classificando a própria votação como “histórica” (foram 3,4 mil votos, um dos melhores desempenhos já registrados na Câmara), ele fez agradecimentos à família, aos amigos e ao prefeito Telmo Kirst – pela oportunidade de ter dirigido a Secretaria Municipal de Transportes e Serviços Públicos entre 2013 e 2016, período durante o qual se credenciou para eleger-se ao Legislativo.
Em uma fala rápida, o peemedebista pregou redução da máquina pública, austeridade fiscal, solidariedade entre os poderes e “tolerância zero à corrupção”. Também procurou afastar a pecha de inexperiente. “Chego a essa Casa do povo como um novato, mas esse rótulo não me assusta. Ser estreante me permite sonhar mais. E quem sonha, realiza”, concluiu.
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Alex Knak foi o vereador mais votado
Foto: Rodrigo Assmann
A cerimônia
A cerimônia começou pouco depois das 18 horas e durou cerca de 1h10. Os trabalhos foram presididos por Alex Knak (PMDB), o mais votado entre os vereadores eleitos em 2 de outubro – conforme prevê a Lei Orgânica. Com representantes do Poder Judiciário, Ministério Público, Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados compondo a mesa – além do ex-prefeito Arno Frantz, que representou simbolicamente todos os ex-vereadores e ex-prefeitos, e foi aplaudido de pé quando chamado –, o ato se iniciou com a posse dos 17 parlamentares. Um a um, e sob o som de um clássico da canção erudita (o Bolero, de Maurice Ravel), eles foram chamados ao plenário e depois prestaram individualmente o juramento, no qual se comprometem em “exercer com dedicação e lealdade o mandato” e cumprir a Constituição, a Lei Orgânica e a legislação em vigor.
Depois, foi a vez de Telmo e Helena, que entraram conduzidos por Knak e ao som do Tema da Vitória (conhecido pelas transmissões da Fórmula 1 na televisão). Os dois repetiram o mesmo compromisso de posse.
Além do Hino Nacional (executado no início) e do Hino de Santa Cruz (executado ao final), o plenário também ouviu a execução da música Trem Bala, da cantora Ana Vilela, cuja letra é carregada de significado: “Não é sobre ter todas as pessoas do mundo para si / É sobre saber que em algum lugar alguém zela por ti / É sobre cantar e poder escutar mais do que a própria voz”. A parte musical ficou a cargo da dupla de músicos santa-cruzenses Thiago Nobre e Lívia Luz.
“As urnas mandaram um recado”
Ex-presidente do PT, o vereador Ari Thessing disse que, por enquanto, a aliança inédita do partido com o PP de Telmo Kirst se restringe à Câmara. Alegando que decisões sobre coalizões no Legislativo são “prerrogativas dos vereadores” e admitindo que a eleição da Mesa “aproxima os partidos”, Thessing afirmou que, se houver no futuro um convite do Palacinho para uma composição no governo, a discussão deverá passar pela executiva.
Questionado sobre o apoio interno à aliança, Thessing reconheceu que existem “várias vertentes” e disse que a eleição de diretório, em março, deverá ser decisiva para o futuro do processo. “Tem setores que são a favor, outros são contra e outros são neutros. Mas as urnas mandaram um recado”, afirmou, em referência à ampla vantagem obtida por Telmo em outubro.
“O PSDB não me apoiou”
Ainda que circulasse pela Câmara com um bóton em forma de tucano na lapela do terno, Alceu Crestani aprofundou a crise na sua relação com o PSDB ao votar com a base governista na eleição da Mesa. Ao final da sessão, ele disse que o principal motivo foi a falta de apoio da sigla quando tentou aprovar, enquanto presidente da Câmara no ano passado, um projeto que aumentava o teto de gastos com pessoal – o que afastaria o risco de um apontamento contra ele no Tribunal de Contas. Crestani negou, porém, ser uma retaliação e disse que não vê motivo para ser punido. “Não estou fazendo nada contra o partido. Sou livre aqui e se o partido não me apoiou quando eu mais precisei, não tenho obrigação de votar em um ou outro. Votei em quem merecia.”
SD temia rompimento
Após ter declarado na semana passada que não abriria mão de concorrer a presidente da Câmara, Elo Schneiders alegou ter recuado a pedido da direção do seu partido, o SD, que temia um rompimento com o governo Telmo. “Eu não me elegi apenas com a minha votação. Dependemos de todos os que concorreram, e isso ia prejudicar o partido”, afirmou. Diferente do que havia dito na semana passada, Schneiders admitiu a possibilidade de aceitar o convite do prefeito para ser secretário de Agricultura, e disse esperar que Telmo chame a legenda nos próximos dias para discutir o espaço que terá no primeiro escalão.