Ele não precisou ver algum conhecido enfrentar o câncer para tomar uma importante decisão. Os relatos de reportagens, as histórias dos filmes ou até as campanhas que viu circular pela internet bastaram para sensibilizar o pequeno santa-cruzense Erik Alejandro de Andrade a fazer o bem. Faz quase dois anos que o jovem, por iniciativa própria, suspendeu as idas ao cabeleireiro. Nem uma aparadinha nas pontas vale. Aos 12 anos, o garoto é cabeludo mesmo. Mas não por influência dos grandes astros do rock. A defesa é pela autoestima de quem enfrenta o câncer e sente os efeitos de um tratamento que, muitas vezes, deixa vestígios na aparência.
Para isso, o estudante do 7° ano planeja doar as suas longas madeixas encaracoladas assim que alcançarem a altura da cintura. “Acho que ainda vai mais um ano”, garante. Tudo com o objetivo de fazer com que os fios sejam aproveitados para, no mínimo, duas perucas. “Sei que é uma doença grave e que pode até matar. Me sinto bem ao imaginar que posso ajudar algum desses pacientes que fazem quimioterapia”. E a mãe, Rosinei Guedes, toda boba, transborda orgulho no olhar.
Erik é mesmo um garoto especial. E para chegar a essa conclusão, não é preciso muito esforço. Em plena pré-adolescência, o garoto não se importa, por exemplo, com os apelidos que recebe. “No início eu ficava chateado, mas agora nem dou bola. Já me chamaram de menina e o mais recente foi Jesus”. Nada disso, entretanto, faz este solidário abortar a missão. Pelo contrário, a determinação em cuidar das madeixas é tanta que, agora, toda a família aderiu à moda cabelão. “Eu também vou deixar os meus cachos crescerem. Acho até que vamos cortar no mesmo dia”, conta Rosinei. Os irmãos Pablo, 17, e Jenifer, 21, que também mantêm as mechas compridas, devem seguir o mesmo exemplo. Sortudo é de quem ganhar uma peruca com os fios do garoto. Vai dizer que não dá uma invejinha boa desse cabelão?
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Também quero doar. E agora?
Os santa-cruzenses interessados em doar mechas de cabelo podem levá-las ao banco de perucas do Centro de Oncologia Integrado (COI) do Ana Nery, até o fim do ano. Depois disso, conforme a coordenadora, Roberta Rauber, a orientação é que encaminhem para a ONG Cabelaço, de Porto Alegre. A única exigência para realizar a doação é que os fios tenham, no mínimo, 15 centímetros, estejam secos e amarrados. Não há restrições a cabelos tingidos. Ambas as entidades também aceitam perucas já confeccionadas. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail [email protected] ou mesmo pelo Facebook ONG Cabelaço. Atualmente o Ana Nery empresta o total de 109 perucas para os pacientes em tratamento. Para ter acesso ao banco, é preciso assinar um termo de compromisso.
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Além de solidário, Erik é um bom irmão e comenta games
Aluno da Escola Gaspar Bartholomay, Erik gosta de matemática, manda bem no inglês e já recebeu até prêmio estadual de melhor redação do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd). Um dos seus sonhos é cursar Engenharia Civil, mas sem mudanças para outra cidade. Ele quer ficar pertinho da família. E a família bem pertinho dele. Isso se deve ao seu empenho para interagir com o irmão autista, Pablo, e com a irmã surda, Jenifer.
Tanto que, pelo menos duas vezes por semana, acompanha o mano em projetos de natação e ginástica. “É fundamental que o Erik acompanhe o irmão nessas atividades. Sem ele, o Pablo pouco interage”, acrescenta a mãe. No intervalo da escola, o jovem também se sente responsável pelo irmão, mas entende que é preciso impor limites para não fazer desta, uma relação dependente. “Eu fico cuidando ele no recreio. Se está sozinho, vou lá e interajo. Senão, deixo que ele fique com os colegas”.
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Já para estreitar ainda mais a relação com a irmã ‘Jen’, ele estuda a língua de sinais. No tempo livre, assiste séries com a mãe, joga basquete e também publica vídeos no próprio canal no Youtube, Alta Gamer. Na plataforma, com mais de 400 seguidores, ele produz materiais em que comenta sobre jogos para Android.
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