Nos mais de dois meses que leva para fazer a secagem de 200 arrobas de tabaco, Aldo Lopes, 60 anos, mantém o olhar sempre atento à temperatura da estufa. O agricultor, morador de Arroio do Couto, no interior de Santa Cruz do Sul, sabe que qualquer descuido pode levar a um incidente. Nesta safra, nos três estados do Sul do País, a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) registrou 174 casos de queima de estufas. O número, embora ainda represente prejuízo aos agricultores, é bem inferior ao do ano passado, quando foram notificadas 550 queimas.
Fumicultor há 36 anos, Lopes acredita que manter a atenção constante e fazer uma verificação na estufa antes de iniciar o processo de secagem são essenciais para evitar esse tipo de caso. Alexandre Paloschi, do setor de Pesquisa e Estatística da Afubra, confirma que em muitos casos as fuligens, que ficam presas nos canos da estufa, podem causar o princípio do incêndio. Além da conscientização dos produtores, o técnico acredita que o fato da safra estar mais uniforme, com menos chuvas no período da colheita, contribui para a redução dos índices.
Quando a colheita é atrasada por conta do clima, alguns produtores tentam acelerar a secagem na estufa, o que pode provocar superaquecimento dos fornos. Na regional de Santa Cruz do Sul, que abrange municípios próximos, nesta safra, conforme a Afubra, foram 34 casos até 24 de dezembro. O levantamento da associação, segundo Paloschi, contempla também estufas destelhadas pelo temporal, índice que foi mais elevado no ano passado, o que também impacta nos números. Ainda assim, mais de 350 casos teriam sido somente de queima de estufas.
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Na propriedade de Lopes, na fase inicial da secagem a temperatura não passa dos 98 graus. Depois disso, o controle segue, sempre elevando a temperatura aos poucos, até completar o processo. “É perigoso. Em dia muito quente, tem que colocar menos lenha e ficar sempre cuidando”. A fornalha não para nem mesmo à noite. “Assim que clareia o dia, a gente já vem ver como está. A perda de uma estufa é muito grande”.
Cuidados
* Não acelere a secagem, elevando a temperatura.
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* Instale telas de proteção, que evitam o contato direto da folha seca com os canos de alumínio.
* A manutenção e limpeza da estufa também são essenciais. Canos furados ou com fuligem podem ser um risco.
* A tecedeira também precisa estar regulada e com linha de boa qualidade, para fazer uma costura firme do fumo.
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Em caso de incêndio
* Feche os suspiros, janelas e portas para abafar o fogo.
* Apague o fogo da fornalha e desligue a rede elétrica.
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* Mantenha as crianças e animais longe do local.
* Acione o socorro pelo 193. Se possível, peça para alguém ficar nas margens da estrada, sinalizando o local para os bombeiros.
Alguns casos
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28 de dezembro – Nessa quarta-feira, em Candelária, houve mais um registro de queima. O fogo iniciou por volta das 10 horas, em uma propriedade de Linha Travessão. Cerca de 510 varas de tabaco foram destruídas pelo fogo, totalizando 70% da produção do agricultor. Os bombeiros se deslocaram até o incêndio, mas quando chegaram as chamas já haviam sido controladas pelos moradores da região.
27 de dezembro – O Corpo de Bombeiros de Vera Cruz foi acionado para atender uma ocorrência no interior de Vale do Sol. Uma estufa, em Pinhal Trombudo, foi atingida pelas chamas. Quando chegaram no local, o fogo já tinha sido contido. Foram queimadas cerca de 600 varas de fumo.
25 de dezembro – Uma estufa foi parcialmente destruída na noite de domingo, em Candelária. O incêndio aconteceu em Linha Boa Vista, no interior. Cerca de 450 varas, com 45 arrobas, foram destruídos.
18 de dezembro – Os bombeiros de Vera Cruz atenderam dois casos de incêndio em estufas de fumo. Em ambos, a perda de tabaco foi total. Um deles foi na localidade de Faxinal de Dentro, interior de Vale do Sol, às onde o fogo consumiu 400 varas de fumo. O segundo, em uma propriedade de Linha Triângulo, em Vera Cruz, teve 500 varas de tabaco queimadas.
15 dezembro – Cerca de 550 varas de tabaco foram destruídos no interior de Passa Sete. O incêndio aconteceu na localidade de Serra Velha. A estufa ficou totalmente destruída.
8 de dezembro – O Corpo de Bombeiros de Venâncio Aires atendeu, por volta das 18h30min, uma queima de estufa de tabaco. O sinistro foi em uma propriedade em Linha Hansel. O fogo consumiu totalmente o forno, onde estavam secando cerca de 480 varas de fumo.
7 de dezembro – Uma estufa com 525 varas, equivalente a 70 arrobas, foi consumida pelo fogo em Candelária. O incêndio aconteceu em Sesmaria do Cerro. Houve perda total do tabaco e da estufa. Os bombeiros de Candelária foram acionados e 1,2 mil litros de água foram usados no combate às chamas.