Foi por volta das 11 horas do último sábado que as compras para a ceia de Natal começaram a chegar no circo Rakmer, montado dentro do Parque da Oktoberfest, em Santa Cruz do Sul. Com três apresentações marcadas ao longo do dia, a trupe se organizou, cada um em seu trailer, para aprontar os pratos que, mais tarde, seriam servidos em uma grande mesa coletiva aos 58 artistas da equipe. O calor, típico deste período do ano, fez com que o espetáculo das 15h30, o primeiro do dia, fosse cancelado. Enquanto os adultos se aprontavam para o próximo, às 18 horas, as crianças já cochichavam sobre uma tal visita do Papai Noel, que aconteceria logo mais à noite.
Se a vida no circo já soa como uma aventura, cheia de peculiaridades, o Natal passado dentro do picadeiro é ainda mais especial. Não é que a celebração seja diferente daquela que fazemos em casa, com chester, uva passa e panetone, mas é que, no circo, todos os anos a comemoração ocorre em uma cidade diferente. O gerente do Rakmer, Jonas Santos, conta que no ano passado a ceia foi em Santo Ângelo das Missões. Em 2014 foi em Francisco Beltrão, no Paraná. A lista tem cidades a perder de vista.
De Santa Cruz, o artista só tem elogios. “É raro conseguirmos manter as apresentações durante este período do ano, mas aqui é um lugar culturalmente evoluído e até mesmo hoje estamos recebendo público”, comentou. Com partida programada para ontem, o espetáculo completou cinco semanas no município.
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João Vitor, de apenas 4 anos, nasceu no circo, em Minas Gerais. Filho de Gilson Lima e Fátima Souza, ela de Teresina, no Piauí, e ele de Belém, no Pará, o pequeno passou o dia da véspera jogando videogame com outras crianças, algumas vindas com suas famílias de um circo que está em São Paulo, para celebrar a data. Quando questionado sobre o que havia pedido ao Papai Noel, a resposta foi rápida – e um tanto confusa – para a repórter: “Pedi um Lego carro rali”, disparou. Depois de explicar que se tratava de um brinquedo de montar, com bonecos e carrinhos, João falou sobre sua parte predileta do Natal: o pinheirinho.
Para o jantar, Fátima se encarregou de fazer três sobremesas: um doce de coco, um pavê de chocolate e outro de Bis. Ela é malabarista em um número junto com Gilson e também contorcionista – a outra especialidade de Gilson é o trapézio. Assim como o filho, ela nasceu no circo.
Gilson foi apresentado à arte circense por meio de uma escola nessa área, quando tinha 16 anos. Hoje eles estão há 15 anos na estrada e já passaram por mais de dez circos diferentes. A maior alegria, para os dois, é poder viver uma vida sem mesmices, longe de rotinas e horários rígidos. Apesar disso, os dias também seguem um cronograma, embora mais flexível, que se divide entre os palcos, o treino e a rotina familiar.
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Em breve, João também deve começar a treinar, já que está na idade de iniciação às atividades. Sobre o que vai escolher, ainda não sabe. “Vamos ensinar tudo, preparar o corpinho dele e, com o treino e conforme ele for se identificando, vai escolher o próprio caminho”, explicaram.
Gilson e João Vitor observam a preparação de Fátima: em breve, o menino deve começar a treinar
Foto: Rodrigo Assmann
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Após a última apresentação da noite, chega a hora da ceia
A última apresentação da noite da véspera de Natal terminou por volta das 22 horas. Após, os artistas tiraram suas maquiagens e roupas coloridas e foram se aproximando da mesa posta ao ar livre, trazendo os pratos que haviam preparado para a celebração. No cardápio, o churrasco assado na churrasqueira portátil, acompanhamentos e as sobremesas de Fátima.
Para os pequenos, a chegada do Papai Noel se concretizou, com o Bom Velhinho acompanhado de uma ajudante, trazendo os brinquedos encomendados por cada um. Em meio às mudanças constantes, essa é uma das tradições que o Rakmer tenta manter. Sobre o destino no próximo Natal, os artistas ainda não fazem ideia de onde estarão, mas sabem que permanecerão juntos, comemorando como a grande família que são.
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Chegada do Noel trouxe euforia aos pequenos futuros artistas
Foto: Divulgação/GS