Com início ainda na sexta-feira, a paralisação parcial dos servidores da segurança pública vai seguir durante a semana em todo o Rio Grande do Sul. Motivado pelo parcelamento de salários que já impactou oito meses o bolso dos servidores, o movimento reivindica não só o pagamento integral da folha, mas a contratação de novos funcionários. Em Santa Cruz do Sul, membros do Sindicato dos Escrivães, Inspetores e Investigadores de Polícia (Ugeirm) e da Associação Beneficente Antonio Mendes Filho da Brigada Militar (Abamf) já sinalizaram que também vão dar sequência à paralisação. A expectativa é de que o serviço completo só seja retomado quando houver algum posicionamento favorável do governo.
Brito: ocorrências restringidas
Foto: Rodrigo Assmann
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Conforme o representante da Ugeirm em Santa Cruz, Orlando Brito de Campos Júnior, a chamada operação-padrão vai suspender o registro de ocorrências policiais não criminais, como a perda de documentos, desacordos comerciais, acidentes de trânsitos com danos materiais, entre outros. Boletins de casos de violência contra crianças e adolescentes, violência doméstica e situações de flagrante, entre outras ocorrências mais graves, seguem sendo registrados normalmente. “No início a nossa ideia era realizar paralisação completa, porém entendemos por bem não trazer mais esse ônus para a população, já que a situação está complicada para todo mundo”, explica. Operações policiais fora do horário de expediente – das 8h30 às 18 horas – também serão interrompidas.
Na opinião de Brito, que trabalha como inspetor policial há 15 anos, não há um consenso entre o que o governo alega e os números apresentados pelo Portal da Transparência. “O Sartori diz que falta dinheiro para pagar os servidores. Sabemos, porém, que o valor de arrecadação com impostos superam os R$ 2 bilhões e que a folha custa pouco mais R$ 950 milhões. Ou seja, o problema é a falta de uma gestão competente”, complementa.
Outra entidade que já demonstrou interesse em seguir com a paralisação é a Abamf. Conforme o representante regional, João Kroth, os brigadianos só serão orientados a sair para as ruas se estiverem munidos de bons equipamentos. “Tudo está sucateado. As viaturas estão precárias, os coletes, muitas vezes, vencidos e o armamento também deixa a desejar. Não há motivação para trabalhar”, explica. Para Kroth, a situação só tem condições de melhorar se houver maior investimento na segurança pública, como contratações e compra de novos equipamentos. “Faz tempo que estamos fazendo o ‘impossível do impossível’”, desabafa.
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Além da falta de recursos para executar os serviços diários, Kroth acrescenta que o parcelamento de salários está tirando o sono dos brigadianos. “É comum nos depararamos com situações de colegas que estão tendo que fazer empréstimos para pagar as contas. Isso é uma palhaçada”, finaliza.
O Bloco da Segurança Pública afirma que a operação-padrão deverá ser mantida até a integralização do salário.
Na quinta, orientação é não sair de casa
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Em represália ao anúncio do novo parcelamento de salário dos servidores, sindicatos dos funcionários da segurança pública vão organizar uma paralisação com ainda mais adesão nesta quinta-feira. Em comunicado enviado à imprensa, o grupo, que abrange servidores da Polícia Civil, Brigada Militar, Instituto Geral de Perícias (IGP), Bombeiros e Susepe, pede à população que evite sair de casa no dia indicado. “Chamamos a atenção da sociedade gaúcha para que durante esse dia evite sair às ruas, abrir o comércio, levar seus filhos à escola, bem como orientamos a suspensão do transporte público, frente à absoluta falta de segurança que deverá imperar nesse dia”, informa a nota. Em Santa Cruz do Sul, o Sindicato dos Escrivães, Inspetores e Investigadores de Polícia (Ugeirm) e a Associação Beneficente Antonio Mendes Filho da Brigada Militar (Abamf) já declararam que irão aderir ao movimento. “Ainda vamos fazer uma reunião para decidir quais outros serviços serão restringidos, mas já podemos adiantar que algumas ocorrências criminais não serão executadas na quinta”, explica o representante da Ugeirm, Orlando Brito. A mobilização terá duração de 15 horas e ocorre das 6 às 21 horas. O representante regional da Abamf, João Kroth, pede que a população tenha paciência e compreenda os protestos. “A criminalidade aumenta a cada dia e não recebemos o incentivo necessário para reforçar a segurança. Este é um ato que precisa acontecer. São os direitos de quem trabalha para proteger a sociedade”, finaliza Kroth.
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